ADF STAFF
O Ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Cristóvão Chume, estava cercado por um pequeno grupo de jornalistas e soldados quando transmitia uma mensagem à população de Muidumbe sobre a resiliência das forças insurgentes de Cabo Delgado.
“Eles vivem aqui na comunidade, talvez alguns deles estejam aqui neste momento,” disse no dia 21 de Fevereiro, com uma onda da sua mão girando em direcção a um grupo maior de espectadores que estavam em pé e sentados na sombra, do lado de fora, próximo do local improvisado para imprensa.
“Mas estamos a encontrá-los. Não iremos descansar até encontrarmos todos eles.”
Cinco dias depois, 10 rebeldes atacaram a aldeia próxima de Muambula, matando uma pessoa e ferindo várias outras. Muitos dos residentes fugiram para outras aldeias do distrito de Muidumbe.
Os extremistas violentos continuam a causar mortes, deslocamentos e destruição na província moçambicana de Cabo Delgado, apesar dos recentes relatos que sugerem que a insurgência diminuiu.
A analista sobre terrorismo, Jasmine Opperman, da África do Sul, disse que cerca de cinco grupos operam entre Macomia, Muidumbe, Nangade, Mueda e em lugares tão distante, em direcção ao sudoeste, como a segunda maior cidade da província, Montepuez.
As células formam-se, quebram-se, reagrupam-se, dependendo do seu objectivo. Aqueles que atacam as forças de segurança fazem-no em grupos maiores de 30 a 40, enquanto os pequenos grupos, de cinco a 10 podem atacar aldeias para obtenção de suprimentos.
“Claramente que os insurgentes ainda estão em movimento,” disse Opperman à ADF. “Sim, os seus números não são comparáveis a três ou quatro anos atrás, mas as habilidades de realizar ataques, atacar viaturas e utilizar DEIs [dispositivos explosivos improvisados] é um sinal de uma insurgência longe de ser derrotada.”
Um relatório do dia 13 de Fevereiro, das Nações Unidas, afirma que o número de combatentes insurgentes reduziu drasticamente com a chegada das forças de segurança da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, em Moçambique.
“O envio de forças regionais para a província de Cabo Delgado teve um impacto significativo sobre o Ahlu Sunna wal-Jama’a (ASWJ), desfazendo a sua liderança, as suas estruturas de comando e as suas bases,” afirmou a ONU.
O relatório da ONU citou que o ASWJ agora tem aproximadamente 280 combatentes, tendo reduzido desde os anteriores relatórios de 2.500 combatentes.
“Os combatentes que sobrevivem são combatentes fortalecidos, capazes de movimentar-se e atacar estrategicamente, depender de redes locais independentes e bem estabelecidas para apoio, habilidades e um fluxo de combatentes estrangeiros,” afirma o relatório.
“Os combatentes do ASWJ demonstraram melhorias na coordenação táctica e estratégica, obrigando as forças regionais a ultrapassarem os seus limites, lançando ataques contra civis, pessoas deslocadas internamente, abrigos e locais de interesses mineiros estratégicos no norte, centro e no sul de Cabo Delgado.”
O ASWJ, também conhecido como Estado Islâmico – Moçambique, conseguiu expandir o seu teatro de operações para a província de Nampula, a sul.
“Os terroristas dividiram-se em pequenos grupos,” disse Chume. “São estes pequenos grupos que continuam a constituir um grande desafio para nós.
“Eles continuam a aterrorizar a população, incendiando cidades, incendiando viaturas e matando pessoas. Temos estado a melhorar a nossa capacidade de perseguir os terroristas, o que pode ser visto pelo sentimento de segurança neste distrito de Muidumbe.”
Cerca de 54.000 residentes — mais de metade da população estimada do distrito — regressaram depois de ter fugido da violência, de acordo com o administrador do distrito, Saide Ali Shabane.
Mas esta sensação de paz foi muito curta para alguns.
Chume, um general que anteriormente era comandante das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, apelou os residentes de Muidumbe e de outros distritos afectados pelo terrorismo que fossem vigilantes e fornecessem informação sobre os extremistas que se infiltraram na população.
A capacidade de aterrorizar, disse Opperman, continua mais relevante do que os números de insurgentes.
“Claramente que ainda existe um ímpeto persistente para manter a insurgência activa,” disse. “Tem a ver com o que eles têm, como eles utilizam e como eles mantêm a capacidade de causar medo nos corações das comunidades, mesmo nas áreas exteriores de Mocímboa da Praia ou Palma.
“Por isso, a situação continua frágil para os que estão a regressar. Sendo assim, uma narrativa de normalização ou falar sobre em Cabo Delgado é ainda prematuro.”