EQUIPA DA ADF
Um novo serviço noticioso russo está a ser alvo de críticas por divulgar informações enganosas e prejudiciais em África.
A Iniciativa Africana é uma plataforma online com profundas ligações ao famoso grupo de mercenários russos anteriormente conhecido como Grupo Wagner, que agora opera no continente sob o controlo do Ministério da Defesa russo com um nome renovado: o Africa Corps.
Artyom Kureev, director-geral da Iniciativa Africana, alega que a sua organização pretende tornar-se a “ponte de informação entre a Rússia e África.”
Mas os especialistas dizem que o seu verdadeiro objectivo é disfarçar e espalhar a desinformação na esperança de que seja vista como uma reportagem independente e não como uma campanha de propaganda dirigida por Moscovo. Tem sido associada à desinformação sobre vacinas, iniciativas de saúde pública e matérias destinadas a prejudicar a democracia e a apoiar ditaduras militares.
O analista Jedrzej Czerep, chefe do Programa para o Médio Oriente e África, do Instituto Polaco de Assuntos Internacionais, disse que o Africa Corps simplesmente pegou nas peças das operações de guerra de informação do Grupo Wagner.
“A Iniciativa Africana, que, muitas vezes, funcionava como a ala dos meios de comunicação social [do Africa Corps], era mais flexível e gostava de reutilizar todos os recursos que já existiam,” disse à BBC.
A Iniciativa Africana tem um website com artigos em russo, inglês, francês e árabe. Tem também um canal de vídeo na internet e cinco canais do Telegram, um dos quais com mais de 55.000 subscritores.
Conta com escritórios locais em Ouagadougou, no Burquina Faso, e, Bamako, no Mali — países onde os mercenários russos operam — e começou a organizar eventos em todo o Sahel e na África Ocidental.
No Burquina Faso, houve relatos de “aulas de amizade” nas escolas, onde os alunos foram ensinados sobre a Rússia, um jogo de futebol precedido pelo hino nacional russo e um festival de grafite em que os participantes desenharam imagens do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Alguns eventos, como o dia da limpeza em Malabo, na Guiné Equatorial, a 29 de Setembro, parecem ser inócuos, ou mesmo socialmente conscientes.
No entanto, cada participante local recebeu uma camiseta de Putin e interagiu com jornalistas locais e bloguistas populares, alguns dos quais foram apanhados nas operações de influência da Rússia.
Este ano, a Iniciativa Africana organizou e patrocinou várias “visitas de imprensa” para repórteres e influenciadores africanos visitarem a sua sede em Moscovo.
Beverly Ochieng, associada sénior do programa para África, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, afirmou que a Rússia está a seguir o modelo da China, organizando viagens sumptuosas, concebidas para sujeitar os visitantes a doses elevadas de propaganda e desinformação pró-Rússia.
“A Rússia utiliza estas visitas guiadas como forma de propagar certas narrativas,” disse à BBC num artigo de 9 de Setembro.
Quando os jornalistas africanos doutrinados relatam estes temas e “chegam ao público em línguas que eles reconhecem,” disse Ochieng, propagam a “impressão de autenticidade” em vez de revelarem “uma campanha mais alargada usada para mostrar a Rússia de uma forma positiva.”
Os especialistas chamam a esta técnica “lavagem de conteúdos” através de indivíduos e grupos locais.