EQUIPA DA ADF
A instabilidade política, as disputas entre agricultores e pastores, o desemprego, as divisões étnicas e a ascensão de organizações extremistas contam-se entre os factores que impulsionam a disseminação de armas ligeiras e de pequeno calibre no Sahel e na África Ocidental.
Os especialistas que participaram num webinar intitulado “Impulsionadores e Impacto do Tráfico de Armas na África Ocidental” tinham várias ideias sobre a forma de controlar a proliferação de armas, mas todos concordaram que tudo começa com uma maior segurança. O evento foi organizado pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS) em meados de Outubro.
O aumento de grupos extremistas violentos e de outros grupos armados precipitou a procura de armas ligeiras e de pequeno calibre na região, segundo Oluwole Ojewale, coordenador do observatório regional do crime organizado do ISS.
Ojewale escreveu recentemente um relatório sobre o tráfico de armas em zonas urbanas como Lagos, na Nigéria, um centro de tráfico de armas.
“À medida que as cidades continuam a crescer, as pessoas vêm para as cidades com a perspectiva de arranjar emprego e, quando não conseguem, recorrem aos crimes de rua ou a assaltos no trânsito,” disse Ojewale. “O que também está relacionado com isto é a disponibilidade do mercado e o facto de as armas serem vistas como um meio de subsistência para as pessoas que as produzem, os ferreiros.”
Em Bamako, no Mali, a instabilidade provocada pelo aumento de organizações extremistas alimenta a procura de armas.
“Podem continuar a recrutar membros e a radicalizá-los, mas se tiverem pouco acesso a armas, pouco poderão fazer em termos de criação de ataques violentos,” disse Ojewale.
A instabilidade política é um dos principais factores do tráfico de armas no norte da Nigéria, na região do Lago Chade e no Burquina Faso, segundo Idris Mohammed, director-executivo da Sulhu Development Initiative, uma organização humanitária não-governamental.
Mohammed, que é do noroeste da Nigéria, referiu que vários estudos demonstraram que muitas das armas que circulam actualmente podem ser atribuídas ao vasto arsenal do antigo governante líbio, Muammar Kadhafi.
“Em 2012 ou 2013, podia-se ir à comunidade vizinha e obter arma e munições reais por 10 dólares,” disse Mohammed. “É possível adquirir armas muito sofisticadas. Eram abundantes. Era como quando se vai ao mercado comprar arroz ou milho.”
O banditismo e as batalhas intermináveis entre agricultores e pastores também levam as pessoas a comprar armas para autodefesa, especialmente se as pessoas pensam que o seu governo é incapaz de as proteger, disse.
As armas também são atractivas para os jovens das zonas pobres.
“Quando se tem uma AK-47, passa-se a ser uma pessoa muito celebrada na comunidade,” disse Mohammed, que acrescentou que o tráfico prospera devido à existência de fronteiras porosas, à falta de segurança e à corrupção.
Mutiat T. Oladejo, da Iniciativa Obinrin Afrika para Investigação e Desenvolvimento, afirmou que as mulheres estão envolvidas no tráfico de armas a vários níveis.
“São negociadoras, encaminhadoras, compradoras, transportadoras e também recolhem informações sobre direcções ou rotas seguras,” disse Oladejo. “São também intermediárias e corretoras.”
Reduzir o fluxo de armas ilegais é um desafio complicado. Alguns dos especialistas apelaram que as nações abordem individualmente a questão, o que complementaria os esforços globais feitos pelo Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento e os esforços regionais, como a Convenção sobre Armas Ligeiras da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Nos termos da Convenção da CEDEAO, os Estados-membros concordam em controlar, regulamentar e proibir a transferência, o fabrico e a posse de armas ligeiras e de pequeno calibre.
No entanto, como observou o Dr. Sani Adamu, chefe interino das operações de apoio à paz da Comissão da CEDEAO, a convenção obriga cada Estado-membro a criar uma comissão nacional encarregada de combater o tráfico ilegal de armas através de uma lei do parlamento. Ele destacou a Nigéria como não o tendo feito.
“Estaremos de facto totalmente preparados para responder aos desafios?” disse Adamu. “Houve uma mudança de paradigma nesta luta, passando do centro para os níveis comunitários, olhando para as periferias do país. Será que estamos realmente a pôr em prática estas medidas para travar esta luta?”