EQUIPA DA ADF
A decisão da África do Sul de suspender o uso da vacina da AstraZeneca contra a COVID-19 suscitou dúvidas pelo mundo sobre a eficácia de uma vacina contra o coronavírus.
As autoridades de saúde pública estão a apelar a população a manter-se informada e evitar a tentação de tirar conclusões precipitadas.
“Sabemos que as decisões da população de receber a vacina são influenciadas pelas perguntas sobre a segurança da vacina e pelas perguntas sobre a eficácia da vacina,” Agnus Thomson, cientista social sénior do UNICEF, disse à CNN, depois de a África do Sul ter interrompido as vacinações da AstraZeneca, em Fevereiro. “Então, esperamos que iremos ver comunicações regulares, muito claras e nítidas por parte das autoridades sul-africanas para tentar manter aquela confiança no programa.”
O UNICEF está a ajudar na distribuição de vacinas em África, através da facilidade internacional COVAX. A maioria daquelas vacinas é proveniente da AstraZeneca.
O ensaio original da AstraZeneca demonstra que a vacina possui 75% de eficácia na prevenção da infecção pela COVID-19. Os mais recentes ensaios, realizados no Chile, Peru e nos Estados Unidos, aumentaram esta taxa para 79%, significando que aproximadamente oito, entre 10 pessoas que tomarem a vacina, estariam protegidas contra o vírus.
Na África do Sul, contudo, um pequeno estudo envolvendo 1.700 jovens, pessoas saudáveis, demonstrou que a AstraZeneca tinha eficácia limitada contra casos leves a moderados da variante N501Y.V2 que circula na África do Sul. Aqueles resultados desencadearam uma onda de preocupações quanto à vacina.
A directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, Dra. Matshidiso Moeti, disse que a preocupação não deve impedir que as pessoas aceitem a vacina, independentemente de a variante estar a circular nos seus países. Ela disse à CNN que o estudo sul-africano foi muito pequeno para fazer afirmações abrangentes sobre a eficiência da vacina. Também deixou de fora pessoas mais idosas, que são as mais propensas a ter infecções mais graves. O estudo mais recente incluiu participantes com 60 anos de idade ou mais.
No Twitter, o pesquisador de doenças contagiosas, Muge Cevik, da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido, reiterou aquela avaliação:
“Este foi um estudo de pequenas dimensões, por isso, não pode responder à pergunta da eficácia com confiança, e a protecção contra doenças graves é actualmente desconhecida, mas provável,” escreveu Cevik.
Todas as vacinas diferem na sua eficácia contra a COVID-19, com base na sua fórmula, o regime da sua dose e o seu sucesso contra as variantes.
No mínimo, contudo, cada vacina deve provar ter pelo menos 50% de eficácia para receber a aprovação da OMS e do Africa CDC. Isso significa que pelo menos a metade dos que recebem a vacina deve continuar livre da COVID-19 quando comparada aos que ainda não tiveram nenhuma vacina.
Estudos mostraram que as vacinas com uma baixa taxa de eficácia ainda assim reduzem os sintomas da COVID-19, fazendo com que haja poucas hospitalizações. Até agora, ninguém de entre os que foram vacinados morreu de COVID-19, de acordo com Moeti.
As palavras eficiência e eficácia, muitas vezes, são utilizadas indiscriminadamente para descrever até que ponto uma vacina resulta. Elas são semelhantes, mas não são a mesma coisa: A eficácia tem a ver com o desempenho da vacina no laboratório. A eficiência considera o efeito de uma vacina no mundo real, onde qualquer coisa, desde questões relacionadas com a saúde até ao transporte, pode reduzir os resultados.
Por exemplo, a vacina da Moderna requer a aplicação em duas doses num intervalo de 28 para ter eficiência total. Quando uma pessoa recebe a primeira dose, mas perde a segunda, a vacina será menos eficiente. As autoridades de saúde africanas exerceram pressão para receberem vacinas de dose única, como a da AstraZeneca ou Johnson & Johnson, para evitar esse problema em zonas onde o transporte pode ser difícil.
A África do Sul vendeu 723.000 doses da AstraZeneca para a Equipa de Aquisição da Vacina da União Africana, que está a distribui-las a nove países onde a variante N501Y.V2 não é prevalecente. A maior parte dos países está na África Ocidental, onde a variante N501.V1 foi mais comum.
No dia 22 de Março, a Directora-Geral Adjunta da OMS, Mariangela Simão, disse que nenhum país africano se recusou a vacinar com a AstraZeneca.
Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, apelou aos países para rastrear as variantes N501Y.V2 e N501Y.V1 entre as suas populações para garantir que as vacinas que estão a utilizar continuem a ser eficientes.
Thompson, do UNICEF, disse à CNN que as autoridades de saúde pública precisam de comunicar de forma clara com os seus cidadãos sobre os progressos contra a COVID-19 para colmatar a desinformação e a falta de confiança quanto às vacinas.
“Sabemos que a desinformação se alimenta da falta de confiança, ansiedade e incerteza, e estas certamente abundam neste momento,” disse Thomson.