QUIPA DA ADF
Nos primeiros dias da pandemia da COVID-19, as autoridades de saúde pública alertaram que a doença poderia sobrecarregar os frágeis sistemas de prestação de cuidados de saúde do continente e levar a números devastadores de pessoas contraindo a doença e morrendo.
O facto de esta previsão nunca ter ocorrido continua a ser uma das perguntas mais prevalecentes durante a pandemia. Os investigadores do Instituto de Pesquisa do Vírus do Uganda acabam de lançar um estudo de quatro anos para compreender por que a experiência da pandemia de África foi muito diferente da do resto do mundo.
“Em termos gerais, o estudo irá fornecer ajuda adicional para investigadores de todo o mundo a fim de compreender as características únicas da imunidade do nosso corpo,” disse a Dra. Jennifer Serwanga, directora assistente de pesquisa no instituto.
Existe uma variedade de hipóteses sobre por que os números de África diferem dos de outros continentes.
Alguns afirmam que a juventude de África (uma idade mediana de 19 anos) protegeu a maioria da população da doença que teve o seu maior impacto sobre os idosos. Outros afirmam que o baixo número de testes do continente implicou que fosse impossível efectuar uma contagem exacta do número de casos. Uma variedade de outras teorias olhou para tudo, desde a dieta até às práticas de saúde tradicionais.
Dr. Misake Wayengera, presidente do Comité Ministerial Científico da COVID-19 do Uganda, atribui a diferença à natureza maioritariamente rural de África.
“A COVID-19 é uma doença da urbanidade,” Wayengera disse ao The Independent, do Uganda. “África não é muito urbanizada.”
Como uma doença respiratória que circula pelo ar, a COVID-19 transmite-se com maior facilidade em zonas com maior densidade populacional. Wayengera indicou que a doença esteve inicialmente concentrada na capital do Uganda, Kampala, e levou muitos meses para chegar às zonas rurais.
Pesquisas como as planificadas pelo instituto provavelmente venham a preencher lacunas cruciais na compreensão do impacto da COVID-19 no continente, de acordo com especialistas de saúde pública.
Desde que a pandemia começou no início de 2020, África registou menos de 5% de casos de COVID-19 no mundo inteiro. Desde meados de Maio, o continente registou 11,5 milhões de casos e 252.000 mortes, com uma taxa de recuperação de 94%.
Vários estudos que examinaram o número de mortes em África afirmam que a real contagem do número de mortes por COVID-19 pode ser até três vezes superior à contagem oficial, que se baseia maioritariamente em registos hospitalares e pode omitir mortes que ocorreram em casa ou fora das grandes cidades.
O rastreamento deficiente de registos vitais como nascimentos e mortes em muitos países dificultou que se conhecesse a verdadeira dimensão do impacto da pandemia no continente.
A testagem também distorceu os resultados da COVID-19 de África, centrando-se principalmente em pessoas que apresentavam sintomas, deixando de contar aquelas pessoas cujas infecções eram ligeiras ou que não tivessem sintomas, Dra. Matshidiso Moeti, directora dos escritórios regionais da Organização Mundial de Saúde para África, disse durante uma recente conferência de imprensa.
Uma nova pesquisa do escritório de Moeti utilizou amostras de sangue de pessoas de todo o continente para obter uma ideia da propagação da COVID-19. Tal pesquisa sugere que 67% dos 1,3 bilhões de africanos estiveram expostos ao vírus da COVID-19.
“Os dados disponíveis provavelmente apenas sejam superficiais em comparação com as reais infecções pela COVID-19 em África,” disse Moeti. “O verdadeiro número de infecções pode ser até 97% superior em relação ao que foi registado.”