EQUIPA DA ADF
Depois de resistir a quatro vagas de infecções pela COVID-19, os países africanos estão a procurar levar as lições aprendidas e utilizá-las para preparar os sistemas de saúde do futuro.
“Enquanto continuarmos vigilantes e agirmos de forma intensa, o continente está no bom caminho para controlar a pandemia,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, disse numa recente conferência de imprensa.
Até meados de Março, Africa tinha registado mais de 11 milhões de casos de COVID-19 e mais de 250.000 mortes. Contudo, devido à falta de testagem e vigilância, os estudos sugerem que o real número de casos pode ser cerca de seis vezes maior e o de mortes pode ser três vezes maior.
Moeti e outros especialistas em matérias de saúde pública afirmam que a testagem e a vigilância irão desempenhar um papel fundamental para rastrear futuros surtos de COVID-19 e responder a eles de forma rápida e eficaz. Ela comparou esta estratégia com o método da OMS para responder aos surtos do Ébola, realizando testes nas proximidades imediatas de um surto, isolando aqueles que testarem positivo e tratando aqueles que tiverem sido expostos.
A OMS e o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) promoveram programas para distribuir testes rápidos à base de antigénios para trabalhadores comunitários de saúde a nível de todo o continente como forma de melhorar a taxa de testagem de África.
“Penso que agora já sabemos o que funciona para a prevenção e o que as pessoas devem fazer,” Albert Tuyishime, director de prevenção e controlo de doenças no Ministério de Saúde do Ruanda, disse à Nature Medicine. “Estamos a manter a nossa vigilância ao mesmo nível quanto ao que tínhamos quando estávamos no pico das vagas anteriores.”
Graças a mais de 15 bilhões de dólares investidos na luta contra a COVID-19 em África, os países de todo o continente acrescentaram camas dos cuidados intensivos, fornecimentos de oxigénio médico e equipamento de protecção.
O fornecimento de camas de unidades de cuidados intensivos (UCI) em África aumentou de 8 por cada um milhão de residentes para 20 por cada um milhão. Os laboratórios capazes de testar a COVID-19 aumentaram de dois para mais de 900 nos últimos dois anos, disse Moeti.
Os países africanos devem continuar a investir no fortalecimento dos seus sistemas de saúde, Ministro de Saúde do Ruanda, Dr. Daniel Ngamije, disse durante a conferência de imprensa de Moeti.
O Ruanda ganhou elogios a nível internacional por expandir o seu sistema de saúde, acrescentando mais UCIs, construindo mais unidades de produção de oxigénio e desenvolvendo uma enfermaria de isolamentos móvel que pode ser utilizada para surtos localizados.
O país também investiu no fabrico local de equipamento de protecção individual, como batas e máscaras, acrescentou Ngamije.
A África do Sul utilizou as suas lições da pandemia para começar a construir um sistema nacional de saúde, de acordo com Sandile Buthelezi, director-geral do Departamento Nacional de Saúde da África do Sul.
O presidente senegalês, Macky Sall, actual presidente da União Africana (UA), apelou para que o continente se tornasse auto-suficiente em termos de fármacos e equipamento médico. Antes da pandemia, África importava 99% dos seus tratamentos de imunização e uma grande maioria de equipamento de protecção assim como outro equipamento — um factor que deixou os países africanos a competirem com o resto do mundo para a obtenção de materiais cruciais quando a pandemia eclodiu pela primeira.
“Para além da resposta à COVID, precisamos de manter este dinamismo através da manutenção de questões de saúde na nossa agenda, de modo a apoiar o surgimento de uma indústria farmacêutica africana que possa satisfazer as nossas necessidades essenciais e enfrentar pandemias como o HIV/SIDA, Tuberculose e Malária,” disse Sall durante uma recente reunião dos países-membros da UA.
Para além de medicamentos e equipamento, os países africanos também estão a esforçar-se para investir em pessoas enquanto se preparam para futuras emergências de saúde, disseram os especialistas.
O Dr. John Nkengasong, director do Africa CDC, disse que o continente precisa de cerca de 6.000 epidemiologistas para satisfazer a demanda dos seus 1,3 bilhões de residentes. Isso é cerca de mais de quatro vezes o número actual de especialistas.
Dr. Christian Happi, director do Centro Africano de Excelência em Genómica de Doenças Infecciosas da Nigéria, apelou que os líderes do continente reunissem os talentos de África na diáspora para reforçarem a sua resposta à COVID-19 e futuras crises.
“O futuro de África está intrinsecamente relacionado com as suas infra-estruturas de saúde,” disse Happi durante um recente webinar. “Precisamos de preparar-nos hoje como se a próxima (vaga) fosse amanhã. Esta deve ser uma das prioridades.”