EQUIPA DA ADF
Mais de 100 veículos das Forças Armadas do Mali (FAMA) foram destacados numa coluna lenta a partir da cidade de Gao, no dia 2 de Outubro. O seu destino final: a cidade de Kidal, um reduto Tuaregue no norte do país que tem sido controlado por uma coligação de antigos rebeldes desde 2013.
As duas partes renovaram as hostilidades em Agosto, após o colapso do acordo de paz de Argel de 2015, que não foi totalmente implementado, mas concedeu alguma autonomia regional aos grupos Tuaregues.
Os confrontos e a retórica intensificaram-se desde então.
“O processo de ocupação irreversível das terras do Mali, que faz parte da unidade do Mali, continua e continuará, apesar da vã oposição de alguns dos seus filhos desorientados,” o porta-voz das FAMA, Coronel Souleymane Dembélé, disse na televisão nacional, no dia 3 de Outubro.
“O nosso valente exército lutará até ao último suspiro para defender a integridade da nossa amada pátria, que é una e indivisível.”
Os combates começaram a 11 de Agosto pelo controlo da cidade de Ber, onde a missão de manutenção da paz das Nações Unidas, conhecida como MINUSMA, disse num comunicado que tinha “acelerado a sua retirada… devido à deterioração da segurança.”
A junta no poder no Mali exigiu que a MINUSMA deixasse o país até ao final de 2023. Desde Agosto, a MINUSMA tem vindo a entregar os seus campos às autoridades governamentais.
Os antigos rebeldes Tuaregues consideram que as bases no norte do Mali devem ser devolvidas ao seu controlo e manifestaram a sua preocupação com o facto de a retirada da MINUSMA dar à junta um “pretexto” para reocupar áreas do norte do Mali que o acordo de paz de Argel lhes tinha cedido.
Os especialistas questionaram a razão pela qual o Mali, que já está a braços com múltiplas insurgências terroristas, iria estender ainda mais as suas forças armadas às zonas do norte controladas pelos Tuaregues.
“Não é do interesse dos malianos abrir um novo conflito no norte,” Mohamed Amara, sociólogo e investigador de Bamako, capital do Mali, disse à revista The New Humanitarian. “O recomeço da guerra entre o governo e os [antigos rebeldes Tuaregues] não agrada a ninguém.”
A Coordenação dos Movimentos de Azawad (CMA), uma aliança de grupos maioritariamente de etnia Tuaregue que, historicamente, tem procurado a independência ou a autonomia do Mali, afirmou num comunicado de 11 de Agosto que “repeliu um ataque complexo das FAMA e [do grupo mercenário russo] Wagner” em Ber.
Desde então, a CMA tem efectuado uma série de ataques às posições das FAMA. No dia 9 de Setembro, a CMA afirmou ter abatido um caça russo e um helicóptero do Grupo Wagner.
No dia 30 de Setembro, o grupo reivindicou a captura de uma base e a morte de 81 soldados das FAMA em Dioura, a cerca de 420 quilómetros de Bamako — o ponto mais a sul para onde os rebeldes se deslocaram.
No dia 7 de Outubro, a coluna das FAMA tomou o controlo da aldeia de Anefis, logo a seguir à fronteira da região de Kidal e a cerca de 100 quilómetros de Kidal.
A coligação Tuaregue ignorou a derrota.
“Anefis não é um problema importante para nós,” o porta-voz Almou Ag Mohamed disse à Agence France-Presse. “Estamos em guerra, uma guerra que será longa e não se resumirá a uma posição.
“Anefis é apenas uma posição, e a frente é móvel.”
Jonathan Guiffard, especialista sobre Sahel, do Instituto Montaigne, considera que as FAMA e o contingente do Grupo Wagner não têm capacidade para retomar o controlo do país.
“O problema estratégico das forças do Mali é a falta de meios,” disse à France 24. “Ou resistem ou realizam operações dinâmicas que se traduzem em incursões aqui e ali. É o máximo que podem fazer.”
Pouco se sabe sobre os efectivos, o armamento e o equipamento da CMA. Mas a região de Kidal é conhecida como um ponto de passagem para o tráfico de armas da Líbia.
Guiffard disse que, apesar de uma década sem guerra aberta, a aliança Tuaregue estará provavelmente preparada para um conflito prolongado.
“A CMA está menos preparada do que em 2012, mas tem o terreno só para si e está habituada a uma estratégia de guerra assimétrica,” disse.