EQUIPA DA ADF
A actual vaga de infecções pela COVID-19 em África, impulsionada pela variante Delta, está a baixar, mas os especialistas em matérias de saúde pública continuam vigilantes contra o surgimento de novas variantes que podem causar uma nova vaga de infecções e mortes.
Pesquisadores da Nigéria e da África do Sul identificaram duas novas variantes que levantam suspeitas entre os especialistas em matérias de saúde pública. Em meados de Setembro, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) revelou a presença da variante Gama no continente.
Os pesquisadores nigerianos descobriram a variante B.1.525, em Dezembro de 2020. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou-a como uma variante de interesse — um passo a menos em relação à variante de preocupação — e atribuiu a designação da letra do alfabeto grego “eta.”
Desde que foi descoberta, a variante Eta propagou-se para 70 países. Em África, apareceu em Angola, Camarões, Gabão, Gana, Mali, Nigéria, África do Sul, Tanzânia e Uganda.
“Propagou-se de forma muito rápida e é a segunda maior variante em África,” disse Christian Happi, director do Centro Africano de Excelência em Genómica de Doenças Infecciosas na Redeemer’s University, Nigéria.
O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul identificou a variante C.1.2 em Maio, que os pesquisadores afirmam ser a estirpe com maior número de mutações do vírus da COVID-19 descoberta até hoje. Até agora, a variante representa cerca de 3% de todas as infecções na África do Sul.
Embora a C.1.2 seja encontrada principalmente na África do Sul, já conta com 130 casos em 10 países do mundo, incluindo Botswana, Ilhas Maurícias e República Democrática do Congo.
“A variante encontra-se sob constante monitoria, mas nesta fase os números estão bastante baixos,” disse o professor Alan Christoffels, director do Instituto Nacional de Bioinformática da África do Sul.
“Ainda existe uma necessidade de pesquisas e estudos mais aprofundados da variante C.1.2.,” disse a Dra. Nicksy Gumede-Moeletsi, virologista regional dos escritórios regionais da OMS para África.
No seu relatório semanal sobre a COVID-19, do dia 16 de Setembro, Dr. John Nkengasong, director do Africa CDC, anunciou, pela primeira vez, que dois países africanos não identificados tinham casos da variante Gama. A variante Gama, também conhecida como P.1, foi descoberta no Brasil, em Novembro de 2020.
Até meados de Setembro, 43 países africanos tinham registado a variante Alfa, 37 a variante Beta e 37 a variante Delta. A taxas de positividade das variantes continua entre 11% e 12%, mais do que o dobro daquilo que a OMS considera suficientemente elevado para decretar o confinamento obrigatório de uma sociedade.
“Devemos sempre pensar nestas variantes de preocupação como estando sobrepostas,” disse Nkengasong. “Em alguns países é possível encontrar todas elas.”
Nkengasong e outros especialistas em matérias de saúde continuam a encorajar os cidadãos africanos a usarem máscaras, a lavarem das mãos e a manterem o distanciamento social sempre que possível para reduzir a propagação da COVID-19. Cada nova infecção é uma nova oportunidade para a criação de uma variante mais potente do vírus.
Nkengasong disse que o Africa CDC iria lançar uma campanha abrangente de testagens comunitárias, num esforço para estar adiantado em relação a uma potencial quarta vaga.
As equipas irão utilizar testes rápidos de antigénios, que são portáteis e fáceis de utilizar com um treinamento mínimo fora das zonas urbanas. Irão também expandir o seu foco para além das pessoas que apresentam sintomas de COVID-19, para encontrar o vírus em pessoas assintomáticas.
O objectivo é de identificar potenciais surtos antes de haver uma grande incidência, disse.
Os testes PCR baseados na genética, que levam mais tempo mas possuem maior precisão, continuarão a ser utilizados em viajantes, disse.
Estudos anteriores sugeriram que grandes partes de algumas populações africanas estiveram expostas à COVID-19 sem desenvolverem sintomas. Um estudo recente sugeriu que 80% dos sul-africanos estiveram expostos ao vírus.
“A vigilância é uma actividade contínua,” disse Nkengasong. “Será um desafio, mas estamos numa situação difícil. Temos de usar tudo. O ponto central da boa saúde pública é a vigilância.”