EQUIPA DA ADF
Ao confrontar futuras vagas da COVID-19, os decisores políticos enfrentam uma pergunta difícil: até que ponto os confinamentos obrigatórios devem ser restritivos?
Depois de dois anos de pandemia, com níveis de imunidade a aumentarem lentamente juntamente com a fadiga, a resposta pode ser “não muito.” Os líderes africanos distanciaram-se dos confinamentos obrigatórios rigorosos enquanto reconstroem as suas economias e confrontam a resistência de seus cidadãos.
Na África do Sul, por exemplo, o presidente Cyril Ramaphosa baixou o nível de restrições da pandemia daquele país para o Nível 1 em Outubro, aliviando as regras sobre os aglomerados e a venda de bebidas alcoólicas, mantendo o uso obrigatório de máscaras como protecção contra a propagação do vírus.
O epidemiologista sul-africano Salim Abdool Karim disse que os países devem ser cautelosos ao aliviar as restrições enquanto a pandemia ainda está activa e a os níveis de imunidade continuam baixos.
“Vários países estão a levantar todas as restrições,” disse Karim ao site de notícias, The South African. “Isso é reforçar a perspectiva que indica que a COVID-19 está a terminar. Eu não sei, e ninguém sabe quando a pandemia irá terminar.”
Alguns países africanos ganharam elogios no início da pandemia por encerrarem rapidamente as suas fronteiras e colocarem as suas populações em confinamentos obrigatórios para prevenir a propagação da COVID-19. Os confinamentos obrigatórios também foram impostos para evitar a superlotação do sistema de prestação de cuidados de saúde do continente, que na altura não tinham camas para os cuidados intensivos, oxigénio hospitalar nem mesmo equipamento de protecção individual suficiente para lidar com uma doença generalizada.
Aqueles confinamentos obrigatórios iniciais não foram todos idênticos. Quénia, Uganda e África do Sul impuseram algumas das restrições mais rigorosas do continente. Outros, como Benin, Zâmbia e Gana, tiveram confinamentos obrigatórios mais ligeiros, em termos gerais, temendo que as restrições mais rigorosas pudessem causar carências de produtos alimentares.
“No estágio inicial, esta medida pareceu estar a aumentar a consciencialização sobre o vírus e a subsequente minimização do aumento exponencial de número de casos,” investigador Aishat Jumoke Alaran escreveu recentemente na revista Tropical Medicine and Health.
Contudo, os confinamentos obrigatórios criaram consequências extremas para os sistemas de saúde, para a economia e para a população, observou Alaran. Em Pretória, África do Sul, os confinamentos obrigatórios resultaram em roubo, perpetrado por vândalos, de cabos eléctricos, carris de metal e outras partes do sistema de ferroviário do metro da cidade quando estava tudo paralisado.
A pobreza absoluta aumentou em 65% durante o confinamento obrigatório total, colocando aproximadamente 10% dos africanos na pobreza extrema, de acordo com um estudo feito por Celine Zipfel, na Escola de Ciências Económicas e Políticas de Londres.
Estas consequências levaram a uma infelicidade generalizada, investigadora Stephanie Rossouw disse à ADF. Rossouw examinou o nível de felicidade na África do Sul durante o confinamento, analisando mais de 65.000 publicações no Twitter. Ela diz que estuda a felicidade, porque esta influencia comportamentos e factores como a produtividade económica.
“A economia sul-africana não pode sobreviver um outro confinamento obrigatório nacional,” disse Rossouw à ADF. “Personalizar a sua resposta seria o mais adequado para proteger as comunidades vulneráveis.”
A avaliação de Rossouw está em linha com os especialistas em matéria de saúde pública de África.
Cerca de um ano depois do início da pandemia, o Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, posicionou-se contra os encerramentos de fronteiras, apelando os países para aumentarem a testagem como uma forma de permanecerem adiantados em relação aos surtos do vírus enquanto permitem que as actividades económicas continuem.
O escritório regional da Organização Mundial de Saúde para África promoveu campanhas generalizadas de testagem ao nível das comunidades, tratamentos de prevenção e confinamentos obrigatórios semelhantes àqueles realizados durante o surto do Ébola de 2014 a 2016, como um método para interromper os surtos da COVID-19 quando eles surgissem.
“O que nos resta agora é uma questão de usar máscaras quando saímos de casa,” Ministro de Saúde da África do Sul, Joe Phaahla, disse à eNCA. As autoridades sanitárias da África do Sul ainda encorajam a lavagem das mãos, o distanciamento social e a limitação do número de aglomerados sociais para reduzir a propagação da COVID-19.
Embora a mais recente vaga impulsionada pela variante Ómicron tenha, em termos gerais, passado, África do Sul ainda regista cerca de 2.000 infecções por dia, disse Phaahla.
Com uma outra provável vaga, uma abordagem que elimina todas as restrições significa apagar todo o sucesso que o país já teve contra o vírus até agora, acrescentou.
“Precisamos de equilibrar a fadiga entre a população com o risco de simplesmente acordarmos e baixarmos tudo, podemos reverter todos os ganhos de contenção que já conseguimos até agora,” disse Phaahla.