EQUIPA DA ADF
Menos de dois anos depois de o exército guineense tomar o poder ao então presidente Alpha Condé, a junta está a enfrentar uma onda de protestos.
A violência eclodiu na capital Conacri em Maio, com manifestantes contra a junta a atirarem pedras e a queimarem barricadas improvisadas e pneus. A polícia abriu fogo com gás lacrimogéneo e balas.
Foram planeados mais protestos para o dia 17 de Maio, depois de os organizadores terem comunicado que sete pessoas foram mortas e 32 ficaram feridas no dia 10 de Maio. Mas quando as pessoas se reuniram para se manifestarem na capital, encontraram soldados e veículos blindados à espera.
O Ministro da Administração Territorial, Mory Condé, leu uma declaração na televisão nacional, chamando as manifestações uma “verdadeira guerrilha urbana.” Os manifestantes “estão a espalhar o terror com uma violência sem precedentes” e a atacar as forças de segurança com “meios letais.”
O governo de transição ameaçou aplicar as leis antiterroristas que permitem a prisão perpétua a quem ponha em perigo a vida ou a liberdade de terceiros com a intenção de “intimidar, provocar uma situação de terror, criar um sentimento de insegurança entre a população.” A lei também se aplica a quem patrocina, financia ou incentiva tais actos.
Os militares no poder encerraram duas estações de rádio, limitaram o acesso a páginas da internet populares e às redes sociais e ameaçaram encerrar todos os meios de comunicação social que “prejudiquem a unidade nacional.”
O grupo de defesa Repórteres Sem Fronteiras condenou “uma onda de violações da liberdade de imprensa … sem precedentes desde que os militares tomaram o poder em Setembro de 2021.”
Os protestos em Conacri tornaram-se mais comuns desde que o aumento dos preços dos combustíveis provocou distúrbios em Junho de 2022. Desde então, pelo menos 24 pessoas foram mortas e dezenas foram detidas, incluindo activistas de renome, segundo os partidos da oposição e grupos da sociedade civil.
Souleymane Bah, um residente de Conacri, de 34 anos, disse que as pessoas querem que a junta militar organize eleições.
“A junta militar não pode dar-nos esperança e depois agir ainda pior do que o regime que substituiu,” disse à Reuters.
A Guiné tem sido atormentada por distúrbios desde que Alpha Condé procurou um controverso terceiro mandato em 2020. Foi deposto num golpe militar em Setembro de 2021, liderado pelo coronel Mamady Doumbouya.
Sob pressão internacional para devolver o poder a civis eleitos até ao final de 2024, o governo de transição de Doumbouya concordou e afirmou que iria adoptar reformas.
Em Outubro de 2022, o governo reduziu o seu calendário de transição para dois anos, depois de a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental ter rejeitado o seu plano de transição de três anos e ameaçado com sanções económicas e financeiras.
Desde então, as relações entre o governo de Doumbouya e os partidos da oposição deterioraram-se, uma vez que a junta proibiu todas as manifestações desde 2022, prendeu vários líderes da oposição e intentou acções judiciais contra outros.
Cellou Diallo, líder do principal partido da oposição, UFDG, fugiu do país para o Senegal no ano passado, depois de as autoridades da junta o terem acusado de corrupção.
“Três sentimentos dominam os guineenses: cansaço, desilusão e repulsa pelo perjúrio de Mamady Doumbouya,” a porta-voz de Diallo, Nadia Nahman, disse à Al Jazeera.
“[Doumbouya] foi empossado como presidente de transição e comprometeu-se a consolidar as conquistas democráticas, mas traiu todos os seus compromissos com a repressão sangrenta de manifestações pacíficas.”
As recentes tentativas de diálogo e mediação por parte dos líderes religiosos fracassaram.
“Chegámos a um ponto de bloqueio porque estamos a lidar com uma junta militar que não quer dialogar,” o vice-presidente do partido UFDG, Aliou Condé, disse à Reuters.
“A este ritmo, receio que estejamos a ir directamente contra uma parede.”