EQUIPA DA ADF
Dezenas de países e organizações não-governamentais estiveram reunidas num evento humanitário virtual, no dia 20 de Outubro, para fazer a sensibilização e angariar fundos para apoiar a região africana do centro de Sahel, que tem sido vítima de crises.
Uma das ameaças mais alarmantes, a longo prazo, é a ameaça contra as crianças.
O surgimento da COVID-19 agravou uma catástrofe já existente, ao encerrar todas as escolas que ainda não tinham sido encerradas pelo conflito armado em toda a região.
“Neste preciso momento, 7,2 milhões de crianças necessitam urgentemente de ajuda humanitária — até 4,3 milhões somente no ano passado — em Burkina Faso, Mali e Níger,” Directora-Executiva do UNICEF, Henrietta Fore, disse na mesa redonda ministerial, co-organizada pelas Nações Unidas, Alemanha, Dinamarca e pela União Europeia.
“Estes países são vítimas de uma infusão tóxica de instabilidade, violência armada, pobreza extrema, fome e agora, COVID-19, colocando o futuro de uma geração inteira de crianças e jovens em risco.”
Os números são chocantes.
Aproximadamente 13 milhões de crianças em toda a região perderam quase quatro meses de estudos por causa da COVID-19, de acordo com uma pesquisa publicada pelo Conselho Norueguês de Refugiados (CNR). Trata-se de 5,1 milhões de alunos no Burkina Faso, 3,8 milhões de crianças no Mali e 3,8 milhões no Níger.
“As crianças estão no meio de uma ameaça dupla contra a saúde e contra a segurança no centro do Sahel,” Maureen Magee, directora regional do CNR na África Central e Ocidental, disse num comunicado. “Todas as 40.000 escolas da região foram obrigadas a encerrar as suas actividades por causa da pandemia, forçando os alunos desde o ensino pré-primário ao secundário a saírem das salas de aulas, numa região onde o acesso à educação, muitas vezes, já vem prejudicado pelo facto de as crianças crescerem no meio da insegurança, deslocamentos repetidos e pobreza.”
Mais de 20 milhões de crianças estão actualmente fora das escolas, mais do que o dobro desde que a pandemia começou, disse Fore, necessitando de mais de ensino a distância e opções digitais.
“Ajudem-nos a aumentar a aprendizagem inovadora e de qualidade, para cada criança,” disse ela, “com uma ênfase especial sobre os refugiados, imigrantes, crianças sem-abrigo e raparigas.”
A organização de ajuda humanitária Save the Children lamentou como a pandemia afecta profundamente o ensino e a segurança, alertando que as crianças fora da escola estão mais propensas a ser vítimas de casamentos prematuros, abuso, exploração de mão-de-obra infantil, sequestros, conflitos violentos e recrutamento.
“A COVID-19 está a pressionar uma população já vulnerável,” disse Mateo Caprotti, director de programas da Save the Children, na África Ocidental e Central. “Milhares de famílias em toda a África Ocidental estão a ser obrigadas a tomar decisões difíceis entre comprar comida ou pagar por cuidados de saúde ou pela educação, uma vez que não têm mais condições de pagar por tudo.”
Fazendo um apelo à comunidade internacional, por apoio de emergência no valor de 2,4 bilhões de dólares, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, abriu a mesa redonda humanitária com uma mensagem em formato de vídeo.
“Precisamos de reverter esta espiral descendente,” disse.
Até ao fim do evento, 24 governos e doadores institucionais estavam comprometidos em doar mais de 1,7 bilhões de dólares: dos quais 996,8 milhões de dólares para 2020 e 725,4 milhões de dólares para 2021 e em diante. O financiamento irá ajudar aproximadamente 10 milhões de pessoas em nutrição e comida, serviços de saúde, água e saneamento, abrigo, ensino e protecção.
Por mais útil que este apoio possa ser, o valor esteve 700 milhões de dólares a menos em relação ao objectivo da mesa redonda, e as necessidades irão continuar a aumentar.
“Com uma população de mais de 30 milhões de jovens com uma idade média de 17 anos, esta é uma crise de crianças,” Eric Hazard, director de políticas pan-africanas na Save the Children, disse numa declaração. “Bem antes da pandemia da COVID-19, 8 milhões de crianças já estavam fora das escolas devido à violência e insegurança. As crianças da região estão a exigir uma abordagem mais forte e que focalize mais no seu ensino.
“Temos de priorizar o ensino e a protecção das crianças.”