EQUIPA DA ADF
A junta militar que derrubou o presidente democraticamente eleito do Níger alegou que era necessário pôr termo à violência extremista que afecta o país e os seus vizinhos do Sahel. Algumas semanas depois, 17 soldados nigerinos morreram num ataque extremista perto da fronteira com o Mali.
A junta do Níger, tal como as que derrubaram os governos do Burquina Faso e do Mali, alegou que os militares podem resolver o problema dos extremistas que os líderes civis não conseguiram.
Oumar Moctar, líder do Partido da Renovação Democrática e Republicana do Níger, contestou essa avaliação.
“O conselho militar afirma que se voltou contra o regime do partido no poder devido à deterioração da situação de segurança, como se a segurança não estivesse nas suas mãos antes,” escreveu Moctar no X, a plataforma de comunicação social anteriormente conhecida como Twitter.
Segundo os especialistas, ao perturbar a liderança civil estabelecida, os golpes de Estado aumentam a instabilidade e, com ela, a insegurança no país.
“Em todos os casos, os homens armados diziam estar a salvar os seus países dos jihadistas. No entanto, provaram ser muito menos competentes do que os governos eleitos que derrubaram,” escreve o The Economist.
No Burquina Faso e no Mali, os ataques extremistas continuaram, apesar dos golpes militares e da decisão dos líderes da junta de trazer mercenários do Grupo Wagner da Rússia para complementar os seus próprios soldados.
No início de Agosto, o grupo do Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade por um ataque no nordeste do Mali que matou 16 soldados. Em Julho, extremistas do Burquina Faso mataram mais de uma dúzia de civis na parte oriental do país. Em Março, um ataque liderado por mercenários do Grupo Wagner no centro do Mali matou centenas de homens na comunidade de Moura, um acto que, segundo os analistas, terá criado mais extremistas.
Ao derrubar o Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, a junta fez descarrilar o que tinha sido uma das mais bem-sucedidas campanhas contra o extremismo na África Ocidental.
A prova está nos números: Embora o número de mortes relacionadas com o extremismo tenha aumentado na região, no Níger, os números diminuíram nos dois anos desde que Bazoum tomou o poder na primeira transferência democrática pacífica do país, de acordo com os números compilados pelo Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
“Estes tipos que lançaram o golpe são oficiais superiores que estão muito longe dos combates reais,” Confidence MacHarry, um analista de segurança geopolítica baseado na Nigéria, disse à Voz da América (VOA). “Assim, por um lado, a região perdeu um importante aliado em Bazoum na luta contra os grupos armados. Não há muito que os novos militares possam fazer nesse domínio.”
A abordagem de combate ao terrorismo de Bazoum incluía a criação de um programa para encorajar os extremistas a desertarem e a reintegrarem-se na sociedade. Um programa experimental na região de Tillaberi trouxe cerca de 160 antigos combatentes extremistas de volta à comunidade, com centenas de outros à espera da sua oportunidade.
Os especialistas receiam que o golpe de Estado possa pôr em causa esse programa e as negociações que Bazoum iniciou com grupos extremistas. No dia 13 de Agosto, extremistas da zona de Tillaberi mataram seis soldados da Guarda Nacional na região próxima do Burquina Faso e do Mali, onde o núcleo dos extremistas opera no Níger.
Boubacar Moussa, nigerino, antigo membro de um grupo extremista ligado à al-Qaeda no Mali, trabalha no programa de desradicalização. Moussa disse à The Associated Press que esteve no Mali durante o primeiro dos dois golpes de Estado recentes, em 2020, e que viu que os extremistas do país acolheram o golpe como uma oportunidade para expandir as suas operações.
Moussa disse que é provável que o mesmo aconteça depois do golpe do Níger.
“É uma ocasião para convencer os outros a juntarem-se ao seu grupo,” disse Moussa sobre os extremistas. “Os jihadistas apoiam muito este golpe de Estado que aconteceu no Níger.”