EQUIPA DA ADF
Especialistas africanos em saúde pública estão a observar atentamente o aumento do número de casos de COVID-19 na Índia com a preocupação de que a África pode enfrentar um destino semelhante se as taxas de vacinação não aumentarem.
“Aqui no continente africano existe um potencial para o aumento do número de casos,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse recentemente durante uma conferência de imprensa. “O que está a acontecer na Índia não deve acontecer aqui.”
Há poucas semanas, a Índia experimentou uma enorme onda de infecções e mortes pela COVID-19, que colapsou o sistema nacional de saúde e fez com que as piras funerárias ficassem permanentemente em chamas, de dia e de noite. A onda está associada à nova variante da COVID-19 — B.1.617 — que já começou a aparecer em África, com relatos de ter ocorrido em Quénia, Marrocos e Uganda.
Como resultado do surto, a Índia interrompeu a exportação das vacinas. O Instituto Sérum da Índia foi a fonte primária de fornecimento de vacinas para a facilidade internacional COVAX, que providenciou vacinas para mais de 40 países africanos.
A interrupção das exportações da Índia custou aos países africanos mais de 140 milhões de doses da vacina desde Março, de acordo com Thabani Maphosa, director-geral do programa nacional na Gavi, a Aliança das Vacinas.
Maphosa disse que está a entrar em contacto com outros produtores da vacina para preencher a lacuna. Alguns países também começaram a fazer doações de doses adicionais aos países africanos para poderem compensar a escassez.
“Com os atrasos e as carências no fornecimento da vacina, os países africanos estão a ficar cada vez mais atrás em relação ao resto do mundo na implementação da vacina contra a COVID-19,” disse Moeti.
Pelo menos 10 países estão a experimentar um aumento no número de casos de COVID-19. Na Etiópia e no Botswana, as capacidades das unidades de cuidados intensivos estão a ser pressionadas ao máximo dos seus limites. Ela apelou aos países a aumentarem as capacidades das unidades de cuidados intensivos e das clínicas.
“Isso terá benefícios em relação à COVID-19 e outras doenças que ameaçam as nossas vidas,” disse.
Até há bem pouco tempo, África representava 2% das vacinações administradas no mundo inteiro. Agora, o continente reduziu para 1%, de acordo com o Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
No início de Maio, os países africanos registaram 4,5 milhões de casos de COVID-19 e mais de 123.000 mortes. A taxa de mortalidade dos casos do continente de 2,7% está acima da média global de 2,1%.
Enquanto o Inverno se aproxima na África do Sul, as autoridades de saúde pública estão preocupadas que uma outra onda de infecções e de mortes possa estar no horizonte. África do Sul, o país com a maior concentração de casos de COVID-19 do continente, representa um quinto dos 65.000 novos casos registados em África durante a primeira semana de Maio.
Até ao dia 4 de Maio, os países africanos tinham recebido mais de 37,6 milhões de doses de vacinas e administrado cerca da metade delas. Isso cobriu apenas pouco mais de 1% da população.
Em termos gerais, África possui a menor taxa de vacinações em relação a qualquer outra região do mundo, disse Moeti.
As taxas de vacinação variam amplamente pelo continente, de 11,7% em Marrocos para menos de 0,25% no Egipto. Alguns países, como a Nigéria, utilizaram menos de um terço das vacinas que lhes foram disponibilizadas pela COVAX e outros grupos.
Enquanto as vacinas ficam sem ser usadas, algumas doses estão a atingir o seu prazo de validade, fazendo com que alguns países, como a África do Sul e o Malawi, pensem em destruí-las, apesar das autoridades de saúde pública apelarem para não fazer isso.
Moeti apelou os países a priorizarem as vacinas para pessoas com alto risco de morrerem por causa da COVID-19.
“Precisamos de fazer com que as vacinas disponíveis cheguem rapidamente aos braços das pessoas,” disse Moeti.