EQUIPA DA ADF
Há mais de 23 anos que milhares de forças de manutenção da paz das Nações Unidas mantêm uma presença constante na região leste da República Democrática do Congo (RDC).
Incapazes de resolver o problema da violência profundamente enraizada que exigiu a missão, conhecida como MONUSCO, os capacetes azuis estão agora a retirar-se. A chefe da missão, Bintou Keita, anunciou a 13 de Janeiro a retirada de 2.000 soldados da paz, no âmbito da primeira fase de encerramento da missão.
“Temos um limite máximo de 13.500 tropas autorizado pelo Conselho de Segurança,” disse durante uma conferência de imprensa conjunta com funcionários do governo. “A partir de 30 de Abril, com o início da retirada em curso, atingiremos os 11.500.”
Inicialmente prevista para encerrar a missão até ao final de 2025, a ONU aceitou o pedido do governo da RDC para acelerar a retirada e espera agora concluir a terceira e última fase da retirada da MONUSCO até 31 de Dezembro de 2024.
“Continuamos a trabalhar em estreita colaboração com as autoridades congolesas para acelerar a retirada progressiva e responsável da missão de manutenção da paz do Kivu do Sul, consolidando simultaneamente as conquistas da paz,” o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse num comunicado.
“A primeira fase da retirada da MONUSCO já começou e levará à retirada completa da MONUSCO do Kivu do Sul até Junho de 2024, juntamente com o reforço simultâneo das autoridades estatais na província,” disse Dujarric. “Durante esta fase, as bases dos nossos colegas das forças de paz no Kivu do Sul serão entregues ao governo.”
Com a partida da MONUSCO, uma força regional denominada SAMIDRC, composta por tropas da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, está a ser destacada com o mandato de enfrentar militarmente os rebeldes do M23 apoiados pelo Ruanda.
“A retirada da MONUSCO não significa necessariamente o fim da luta que estamos a empreender para proteger os interesses territoriais do nosso país,” o Ministro dos Negócios Estrangeiros congolês, Christophe Lutundula, disse durante a conferência de imprensa de 13 de Janeiro na capital, Kinshasa. “Temos de continuar a lutar.”
A violência no leste da RDC tem significado uma luta de vida ou morte para muitos dos seus habitantes. Um número recorde de 6,9 milhões de congoleses estão deslocados internamente. As tensões entre os governos da RDC e do Ruanda estão a ferver. E mais de 120 grupos armados continuam a perturbar qualquer aparência de vida normal.
“Será o Congo uma causa perdida, uma distopia hobbesiana para sempre arruinada pela pobreza em massa e pela violência generalizada?” Alan Doss, antigo representante especial do secretário-geral da ONU na RDC, reflectiu num artigo de opinião publicado na página da internet do Instituto Egmont, no dia 30 de Novembro de 2023. “Isso não é inevitável. No entanto, se o país quiser ter um futuro melhor, a mudança é inevitável e urgente.”
Doss, que passou vários dos seus 44 anos na ONU na RDC, é agora conselheiro político sénior na Fundação Kofi Annan. Ele admite que a MONUSCO tenha cometido erros que contribuíram para a sua impopularidade, mas acredita firmemente que a forma de melhorar a vida no leste da RDC não será através do cano de uma arma.
“Uma estratégia política e de segurança bem articulada e integrada… deve basear-se no envolvimento e na conciliação da comunidade,” escreveu. “Mas a estratégia tem [sido] também de combater os interesses instalados — locais e estrangeiros — enraizados na economia política do Congo Oriental, que estão a ajudar a impulsionar o conflito violento.
“Um Congo em paz e com prosperidade seria também extremamente benéfico para toda a África. A África precisa de campeões económicos porque, tal como vimos na Ásia Oriental no último meio século, a prosperidade pode espalhar-se para abraçar os vizinhos. Ao longo dos últimos sessenta anos, o povo do Congo sofreu gravemente com uma crise após outra; merece um futuro melhor.”
Keita fez questão de esclarecer que a ONU não abandonará o povo congolês.
“Gostaria de especificar que a retirada da MONUSCO não é a retirada das Nações Unidas,” frisou. “As Nações Unidas estarão presentes antes, durante e após a existência da missão de manutenção da paz.”