EQUIPA DA ADF
A junta militar do Mali encurralou-se a si própria.
Depois de o governo de transição ter recusado realizar eleições democráticas em 2022, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sancionou o Mali, no dia 9 de Janeiro, impondo um embargo económico, retirando todos os embaixadores e encerrando as fronteiras terrestres e aéreas dos seus membros com o país.
O Coronel Assimi Goita, o líder de dois recentes golpes de Estado, num período de nove meses, propôs eleições para Dezembro de 2025, em vez de Fevereiro de 2022, conforme originalmente acordado com a CEDEAO.
O bloco regional composto por 15 membros chamou a proposta de “inaceitável.”
“Isso simplesmente significa que um governo de transição militar ilegítimo irá manter o povo maliano como refém,” afirmou a CEDEAO num comunicado.
As duras sanções contra o Mali, apoiadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia dentro de dias, também incluíram o congelamento dos seus bens nos bancos centrais da CEDEAO e a suspensão de todas as ajudas financeiras.
O Mali tinha-se tornado, conforme escreveu um jornal nigeriano, “um Estado pária na África Ocidental.”
Depois de a UE ter anunciado as suas próprias sanções no dia 13 de Janeiro, o chefe de políticas estrangeiras, Josep Borrell, disse à imprensa que a medida foi também uma resposta à presença, no Mali, do Grupo Wagner, uma empresa militar privada russa famosa por cometer violações dos direitos humanos num punhado de outros países africanos.
No dia seguinte, a Suécia anunciou que este ano iria retirar as suas tropas da missão de forças especiais europeias naquele país saheliano. A Suécia citou a presença do Grupo Wagner como uma força desestabilizadora naquele país.
“Agora sabemos que é o grupo Wagner … e se eles tiverem um impacto mais forte, então, não será possível continuar com estes grandes números de tropas de nossa parte,” a Ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Ann Linde, disse à imprensa durante uma reunião da UE.
“Claro que isso terá consequências.”
A França insiste que permanece comprometida a ajudar a derrotar os grupos terroristas no Mali, contudo, reduziu gradualmente a sua presença militar, retirando-se de todas as bases militares naquele país, excepto uma.
O Mali tem lutado contra a violência extremista desde 2012, e os grupos terroristas desde então expandiram para fora a fim de desestabilizar os países vizinhos.
A junta insiste que a insegurança é a razão pela qual existe um atraso nas eleições. Goita decretou que as sanções da CEDEAO são “ilegais, ilegítimas e desumanas” enquanto deixa em aberto a possibilidade de diálogo com os vizinhos do Mali.
A antiga Ministra dos Negócios Estrangeiros do Mali, Kamissa Camara, acredita que a diplomacia ainda oferece uma saída.
“O país encontra-se bem isolado,” disse ela durante uma mesa redonda na estacão televisiva francesa, France 24. “Não sei se o Mali pode resistir mais de três semanas nesta situação. Mas o que ouvimos do Coronel Goita foi que havia uma porta aberta para outras negociações com a CEDEAO.
“Penso que a CEDEAO terá de ser mais flexível no que diz respeito ao calendário das eleições. A última proposta feita pelas autoridades malianas foi uma transição de dois anos, por isso, penso que a CEDEAO poderá chegar mais próximo do calendário do que inicialmente tinham acordado.”
Apesar de vários relatos indicando o contrário, as autoridades malianas ainda não confirmaram a chegada de mercenários russos, dizendo apenas que instrutores russos estão lá para ensinar as suas tropas como utilizar o armamento adquirido na Rússia.
Analistas afirmam que a presença do Grupo Wagner é uma linha vermelha para as Nações Unidas e os países do ocidente, que contribuem com a maior parte do apoio militar para combater organizações extremistas violentas.
Os vizinhos do Mali não querem ver o país desviar-se do caminho da democracia. Eles acreditam que a boa governação é o fundamento sobre o qual a segurança a longo prazo pode ser edificada.
“Até onde sabemos sobre a situação complexa do país, pensamos que todas as reformas políticas, económicas e sociais que visam remodelar o Mali apenas podem ser dirigidas por autoridades democraticamente eleitas,” o Presidente do Burkina Faso, Roch Marc Christian Kabore, disse durante a reunião de emergência da CEDEAO.