Combater o extremismo violento exige que os militares partilhem o que sabem e coordenem as acções com os seus aliados.
Esta foi uma das conclusões da Conferência dos Directores de Inteligência Militar de 2023 em Luanda, Angola, no final de Abril. O evento foi organizado pelo Serviço de Inteligência e Segurança Militar de Angola e pelo Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM).
A conferência ofereceu uma plataforma para os líderes dos serviços de informações militares desenvolverem soluções para os desafios partilhados pelas nações africanas, onde grupos extremistas como o al-Shabaab, o Ansaroul Islam, o Boko Haram, o Estado Islâmico e o Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen estão a tentar expandir o seu alcance.
“Sozinhos, estamos condenados ao fracasso,” disse o General João Pereira Massano, director do Serviço de Inteligência e Segurança Militar de Angola.“Se pretendemos vencer, temos de cooperar, estar unidos, ser tecnicamente capazes e, com a precisão certa, seremos bem-sucedidos.”
Massano acrescentou que os líderes da inteligência militar têm a “responsabilidade estratégica” de ajudar no planeamento e nas decisões dos líderes políticos. Defendeu também o reforço das parcerias e soluções inovadoras para que os Estados possam ultrapassar os desafios que os serviços de inteligência enfrentam.
A conferência foi oportuna, uma vez que a violência extremista no continente atingiu um ponto de ebulição. Em 2021, quase metade de todas as mortes relacionadas com o terrorismo global ocorreram na África Subsaariana, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Em áreas com fraca segurança, as organizações terroristas assumem o controlo das principais rotas comerciais, aplicam uma justiça brutal, cobram impostos às empresas locais e cometem raptos para obter resgate. Um número crescente de jovens desempregados está a juntar-se às suas fileiras.
Massano sublinhou os resultados positivos da cooperação internacional e dos esforços diplomáticos contra o terrorismo na província moçambicana de Cabo Delgado, onde as operações militares internacionais ajudaram a recuperar áreas-chave dos insurgentes, incluindo a cidade portuária de Mocímboa da Praia.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, os esforços para combater as organizações extremistas e terroristas no continente têm vacilado. Os analistas dizem que a presença do Grupo Wagner, de mercenários russos, em África, desestabilizou ainda muitas mais áreas. O grupo é acusado de pilhar recursos naturais e cometer abusos de direitos humanos, o que leva alguns civis a estarem do lado de grupos terroristas.
Como observou Massano, a guerra da Rússia gera perdas nas economias mundiais, especialmente nas emergentes, que são forçadas a reprogramar os seus planos de desenvolvimento nacional.
A Brigadeira-General Rose Keravuori, directora-adjunta dos serviços de inteligência do AFRICOM, afirmou que a luta contra o extremismo exige um equilíbrio entre diplomacia, cooperação e força.
“Os militares sozinhos não conseguem alcançar a paz,” disse Keravuori.
Keravuori também sublinhou a importância de reforçar a partilha de informações entre os líderes dos serviços de inteligência para melhor enfrentar as ameaças globais, acrescentando que a África tem um papel central como uma “enorme força geopolítica.”
Keravuori defendeu uma maior representação das nações africanas nos organismos mundiais.
“Estão a ser envidados esforços no sentido de reformar o actual quadro do sistema global para que as nações africanas tenham finalmente um lugar à mesa das decisões, para que as vozes africanas sejam ouvidas em instituições multilaterais globais influentes, como o Banco Mundial e o FMI [Fundo Monetário Internacional],” afirmou Keravuori. “Os EUA apoiam a atribuição de um lugar permanente da União Africana no Conselho de Segurança da ONU e a inclusão de África no G-20.”