EQUIPA DA ADF
Segundo os especialistas, as recentes acções de um afiliado do grupo do Estado Islâmico no nordeste do Mali indicam que o grupo entrou numa nova fase e acredita que não é desafiado pelo governo liderado pelo exército.
Os extremistas capturaram a cidade de Tidermene, no nordeste do Mali, no dia 10 de Abril, sem luta. Reuniram os residentes, distribuíram panfletos e disseram-lhes para se prepararem para pagar o zakat, um imposto islâmico.
“Agora estão a tentar governar,” disse o especialista da France 24 em assuntos de terrorismo, Wassim Nasr, durante uma emissão do dia 13 de Abril. “São os mesmos panfletos que foram distribuídos na Síria em 2014, o que significa que estamos numa nova fase de tentativa de conquistar os corações e as mentes da população depois de confirmarem a sua superioridade sobre as outras facções.”
A Província do Estado Islâmico no Sahel (ISSP), como o grupo é actualmente conhecido, tem levado a cabo uma grande ofensiva em toda a região da fronteira tríplice do Mali com o Níger, a leste, e o Burquina Faso, a sul.
Há mais de um ano que o ISSP luta contra os extremistas rivais ligados à al-Qaeda, as milícias locais e o exército maliano, que tem uma presença limitada na zona.
“Durante um ano, os civis tiveram de fazer uma escolha na ausência do Estado maliano,” disse Nasr. “Tiveram de escolher o lado da al-Qaeda ou do Estado Islâmico.”
Os ataques de represália são comuns, uma vez que os grupos terroristas acusam os civis de ajudarem os seus rivais ou o governo.
Bram Posthumus, jornalista e especialista em assuntos do Sahel, baseado em Abidjan, Costa do Marfim, disse que a conquista da aldeia estratégica de Tidermene fazia parte de um esforço coordenado do ISSP para assumir o controlo da região de Menaka.
“As aldeias foram atacadas, os mercados foram atacados, as pessoas foram-se embora e as pessoas dirigiram-se para os três principais centros da região,” disse à BBC.
As comunidades locais registaram cerca de mil mortes nos combates durante o ano passado, segundo a Radio France Internationale. A população de Menaka triplicou durante esse período devido ao fluxo de pessoas deslocadas que fugiam dos ataques nas comunidades vizinhas, de acordo com dados das Nações Unidas.
El-Ghassim Wane, chefe da missão de estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA), condenou os grupos extremistas que atacam civis.
“Na cidade de Menaka, mais de 30.000 pessoas já se refugiaram desde o ano passado,” disse ao Conselho de Segurança em Abril. “O fluxo de pessoas deslocadas internamente aumentou a pressão sobre a resposta humanitária, com a população a manifestar necessidades urgentes relacionadas com água potável, alimentos, medicamentos e abrigo.”
Tidermene fica a cerca de 75 quilómetros a norte de Menaka. Os ataques anteriores do ISSP nos últimos meses revelam um esforço para cercar o único centro urbano da região.
“Menaka está agora sob ameaça directa do Estado Islâmico,” disse Posthumus. “Tidermene era o último lugar onde havia uma rota de acesso livre para Menaka.”
A cidade pode cair nas mãos do ISSP, dando-lhe um centro urbano a partir do qual pode obter receitas e lançar ataques.
“O Estado Islâmico está claramente a visar a fronteira,” disse Posthumus. “Quer controlar uma grande parte da fronteira, especialmente com o Níger. E depois tem uma base. Tem um sítio a partir do qual pode operar e será muito difícil desalojá-lo de lá.”
As forças armadas do Mali e os mercenários russos do Grupo Wagner ainda estão presentes em Menaka, tal como a MINUSMA.
Quando questionado sobre a captura de Tidermene, um oficial do exército disse o seguinte à Agence France-Presse: “O exército maliano controla Menaka e está a garantir a protecção dos civis.”
Em Dezembro de 2022, no entanto, um ataque descarado do ISSP a um quartel militar maliano nos arredores da cidade de Tessit, na região vizinha de Gao, mostrou a relutância do exército do Mali ou dos mercenários do Grupo Wagner em abandonar as suas bases.
“Eles estão presentes, mas não têm ganhos militares no terreno, nem no centro nem na parte norte do Mali,” disse Nasr sobre o exército e os mercenários. “As autoridades malianas estão apenas a assistir e são incapazes de combater esses grupos jihadistas. Não têm os meios. Nem mesmo o Grupo Wagner tem os meios.
“O porto seguro que o Estado Islâmico procurou criar desde Março de 2022 está hoje conseguido.”