EQUIPA DA ADF
Na sua mais recente proposta para continuar no poder, a junta militar que assumiu o controlo do Sudão aproximadamente um ano atrás, está a apoiar uma proposta que fará com que o exército se torne a autoridade suprema daquele país.
A acção causou fúria entre protestantes pró-democracia e levou a receios de um aumento de turbulência.
“O destino democrático do Sudão está na corda bamba,” escreveram Guma Kunda Komey, um antigo conselheiro do primeiro-ministro do Sudão, e John Goodman, um especialista em resolução de conflitos. “Centenas de milhares de sudaneses encontram-se nas ruas, arriscando as suas vidas por uma mudança pacífica. Mas, mesmo assim, o mundo não está a prestar atenção.”
Em Julho, o líder da junta, o General Abdel Fattah al-Burhan, anunciou que o exército não iria continuar a participar nas negociações dirigidas pelas Nações Unidas, União Africana e pela Autoridade Intergovernamental de Desenvolvimento da África Oriental (IGAD). Estas negociações tinham sido concebidas para traçar um caminho para o retorno à democracia.
No mesmo anúncio, al-Burhan propôs a criação de um Conselho Superior das Forças Armadas, composto por líderes das Forças Armadas do Sudão e das Forças de Apoio Rápido, leais ao seu adjunto e chefe rival, Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido por Hemedti.
El Wasit El Bereir, secretário-geral do Partido Nacional Umma, que foi obrigado a abandonar o poder, no golpe de Estado de Outubro de 2021, disse que a proposta era uma tentativa do exército para permanecer no controlo por trás de uma fachada de administradores civis.
“O exército irá trabalhar por detrás da cortina para guiá-los nas direcções que desejarem,” disse à Rádio Dabanga.
Numa entrevista de Agosto, Dagalo reconheceu que o golpe de Estado não tinha conseguido trazer a estabilidade para o Sudão.
“A situação agora é pior em relação à situação anterior,” disse Dagalo ao serviço de televisão da BBC em língua árabe.
A proposta manifestada em meados de Agosto veio do líder religioso, Al-Tayeb Al-Jed, apelando que os líderes militares não eleitos tenham a última palavra em relação a um governo dirigido por tecnocratas civis.
Desde o golpe de Estado de Outubro de 2021, toda a ajuda internacional e o apoio financeiro do Sudão foram cancelados. O país enfrenta uma crise económica e um aumento de conflitos entre os grupos étnicos na região de Darfur.
No meio de tudo isso, os civis continuam a sair para as ruas de Cartum, exigindo uma transição para a democracia.
As forças governamentais mataram 117 pessoas, de acordo com as Nações Unidas, apesar de os protestantes não estarem armados. As mortes reforçaram as exigências dos protestantes para que a junta deixe o poder.
O protestante Oumeima Hussein disse à France 24 que al-Burhan devia ser julgado por todas aquelas mortes desde o golpe de Estado. Ele prometeu que os protestantes “irão destitui-lo assim como fizeram com Bashir.”
Em Julho, al-Burhan anunciou na televisão que o exército iria transformar-se num governo civil — uma proposta que os líderes civis acolheram com cepticismo.
“Não confiamos em Burhan, protestante Muhannad Othman disse à França 24 enquanto se sentava no topo de uma barricada. “Apenas queremos que ele saia de uma vez por todas.”
Para colocar o Sudão de volta ao caminho do governo civil, Komey e Goodman propõem três medidas urgentes num artigo publicado na plataforma DevEx.
- Reconhecer a importância dos líderes jovens e dar-lhes uma voz no processo de negociações.
- Depender de mediadores internacionais confiáveis que podem dirigir os diálogos de civis para civis para chegar a um acordo e criar um novo governo o mais rapidamente possível.
- Criar um cronograma firme para adoptar uma constituição, realizar eleições e outros eventos significativos.
“A transição do Sudão ainda pode ser salva,” escreveram Komey e Goodman, no dia 31 de Agosto. “Isso estabilizaria o Corno de África, que se encontra a enfrentar uma fome generalizada, e seria uma vitória para a democracia. Fazer isso exigiria atenção de alto nível.”