EQUIPA DA ADF
Três jornalistas críticos da junta militar do Burquina Faso foram raptados durante um período de 10 dias em Junho.
Pelo menos um deles, Serge Oulon, director do jornal L’Événement, foi raptado por um grupo de homens armados
que se diziam pertencer à Agência Nacional de Informações, segundo Repórteres sem Fronteiras.
Kalifara Séré, que participou no programa “7Infos” do canal de televisão privado BF1, desapareceu no dia seguinte a uma audiência com a polícia judiciária. Séré tinha recentemente posto em causa a autenticidade das imagens do Capitão Ibrahim Traoré, líder da junta, a doar sangue.
A entidade reguladora dos media do país suspendeu temporariamente o programa “7Infos.” Vários meios de comunicação ocidentais também foram suspensos ou proibidos por noticiarem a actual insegurança no país.
Adama Bayala, que aparecia semanalmente no programa “Presse Echos,” desapareceu pouco tempo depois.
“Saiu do seu gabinete e foi ter com um amigo, que o esperou em vão,” uma fonte anónima próxima de Bayala disse à Repórteres sem Fronteiras. “Parece que ele foi raptado no meio do trânsito.”
A repressão contra jornalistas, funcionários e membros da sociedade civil burquinabês aumentou desde o golpe de Estado liderado por Traoré em Setembro de 2022.
“O que é certo é que a manutenção de Traoré no poder depende fortemente da repressão violenta e do abuso contínuo da força apoiado por parceiros externos, tudo em nome da soberania, revelando a farsa trágica do regime militar no Burquina Faso e no Sahel em geral,” Daniel Eizenga, investigador do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), escreveu na World Politics Review.
A maioria das pessoas raptadas, presas ou recrutadas para a linha da frente da guerra contra o terrorismo no país tinha salientado o facto de a junta não ter conseguido erradicar os terroristas, o que Traoré prometeu fazer.
Pelo contrário, a violência aumentou e a junta perdeu um território significativo para os terroristas. Cerca de metade do país está agora fora do controlo do governo.
Até ao final de 2023, cerca de 2 milhões de pessoas estavam encurraladas em 36 aldeias bloqueadas por combatentes armados, noticiou a Al Jazeera. Devido aos bloqueios, as entregas de alimentos e medicamentos são escassas.
Prevê-se que em 2024 ocorram mais de 2000 mortes de civis ligadas a “grupos militantes islâmicos” no Burquina Faso, escreveu Eizenga. Este número representa um aumento de quase 75% em relação a 2021, o ano anterior aos golpes de Estado, e triplica o número de mortes de civis de 2020.
No ano passado, cerca de 400 soldados franceses de operações especiais abandonaram o país devido à deterioração das relações entre os dois países. A decisão de Traoré de associar-se a mercenários russos aumentou a insegurança, uma vez que os militares burquinabês e os combatentes russos são acusados de cometer atrocidades contra civis.
Em Fevereiro, as forças burquinabês massacraram mais de 223 aldeões, incluindo pelo menos 56 crianças, numa campanha contra civis acusados de colaborar com militantes jihadistas, informou a Human Rights Watch.
Os próprios soldados de Traoré também enfrentam ameaças crescentes.
No dia 11 de Junho, o grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) reivindicou a responsabilidade por um ataque a uma base militar burquinabê em Mansila que matou mais de 100 soldados e vários civis. Tratou-se do ataque mais mortífero contra os militares burquinabês desde 2015.
A instabilidade surge numa altura em que centenas de auxiliares das milícias civis no norte e leste do Burquina Faso se demitiram desde Maio de 2024 devido a elevadas taxas de baixas, violações de direitos, salários em atraso e falta de equipamento.
Traoré também pôs termo a anteriores diálogos conduzidos a nível local com grupos armados que resultaram em bolsas de cessar-fogo. No ano passado, as mortes causadas por “violência mortal” no Burquina Faso subiram para 8.000, mais do dobro do número de mortes registadas em 2021, o ano anterior aos dois golpes de Estado, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, ou ACLED.
“Ele está a fazer uma guerra total,” Eizenga disse à Al Jazeera. “A expansão da capacidade das forças militares é bem pensada, mas tem de ser feita de uma forma eficaz e que proteja os cidadãos. Retirar as negociações da mesa não me parece inteligente.”
Traoré comprometeu-se igualmente a realizar eleições e a acelerar a transição do país para a democracia, o que não aconteceu. Em Maio, a junta adoptou um acordo para prolongar o seu mandato por mais cinco anos.
No dia 15 de Agosto, o governo de Traoré anunciou planos para aumentar os esforços de recrutamento militar.