EQUIPA DA ADF
Quando o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliado à al-Qaeda, atacou Bamako em Setembro, foi o primeiro ataque na capital do Mali desde 2016.
O ataque a uma escola de formação militar e ao aeroporto internacional onde estão baseados mercenários russos matou pelo menos 77 pessoas, na sua maioria jovens recrutas da gendarmaria. Os terroristas também colocaram trapos a arder nos motores dos jactos presidenciais pertencentes à junta militar no poder.
Posteriormente, a JNIM divulgou um comunicado em que afirmava que o ataque era uma represália pelos “massacres e chacinas cometidos por esta camarilha no poder e pelos seus aliados russos contra o nosso povo muçulmano.”
Wassim Nasr, um especialista do Sahel e investigador sénior do Centro Soufan, disse ao The Washington Post que a escolha de alvos da JNIM tornou claro que o grupo tinha optado por concentrar os ataques nas áreas urbanas contra o governo do Mali e as forças estrangeiras.
O ataque de Bamako ocorreu após um assalto em Julho em que a JNIM e os rebeldes Tuaregues atacaram um comboio que transportava tropas das Forças Armadas do Mali (FAMa) e mercenários russos que se dirigiam para a cidade nortenha de Tinzawaten, perto da fronteira com a Argélia. Quando a batalha de três dias terminou, 47 soldados das FAMa e 84 mercenários russos estavam mortos.
Os Tuaregues são tradicionalmente pastores nómadas, mas os combatentes do grupo étnico lideraram uma rebelião que as forças malianas têm lutado para conter há mais de 12 anos. Estão cada vez mais ao lado de grupos terroristas em batalhas contra forças estatais e estrangeiras.
A junta do Mali, liderada por Assimi Goïta, pediu apoio à Rússia em 2021, depois de expulsar do país as tropas francesas e as forças de manutenção da paz das Nações Unidas. A batalha de Tinzawaten representou a maior derrota da Rússia no Mali desde que foi destacada para o país e a pior derrota para as FAMa desde que as hostilidades recomeçaram em Agosto de 2023.
Daniel Eizenga, investigador dedicado ao Sahel, no Centro de Estudos Estratégicos de África, disse ao jornal que a JNIM passou da “demonização dos franceses para a demonização do Grupo Wagner” devido às tácticas de mão pesada do grupo russo.
Os combatentes das FAMa e da Rússia são acusados de cometer atrocidades contra civis. No ano passado, registaram-se 924 mortes de civis ligadas às forças armadas do Mali e aos mercenários russos, contra menos de 100 em 2021, de acordo com uma análise do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
No dia 21 de Outubro, um ataque de um drone das FAMa na região norte de Tombuctu matou oito civis, incluindo seis crianças, e feriu 15. Attaye, que testemunhou os ataques, disse à Amnistia Internacional que houve três ataques de drones ao meio-dia. Disse que estava no seu quintal quando ouviu a primeira explosão num mercado local.
“Matou várias pessoas e os estilhaços feriram várias outras,” disse Attaye, um pseudónimo. “O segundo ataque teve como alvo um veículo pertencente a um comerciante que se tinha deslocado ao mercado. O terceiro ataque também destruiu um veículo. Estes ataques tiveram lugar no meio do mercado e as vítimas eram principalmente pessoas que compravam, vendiam ou se deslocavam.”
No final de Janeiro, os soldados malianos que procuravam terroristas na aldeia de Ouro Fero, na região de Naro, foram de porta em porta e prenderam 25 pessoas, incluindo quatro crianças. Os habitantes da aldeia encontraram os seus corpos mais tarde nesse dia.
“Encontrámos os corpos numa colina, carbonizados, atados pelas mãos e com os olhos vendados,” um aldeão de 26 anos que ajudou a enterrar os corpos disse à Human Rights Watch (HRW). “Todos tinham sido baleados na cabeça.”
Cerca de três semanas depois, um ataque de um drone das FAMa a uma festa de casamento ao ar livre na aldeia de Konokassi, na região de Ségou, matou pelo menos cinco homens e dois rapazes e feriu outros três. Os aldeões disseram à HRW que a JNIM controla as áreas à volta de Konokassi, mas nenhum dos seus combatentes estava no casamento.
Enquanto os aldeões tentavam enterrar os corpos no dia seguinte, outro ataque de drones no cemitério de Konokassi matou cinco homens e dois rapazes e feriu outros seis.
Grupos como a JNIM também executaram sumariamente civis, saquearam e queimaram propriedades, negaram alimentos e ajuda aos civis e cometeram violência sexual contra mulheres e raparigas. Isso deixa os civis sem saber em quem confiar.
“O que quer que escolhamos é mau, onde quer que vamos é para enfrentar o sofrimento,” um homem de Nienanpela, uma aldeia na região de Segou, disse à HRW. “Os jihadistas são brutais e impuseram-nos a sua forma do Islão, mas os militares e os [combatentes] do Grupo Wagner, que supostamente nos protegem, o que fazem é apenas matar, pilhar e queimar.”