EQUIPA DA ADF
A inspiração veio a Craig Parker durante o seu longo voo de regresso a casa, na África do Sul, depois de visitar a sua avó, no Reino Unido, no seu 100º aniversário.
“Não tínhamos a certeza se ela sobreviveria a esta pandemia,” disse à Discovery South Africa.
Foi no início de 2020, e as dificuldades da Inglaterra com a COVID-19 fizeram com que Parker ficasse preocupado com a África do Sul.
“Com todos os seus recursos e o quanto eles estavam a enfrentar dificuldades,” disse, “[compreendi] que teríamos grandes problemas.”
Parker, um anestesiologista que deixou a sua carreira de 20 anos como engenheiro mecânico na indústria mineira para seguir a sua paixão por medicina, decidiu fazer algo com a falta de ventiladores e oxigénio médico no continente.
Quando regressou à sua casa na província do Cabo Oriental, escreveu uma publicação no Facebook, pedindo ajuda de qualquer pessoa que estivesse interessada na criação de um novo dispositivo.
Em pouco tempo, conseguiu uma equipa de voluntários, médicos, engenheiros, designers, especialistas em impressão 3D e empreendedores.
Eles queriam criar um dispositivo que auxilia a respiração, mas diferente de um ventilador, cujo objectivo era um dispositivo não evasivo, que não precisasse de camas da unidade de cuidados intensivos, que eram poucas no continente.
“Convidei alguns dos meus amigos do sector mineiro,” disse Parker à página da internet sobre saúde pública, Spotlight. “Em certo ponto, pedimos que a De Beers (uma empresa de fabrico de diamantes) que nos emprestasse dois engenheiros. Estávamos a lançar ideias, construindo protótipos e testando-os.
“Penso que é o trabalho mais exigente que já fiz — trabalhar 18 horas por dia.”
Sete semanas depois, em Março de 2020, nasceu o Oxygen Efficient Respiratory Aid ou OxERA. Em Dezembro de 2020, foi aprovado pelas autoridades sanitárias da África do Sul para uso em casos de emergência.
Utilizando uma máscara bem selada e uma válvula de pressão de ar, é necessária uma pequena quantidade de oxigénio para manter os pulmões dos pacientes cheios.
No início do seu desenvolvimento, o protótipo OxERA foi posto à prova no local de trabalho de Parker, Frere Hospital, na cidade de East London. Durante a primeira vaga da pandemia, o hospital internava, no máximo, 50 pacientes de COVID-19 por dia.
“Eu vi resultados surpreendentes,” Dr. Warren Gregorowski, do Frere Hospital, disse à Discovery. “Vi pacientes que não estavam a melhorar com as máquinas de oxigénio padrão a poderem alcançar altos níveis de saturação de oxigénio.”
Parker e os seus colegas tinham acreditado que o seu dispositivo iria funcionar, mas ficaram emocionados de ver o seu bom desempenho.
“O dispositivo ainda era um protótipo que estávamos a testar, mas os profissionais de saúde estavam desesperados e descobriram que era útil para eles, e estavam a salvar vidas,” disse Parker à Spotlight. “Então, nós apenas os produzíamos e doávamos àqueles que pediam.”
Nascido no Zimbabwe, Parker ficou particularmente feliz ao ver o OxERA ser utilizado lá.
“Zimbabwe, em comparação com África do Sul, estava muito pior,” disse. “Realmente, se alguém estivesse numa situação um pouco pior do que ligeiramente doente, isso era uma sentença de morte.
“Eles não tinham qualquer esperança de grandes fornecimentos de oxigénio que pudesse apoiar soluções de oxigénio nasal de alto fluxo. Não tinham o equipamento nem as habilidades para ventilar os pacientes. Por isso, utilizaram muito os dispositivos OxERA.”
Parker, que prestou serviços comunitários durante um ano nas zonas rurais de Cabo Oriental, depois da faculdade de medicina, soube que o OxERA seria um divisor de águas para postos de saúde de zonas remotas.
“O [OxERA] permite que até as instalações mais básicas, que são dependentes de oxigénio em garrafas ou de pequenos concentradores de oxigénio, possam fornecer um nível mais elevado de cuidados clínicos do que aqueles que actualmente são capazes de fazer,” refere a página da internet sobre o produto.
Em Setembro, Parker recebeu a homenagem de Médico Rural do Ano, pela Associação de Médicos Rurais da África do Sul.
“A liderança, conhecimento e entendimento do Dr. Parker nos campos da engenharia, clínica e social foram fundamentais para o desenvolvimento do produto designado por OxERA,” disse a associação num comunicado.
O seu dispositivo também foi alistado no Compêndio da Organização Mundial de Saúde, de 2022, na categoria de “tecnologias de saúde inovadoras para locais com poucos recursos.”
Enquanto o OxERA recebeu crédito por salvar centenas de vidas, Parker escolheu desviar a atenção para os “incríveis voluntários … totalmente desconhecidos” que se uniram para dar vida à sua ideia.
“Talvez eu seja um engenheiro normal e um médico normal,” disse à Spotlight. “Mas esta combinação de habilidades é bem única, e elas foram demasiadamente úteis durante a COVID.”