Há sinais de progresso na luta contra o grupo do Estado Islâmico (EI) e outros grupos terroristas na província moçambicana de Cabo Delgado. Mas uma série de ataques recentes mostra que os insurgentes estão longe de estar derrotados e estão a levar a cabo ataques mais sofisticados.
Um dispositivo explosivo improvisado (DEI) controlado à distância danificou gravemente um veículo blindado das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) em Quiterajo em Julho. A explosão desencadeou um tiroteio durante o qual pelo menos um soldado das FADM foi morto, de acordo com uma reportagem do Cabo Ligado, publicada pelo Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
Os insurgentes têm utilizado este tipo de bombas à beira da estrada na província desde pelo menos Setembro de 2021, mas até Junho os explosivos eram normalmente dispositivos rudimentares que explodiam quando eram atropelados por veículos ou pisados. No dia 18 de Junho, os rebeldes utilizaram o primeiro ataque conhecido com DEI controlados à distância na província, perto de Cobre e Ilala.
“O uso mais direccionado de DEI através de controlo remoto, permite um controlo mais apertado das estradas e a preparação de emboscadas,” de acordo com a reportagem do Cabo Ligado. “É provável que isso restrinja o movimento das patrulhas das FADM e da SAMIM (Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Moçambique). Pode também criar medo entre essas forças, com resultados imprevisíveis.”
A introdução no arsenal dos insurgentes de bombas de beira de estrada telecomandadas coincidiu com a decisão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) de prolongar a sua missão militar em Cabo Delgado por um ano, até Julho de 2024. A SADC anunciou igualmente uma retirada faseada das tropas a partir de Dezembro.
As autoridades tomaram a decisão depois de um relatório de uma avaliação no terreno, realizada por militares, polícias e pessoal civil dos Estados-membros, ter concluído que Cabo Delgado “está agora calmo e as instituições do Estado estão a funcionar.”
Piers Pigou, chefe do programa para a África Austral, do Instituto de Estudos de Segurança, discordou e caracterizou a afirmação da avaliação de campo de que as estradas em toda a província são agora seguras para utilização como “quase irresponsável.”
“Falar de qualquer data de retirada é uma aspiração,” disse Pigou ao Zitamar News. “Podem estar a protelar, mas estão a indicar a sua intenção de sair.”
Houve ganhos militares na província. Um pacto militar bilateral com o Ruanda e os seus 2.800 soldados ajudou a estabilizar Palma, uma cidade portuária estratégica onde um cerco sangrento de duas semanas, em 2021, deixou cerca de 60 mortos, incluindo crianças. A SAMIM e os seus 1.900 efectivos também ajudaram a melhorar a situação de segurança em outras partes da província.
As principais estradas foram reabertas e algum comércio e ajuda humanitária começaram a regressar, bem como alguns serviços básicos. Mais importante ainda, cerca de 350.000 pessoas deslocadas internamente (PDI) regressaram às suas residências.
No entanto, devido à resistência dos insurgentes, muitos, como Hasmane Alfa, têm medo de regressar. Alfa, uma das mais de 800.000 pessoas deslocadas pelos combates desde 2017, tinha 18 anos quando homens armados atacaram a sua aldeia natal de Quissanga, há três anos. Esteve separado do pai durante quatro dias e não sabia se ele estava vivo.
Alfa vive agora com familiares em Pemba, a capital da província, que fica 102 quilómetros a sul de Quissanga. Anseia por estabilidade na região.
“Há uma canção comum a todas as pessoas deslocadas: Paz! Queremos paz e tranquilidade e recuperar as poucas coisas que tínhamos,” disse Alfa à Voz da América (VOA).
Mariana Camaroti, da Cruz Vermelha de Moçambique, disse que milhares de pessoas regressaram às suas casas em Cabo Delgado desde o segundo semestre de 2022, embora muitas ainda enfrentem dificuldades.
“Estas pessoas que estavam a viver em campos de [PDI] ou acolhidas por famílias enfrentaram muitos desafios no acesso a serviços básicos, como saúde, educação, alimentação, água potável e meios de subsistência,” disse Camaroti à VOA. “Hoje, os deslocados continuam a enfrentar os mesmos desafios.”