EQUIPA DA ADF
Enquanto os países africanos se preparam para uma vacina contra a pandemia da COVID-19, as autoridades de saúde pública em todo o continente estão à procura de formas através das quais se pode armazenar, transportar e distribuir uma vacina que exige uma cadeia de refrigeração constante em temperaturas extremamente baixas.
Estas são as condições que as primeiras duas vacinas contra a COVID-19 exigem. Neste momento, poucas instalações em África podem satisfazer a estas exigências.
Contudo, o Dr. Richard Mihigo, gestor-adjunto de incidentes da resposta de emergência dos escritórios regionais da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Brazzaville, vê potencial na recente resposta ao surto de Ébola na região de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo.
O projecto usou uma vacina contra o Ébola que tinha de ser armazenada a menos 80 graus Celsius, muito abaixo da temperatura da maior parte das instalações de armazenamento de vacinas.
No entanto, as equipas foram capazes de armazenar e transportar a vacina em motorizadas entrando até nas zonas mais recônditas e utilizando câmaras frigorificas portáteis capazes de manter temperaturas extremamente baixas por até uma semana. Dessa forma, foram capazes de vacinar 300.000 pessoas na zona do surto. Um esforço semelhante de vacinação ajudou recentemente a acabar com o surto do Ébola que durou meses na província de Equateur.
“Não estamos a começar do zero aqui em África,” disse Mihigo à Quartz Africa. “Existem algumas experiências que alguns países aprenderam no passado.”
As vacinas contra a COVID-19 recentemente anunciadas pela Pfizer e pela Moderna devem ser armazenadas a menos 80 e menos 20 graus Celsius, respectivamente. Ambas dependem do material genético conhecido como mRNA, que se degrada rapidamente em temperaturas elevadas.
Apesar da experiência da RDC ter mostrado que era possível, também foi um evento relativamente pequeno quando comparado com a necessidade de vacinar aproximadamente 800 milhões de pessoas no continente inteiro para alcançar uma imunidade em massa, de acordo com o Dr. Nicaise Ndembi, conselheiro sénior de ciências na área de vacinas no Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
“O caso do Ébola não foi a esta escala,” disse Ndembi à ADF. “As vacinas tradicionais que geralmente temos não exigem temperaturas tão baixas assim. É mais ou menos sem precedentes em termos de distribuição e logística de vacinas que são necessárias neste caso em particular.”
Um cenário mais comum: o hospital de Bwayira em Lilongwe, Malawi, que possui capacidade de cadeias de refrigeração limitada e nenhuma habilidade para armazenar as novas vacinas que estão a ganhar atenção pelo mundo inteiro, de acordo com a Dra. Nonhlanhla Rosemary Dlamini, a representante da OMS no Malawi.
De acordo com uma pesquisa, cerca de 30% dos 54 países africanos estão preparados para receber e distribuir a vacina da COVID-19, disse Ndembi. Os restantes precisarão de ajuda para o poder fazer.
Mesmo os países mais prósperos e maiores, tais como a Nigéria e a África do Sul, têm falta de capacidade de armazenamento em temperaturas extremamente baixas, em grande escala.
“Não sei se podemos realmente contemplar a possibilidade de uma vacina mRNA com as nossas condições actuais,” Barry Schoub, presidente do conselho consultivo ministerial da África do Sul sobre a vacina do coronavírus, disse a News24, um órgão de comunicação local.
A União Africana e o África CDC afirmam que o plano de vacinação contra a COVID-19 para todo o continente irá custar cerca de 12 bilhões de dólares. O Banco Africano de Exportações e Importações comprometeu-se em alocar 5 bilhões de dólares. O remanescente virá do Banco Mundial e de outros doadores.
Os custos incluem a construção de infra-estruturas humanas e físicas para fornecer 1,5 bilhões de doses da vacina em todo o continente. O fundo irá ajudar os países a trabalharem juntos para adquirir doses a baixos custos. A UA pensa em fornecer aconselhamento técnico aos seus países-membros para ajudá-los a estabelecerem o referido sistema.
Ndembi indicou que o África CDC espera passar o primeiro trimestre de 2021 a estabelecer os sistemas necessárias para fazer o lançamento do programa continental de vacinação, que poderá iniciar no segundo trimestre.
“Passaremos o primeiro trimestre a certificar de que temos tudo em ordem para implementarmos a vacinação,” disse Ndembi.
Entretanto, cerca de 10 outras vacinas estão em desenvolvimento, incluindo pelo menos uma — a vacina de Oxford/AstraZeneca — que pode ser armazenada em temperaturas alcançadas de forma mais comum, de 2 a 8 graus Celsius. A Pfizer também está a trabalhar na sua vacina liofilizada, em forma de pó, que pode facilmente ser armazenada e transportada, e posteriormente reconstituída com água.
Estes e outros avanços da vacina podiam ser o prenúncio para os países africanos, reduzindo os custos do fornecimento de armazenamento em temperaturas extremamente baixas, disse Ndembi.
“Poderíamos até ter uma vacina com um regime de dose única,” disse Ndembi. “Isso seria perfeito.”