EQUIPA DA ADF
Desde a morte do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, num acidente aéreo em Agosto, alguns dos seus mercenários passaram para outras organizações, enquanto o Ministério da Defesa da Rússia e o filho de Prigozhin, Pavel, de 25 anos, reivindicam o controlo da organização.
“O processo de fragmentação começou imediatamente após a morte de Prigozhin,” o analista Anton Mardasov, especialista do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia (RIAC) e do Instituto do Médio Oriente, escreveu recentemente para o Al-Monitor.
Desde que chegou a África, em 2017, o Grupo Wagner espalhou propaganda pró-russa e cometeu inúmeras violações de direitos humanos enquanto contrabandeava ouro, diamante e madeira — mais recentemente para financiar a invasão russa à Ucrânia, contornando as sanções internacionais.
O Grupo Wagner parece ter actualmente líderes concorrentes. O Kremlin nomeou recentemente o veterano do Grupo Wagner, Andrei Troshev, para dirigir a operação. Entretanto, o testamento de Prigozhin nomeava o seu filho como sucessor e herdeiro da sua riqueza e do seu império comercial.
Ambos parecem dispostos a redireccionar grande parte da atenção do Grupo Wagner para a Ucrânia, colocando unidades individuais do grupo sob o controlo da Guarda Nacional da Rússia. De acordo com Mardasov, o plano do Ministério da Defesa da Rússia de assumir o controlo total do Grupo Wagner tem sido dificultado pela necessidade de assinar contratos individuais com cada combatente.
Entretanto, os mercenários do Grupo Wagner estão a dispersar-se para encontrarem novos empregos noutros grupos de mercenários e noutros países ou estão a criar as suas próprias empresas.
“O núcleo da maioria dos membros do grupo testados em combate não se vai juntar a ele [Troshev] de certeza,” a analista Maria Kucherenko, de Kiev, autora de vários relatórios aprofundados sobre o Grupo Wagner, disse à Al Jazeera. Troshev ordenou um desastroso ataque do Grupo Wagner na Síria em 2018 que custou ao grupo centenas de vidas e deixou a sua reputação em ruínas, de acordo com especialistas.
Entretanto, a Rússia começou a reter o abastecimento às forças do Grupo Wagner baseadas em África para as pressionar a juntarem-se à luta na Ucrânia. Começando com o Sudão, em 2017, a pegada africana do Grupo Wagner cresceu para incluir a Líbia e o Mali, onde oferece força militar em troca de direitos de extracção de ouro e outras riquezas minerais.
O Grupo Wagner tornou-se uma força dominante na República Centro-Africana, onde os seus membros fazem parte da guarda presidencial, acompanham os soldados da RCA nas operações contra grupos rebeldes e até gerem as alfândegas. As empresas associadas ao Grupo Wagner exploram minas, vendem as suas próprias marcas de vodka e cerveja e patrocinam eventos pró-russos na capital, Bangui.
Em resultado da campanha de pressão do Kremlin, um pequeno número de combatentes do Grupo Wagner começou a deixar África rumo à Europa.
A Bloomberg noticiou que um consultor russo deverá assumir as operações do Grupo Wagner na RCA. Por enquanto, os principais líderes do Grupo Wagner, Vitali Perfilev e Dimitri Sytyi, continuam a trabalhar como habitualmente.
As extensas operações comerciais e militares do Grupo Wagner em África continuam a ser importantes recursos económicos e diplomáticos que a Rússia dificilmente abandonará, segundo os especialistas. Sem Yevgeny Prigozhin ao leme, o maior desafio do Grupo Wagner poderá ser a perda de controlo sobre o seu próprio futuro, uma vez que as autoridades russas influenciam as suas operações, tanto directa como indirectamente.
“Um problema sério para o Grupo Wagner é a questão da sua auto-suficiência em concorrência com o Ministério da Defesa, que até agora tem sido cauteloso em actuar de forma mais dura para evitar um declínio da credibilidade russa nos países onde os mercenários estão presentes,” escreveu Mardasov.