EQUIPA DA ADF
Cinco anos depois da sua formação, a Iniciativa de Acra concordou em reunir uma força militar multinacional para acabar com a propagação do extremismo violento que se alastra para fora do Sahel em direcção aos países da costa ocidental de África.
Uma reunião da Conferência Internacional da Iniciativa de Acra, havida no Gana, nos dias 21 e 22 de Novembro, abordou o contínuo perigo do extremismo violento nos Estados sahelianos e a ameaça que representa para os países costeiros da África Ocidental.
“A situação é preocupante e bem alarmante,” Albert Kan-Dapaah, chefe de segurança nacional do Gana, disse ao The Africa Report. “Não podemos ficar despreocupados. Nenhum país está seguro contra as actividades nefastas destes terroristas, por isso, devemos unir os nossos recursos para combater os jihadistas.”
Benin, Burquina Faso, Costa do Marfim, Gana e Togo criaram a Iniciativa de Acra em 2017, em
resposta à crescente ameaça extremista regional. Dois anos depois, o Mali e o Níger juntaram-se como observadores. A iniciativa centra-se em três áreas: formação, operações militares transfronteiriças e partilha de informação e inteligência.
A conferência aprovou o envio de 2.000 soldados para o Burquina Faso dentro de um mês, como parte de uma Força-Tarefa Conjunta Multinacional/Iniciativa de Acra (MNJTF/AI), de acordo com a Agência de Imprensa Africana (APA), um serviço de notícias com sede no Senegal. A força-tarefa inclui 10.000 soldados, a maior parte dos quais estará estacionada em Tamale, Gana, com uma componente de inteligência na capital burquinabê, Ouagadougou.
O envio visa conter uma mistura de grupos extremistas que têm causado destruição no Burquina Faso durante vários anos. A violência — maior parte da qual ligada ao al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico — começou no Mali, em 2012, e proliferou constantemente entrando no Burquina Faso e outras partes. Os líderes extremistas declararam explicitamente as suas intenções de expandir em direcção à costa do Golfo da Guiné, primariamente através da Costa do Marfim e do Benin.
Esta nova força-tarefa junta-se a um esforço militar com um nome semelhante formado por países da Bacia do Lago Chade, Camarões, Chade, Níger e Nigéria, juntamente com o Benin, em 2014, que enviou 8.000 tropas para a luta contra os militantes do Boko Haram.
As forças da MNJTF/AI irão levar a cabo a operação Koudanlgou avançada, depois de receber as instruções por parte do Chefe do Estado-Maior da Defesa do Gana, o Vice-Almirante Seth Amoama, de acordo com o The Sun, um jornal nigeriano.
As forças da Iniciativa de Acra conduziram as Operações Koudanlgou I, II e III, entre Maio de 2018 e Novembro de 2019. A primeira lidou com a segurança transfronteiriça entre Burquina Faso, Gana e Togo. Burquina Faso, Costa do Marfim e Gana realizaram a segunda operação, e Togo e Gana cooperaram na terceira.
Estas operações fronteiriças levaram à detenção de cerca de 700 suspeitos membros de gangues e terroristas e à apreensão de algumas armas, de acordo com o The Africa Report.
Apesar da recente redução das forças europeias no Sahel, a Iniciativa de Acra recebe financiamento da União Europeia, disse Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, que faz a supervisão dos assuntos militares da UE.
Michel disse que 135 milhões de euros (mais de 142 milhões de dólares) já tinham sido comprometidos até 2024 para o controlo das fronteiras, melhoria da capacidade de inteligência, prevenção de conflitos e protecção de infra-estruturas “para a segurança e estabilização” da zona Norte dos Estados costeiros de Benin, Costa do Marfim, Gana e Togo.
Espera-se que a MNJTF/AI necessite de 550 milhões de dólares para operar, e os Estados-membros pretendem angariar esses fundos para cobrir os custos, noticiou a APA, que podem incluir o financiamento da União Africana, UE, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e da Grã-Bretanha.
A Nigéria concordou em aderir à sede da força-tarefa como observador e fornecer apoio aéreo e logístico importante, noticiou a APA.
Giovanie Biha, representante especial das Nações Unidas para a África Ocidental e para o Sahel, disse aos participantes da conferência que eles iriam “precisar de garantir uma resposta consistente que combina a abordagem militar com intervenções a longo prazo que visam lidar com os deficits de governação observados nas comunidades afectadas,” de acordo com o Gabinete das Nações Unidas para África Ocidental e para o Sahel.
Entre as preocupações não militares encontram-se o desemprego dos jovens, que deixa os civis vulneráveis para o recrutamento pelos terroristas e grupos extremistas.
“Os actuais níveis de desemprego e subemprego entre jovens e mulheres, na África Ocidental, constitui uma preocupação da política e de segurança,” Patrick Osei-Kufuor, investigador principal do Departamento de Estudos de Paz, da Universidade de Cape Coast, Gana, disse ao The Africa Report.
Kan-Dapaah disse ao The Africa Report que os líderes regionais sabem que os extremistas utilizam o desemprego como uma base para o recrutamento e radicalização.
“Estamos absolutamente preocupados,” disse. “A criação de empregos é um dos principais itens da nossa agenda. Não queremos ter uma situação que esteja fora do nosso controlo, por isso, também faremos com que seja difícil para os jihadistas radicalizarem os jovens nas comunidades fronteiriças.”