EQUIPA DA ADF
Numa altura em que luta contra o aumento da inflação e a seca contínua, o Djibouti tornou-se o mais recente país a suspender o seu pagamento das dívidas chinesas.
A decisão do Djibouti de reter o reembolso faz com que este seja o segundo país africano, depois da Zâmbia, a tomar esta medida. A China é o maior credor do Djibouti, detendo mais de 1,4 bilhões de dólares em dívida — o equivalente a cerca de 45% do produto interno bruto daquele país, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
O Djibouti encontra-se entre os 22 países africanos considerados como estando em dificuldades financeiras, de acordo com o Banco Mundial. Assim como o Djibouti, muitos deles possuem pesados fardos da dívida chinesa.
Suspendendo os seus pagamentos, o Djibouti está a seguir o caminho criado pela Zâmbia, que incorreu no incumprimento em dívidas do Eurobond, em 2020, sob a pressão da pandemia da COVID-19. A Zâmbia recentemente cancelou 2 bilhões de dólares em empréstimos pendentes, incluindo muitos da China, como parte de um acordo de restruturação da dívida.
O Djibouti deve dinheiro a instituições chinesas, como o Banco de Exportação e Importação da China, em vez do próprio governo. Isso significa que as suas dívidas têm menor probabilidade de serem perdoadas e maior probabilidade de serem renegociadas com os pagamentos a serem prorrogados por mais tempo no futuro.
A economia do Djibouti foi prejudicada pela invasão da Rússia na Ucrânia e pelo conflito de Tigré, na vizinha Etiópia, ambas fontes importantes de alimentos para aquele país. A seca em todo o Corno de África também está a exercer pressão sobre as importações de produtos alimentares.
Como resultado destas pressões, a inflação do Djibouti encontra-se em 11%.
Medidas tomadas para mitigar os impactos da inflação e da seca colocaram mais pressão sobre a capacidade do Djibouti de manter o serviço da sua dívida com a China, de acordo com uma análise de 2022, da Chatham House.
Os pagamentos da dívida do Djibouti triplicaram em 2022 para 184 milhões de dólares e espera-se que aumentem para 266 milhões de dólares, em 2023, numa altura em que o país começa os seus pagamentos da conduta de água para Etiópia, financiada pela China, de acordo com o Banco Mundial.
Diferentemente de outros países, como Angola, o Djibouti não tem um recurso natural valioso como petróleo para oferecer em troca de dinheiro para reembolsar as suas dívidas. Contudo, a sua localização estratégica no Mar Vermelho implica que a China será obrigada a chegar a uma outra acomodação, de acordo com a Chatham House.
Um potencial incumprimento do serviço das suas dívidas com a China aumenta o espectro de aquele país despoletar uma armadilha da dívida que iria possibilitar que a China assuma o controlo de um ou todos os projectos que financiou, para recuperar o seu dinheiro. Isso pode significar que o Djibouti perca o controlo dos seus portos ou da sua zona de comércio livre internacional, juntamente com os sistemas de telecomunicação e transporte ferroviário que os chineses financiaram.
O Porto Internacional de Hambantota, da Sri Lanka, construído pelos chineses, tornou-se um exemplo de uma armadilha da dívida que paira sobre os devedores africanos da China. Quando o porto não conseguiu obter ganhos suficientes para reembolsar as suas dívidas, a China assumiu as operações naquele ponto com uma proporção de 70%.
Os cidadãos do Djibouti estão cada vez mais preocupados com a escala das dívidas do seu país com a China, de acordo com a Chatham House.
Contudo, no relatório de 2022 sobre a dívida da China em África, os analistas da Chatham House deram uma opinião diferente sobre a problemática da dívida: a China é que se encontra na armadilha da dívida.
“O Djibouti encontra-se em dificuldades de pagamento da dívida, mas o país pode ser importante demais para a China, para permitir que ele tenha um incumprimento,” escreveram os analistas no seu relatório. “Longe de ser uma estratégia sofisticada para expropriar activos africanos, os extravagantes empréstimos chineses, nas suas fases iniciais, podem ter criado uma armadilha da dívida para a China — envolvendo parceiros africanos profundamente obstinados e cada vez mais determinados.”