EQUIPA DA ADF
O Sahel em África, uma das regiões mais frágeis do mundo, está a enfrentar uma confluência de crises mortais, à medida que, nos últimos dias, o terrorismo tem sido acompanhado por inundações históricas.
Meses de chuvas constantes e torrenciais fizeram com que os dois principais rios — o Níger e o Nilo — e várias barragens transbordassem. Numa região já atormentada por insegurança alimentar e desalojamento devido à violência, milhares de pessoas viram casas e terras de cultivo a serem destruídas pelas inundações, fazendo com que os alimentos e outros recursos sejam mais propensos a pilhagens por grupos armados.
“Este nível de destruição resultante de desastres naturais não tem precedentes e é devastador,” disse o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, no dia 29 de Setembro.
Residentes e oficiais do governo descreveram as inundações ao jornal Premium Times, da Nigéria, como sendo as piores em mais de 30 anos.
“Durante as últimas décadas, a tendência em termos de danos causados pelas inundações tem crescido de forma exponencial,” Sani Mashi, director-geral da Agência de Meteorologia da Nigéria, disse ao Premium Times.
A agência, juntamente com outros órgãos do governo, alertou 28 dos 36 Estados da Nigéria para esperarem inundações severas durante os meses de Setembro e Outubro.
No Níger, os governos estaduais apelaram as comunidades das zonas ribeirinhas para procurarem abrigos em locais mais elevados. As inundações mataram dezenas, encerraram a cidade capital de Niamey e desalojaram centenas de milhares de pessoas.
Em inícios de Setembro, o Sudão declarou um estado de emergência de três meses quando as chuvas e inundações mataram mais de 100 pessoas e destruíram quase 100.000 casas.
Burkina Faso também declarou um estado de calamidade natural depois de vários dias de chuvas fortes terem morto pelo menos 13 pessoas e ferido 19.
Burkina Faso, um país com mais de 40% do seu povo vivendo na pobreza, viu um aumento acentuado de violência causada pelos grupos de extremistas, que mataram centenas e obrigaram o desalojamento de quase um milhão de residentes. Uma fonte segura confirmou à Reuters que a época chuvosa afecta inevitavelmente as operações contra grupos militantes.
As chuvas torrenciais e as inundações também trouxeram destruição ao Chade, Camarões, Sudão do Sul e partes de Gana, Mali e Senegal.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), no dia 24 de Setembro, alocou 152 milhões de dólares em ajuda, depois de Peter Pham, o enviado especial dos EUA para o Sahel, ter visitado o Níger e visto a devastação em primeira mão.
“Mais de 2,5 milhões de pessoas na região do Sahel estão desalojadas, 3,3 [milhões] necessitam de ajuda humanitária e serviços de protecção,” disse Pham, numa videoconferência em que anunciava a ajuda. “Os Estados Unidos da América orgulham-se de serem o maior doador de ajuda humanitária na região.
“Para além de melhorar a coordenação, parte do meu mandato é ajudar a promover a estabilidade no Mali. Conforme os eventos recentes nos recordam, o Mali continua a ser o epicentro da instabilidade política no Sahel.”
Pham deixou claro que nenhuma ajuda será enviada aos líderes militares malianos que recentemente derrubaram o governo.
Em vez disso, as prioridades são humanitárias. A USAID, juntamente com os parceiros das Nações Unidas, e outras organizações de ajuda farão a distribuição de produtos alimentares de emergência, água, abrigo e cuidados médicos.
Outros países africanos também fizeram a distribuição de ajuda.
Três aeronaves militares egípcias carregadas de produtos alimentares e medicamentos foram enviadas para o Sudão do Sul e para o Sudão, em inícios de Setembro. Por sua vez, as forças armadas argelinas enviaram quatro aviões de carga com ajuda humanitária para o Níger, algumas semanas depois.
Contudo, os esforços da ajuda internacional apenas destacam os efeitos trágicos das inundações no conturbado Sahel.
“Esta é uma região onde a água é saudada com euforia,” disse Pham. “Agora transformou-se no oposto.”