EQUIPA DA ADF
Quando a África do Sul experimentou um surto da COVID-19, num hospital de Durban, no início de 2020, os investigadores da Plataforma de Inovação em Pesquisa e Sequenciamento (KRISP), próximo de KwaZulu-Natal, entraram em acção.
As equipas daquele lugar examinaram centenas de amostras de vírus colhidas de pacientes do hospital, identificando as impressões digitais genéticas de cada amostra e acrescentando aquela informação ao banco de dados global crescente e relacionado com a pandemia.
Desde aqueles primeiros dias, os laboratórios de genómica de África lideraram o mundo na detecção do tipo de mudanças do vírus da COVID-19 que dá lugar ao surgimento de variantes, como a Delta e a Ómicron, que aumentaram a letalidade e a transmissibilidade do vírus.
Na Nigéria, por exemplo, o Professor Christian Happi, do Centro Africano de Excelência em Genómica de Doenças Infecciosas, foi o primeiro a identificar a COVID-19 no continente. O seu laboratório também identificou a variante de interesse que a Organização Mundial de Saúde (OMS) atribuiu o nome de Eta.
Os investigadores de Botswana, Etiópia, Senegal e de outros lugares também contribuíram para que o mundo compreendesse a COVID-19. Os investigadores sul-africanos, contudo, emergiram como os principais detectives das variantes do continente, graças a décadas de rastreamento da evolução do HIV e de outras doenças. A KRISP é um líder mundial na filogenética de vírus, a ciência de detecção de variantes.
Nos seus laboratórios, os investigadores sul-africanos utilizam a tecnologia mais avançada do mundo para efectuar a leitura da composição genética dos vírus.
“É importante para o continente africano ter uma grande instalação de estudos genómicos com a mais recente tecnologia de ponta necessária para liderar a vigilância genómica,” Professor Tulio de Oliveira, director do recentemente criado Centro de Resposta Epidémica e Inovação, disse à Illumina, a empresa que produz as máquinas utilizadas para efectuar a análise de genética de vírus.
Realizando as suas próprias análises, os países africanos poupam o tempo que gastariam a, de outro modo, enviar as amostras para o exterior para que serem identificadas. Os líderes de saúde pública podem aproveitar esse tempo para acabar com a propagação de doenças contagiosas.
África do Sul soou o alarme em Novembro último sobre a variante Ómicron, que foi descoberta no Botswana. A variante Ómicron assolou o mundo e substituiu a variante Delta em muitos países.
Antes da Ómicron, os cientistas sul-africanos detectaram a primeira variante da COVID-19, mais tarde designada de Alfa, e a variante Beta veio em meados de 2020. Em meados de 2021, eles também identificaram a variante C.1.2, a versão da COVID-19 que registou o maior número de mutações antes da Ómicron.
O Dr. John Nkengasong, Director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) recentemente elogiou a África do Sul pelo poder do seu sistema de vigilância, a sua dedicação à transparência e a sua resposta rápida ao partilhar informação sobre a Ómicron e outras variantes.
“Se toda a gente do mundo fizesse isso, estaríamos muito bem-posicionados,” disse Nkengasong durante uma recente conferência de imprensa.
O sucesso da África do Sul no rastreamento da evolução da COVID-19 deve-se, em parte, à Rede de Vigilância Genómica da África do Sul, criada em Junho de 2020, para unir os laboratórios e os investigadores do país e agrupar os seus dados para orientar as medidas de saúde pública.
A rede tornou-se na principal componente da Iniciativa Africana de Genómica de Patogénicos, um projecto conjunto dos escritórios regionais da OMS África e o Africa CDC para ligar uma dezena de laboratórios de sequenciamento de todo o continente.
Desde Setembro de 2020, a iniciativa contribuiu para o aumento em cinco vezes no sequenciamento genómico do continente. Até finais de 2021, tinha contribuído com mais de 61.600 sequências de COVID-19 para a base de dados global, mais de 40% das quais provenientes da África do Sul.
Apesar do enorme progresso, África continua muito atrasada em relação a outros continentes na percentagem de amostras sequenciadas. Mesmo com as instalações de estudos genómicos mais avançadas do continente, a África do Sul fez apenas o sequenciamento de menos de 1% do seu número total de casos.
Peter van Heusden, um bioinformático do Instituto Nacional de Bioinformática da África do Sul, disse à Devex que a rede continental precisa de garantir que todos os países tenham capacidade laboratorial adequada para melhorar a compreensão da pandemia.
O Africa CDC e a OMS estão a trabalhar com a KRISP e outros laboratórios para formar mais cientistas nas habilidades necessárias para o sequenciamento de genomas da COVID-19.
“Felizmente, a velocidade e a transparência do Botswana e da África do Sul na detecção e alerta ao mundo sobre a nova variante foram para nós algo muito importante,” disse o Dr. Abdou Salam Gueye, director regional de emergências da OMS África. “Eles deram ao mundo uma preparação antecipada na montagem de uma resposta imediata.”