EQUIPA DA ADF
Antes da variante Ómicron da COVID-19 ter sido descoberta na África do Sul, em Novembro de 2021, as reinfecções eram raras. Quando um paciente se recuperava do vírus, geralmente não o contraíam de novo.
A Ómicron mudou esta situação. Agora muitas pessoas ficam doentes duas ou mais vezes.
Recentemente, as subvariantes BA.4 e BA.5 da Ómicron impulsionaram uma vaga de novas infecções a nível mundial, porque as suas proteínas spike com mutações penetram com maior facilidade nas células humanas e causam a COVID-19.
África do Sul estava na vanguarda dessa vaga em Maio, numa altura em que o país mais assolado do continente experimentou a mais recente das cinco vagas proeminentes de infecções pela COVID-19. Contudo, em termos de internamentos e mortes foi a mais ligeira.
Dr. Laith Abu-Raddad, epidemiologista de doenças contagiosas, que estudou as reinfecções durante mais de um ano, tem uma explicação.
“A imunidade existente devido a infecções anteriores é elevada em África,” disse à ADF. “Já havia protecção significativa contra a infecção com BA.4 e BA.5 no seio da população.”
Desde que a pandemia começou, os doentes da COVID-19 e os investigadores quiseram saber por quanto tempo a imunidade natural duraria.
Novas análises de dados demostraram que uma infecção assintomática tipicamente causa uma resposta imune robusta e deixa para trás anticorpos que oferecem alguma protecção contra doença grave e morte antes de a imunidade natural esgotar-se.
Um estudo recente feito pelo maior banco de sangue da África do Sul registou a presença de anticorpos de COVID-19 adquirida em infecções anteriores no sangue de 87% da população.
Isso explica a quinta vaga mais fraca.
“As reinfecções são mais ligeiras do que as primeiras infecções,” disse Abu-Raddad. “Isso reduz substancialmente a possibilidade de internamentos nos casos de reinfecção pela BA.4 ou BA.5.
“A BA.4 e a BA.5 apenas estão associadas à evasão imunológica parcial e não à evasão imunológica total.”
Abu-Raddad, professor de Políticas e Pesquisas de Prestação de Cuidados de Saúde, no Weill Coronel Medicine-Qatar, em Doha, foi co-autor de um novo estudo que analisou os casos de COVID-19 do Qatar desde o aparecimento das estirpes BA.4 e BA.5.
Embora não tenha ainda sido revisto pelos pares e tenha sido publicado no servidor pré-impressão do medRxiv, no dia 12 de Julho, o estudo de Abu-Raddad demonstra que estar infectado com uma versão anterior da COVID-19, especialmente a Ómicron, fornece alguma imunidade contra a BA.4 e BA.5.
A pesquisa concluiu que a reinfecção anterior pela Ómicron era de 79,7% eficaz na prevenção da infecção pela BA.4 e BA.5, em comparação com 28,3% para pessoas que foram infectadas com estirpes anteriores.
No final de Julho, o Director-Geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus, alertou que a BA.4 e a BA.5 estavam a impulsionar o mais recente aumento de infecções.
“Nas últimas seis semanas, o número semanal global de casos registados quase que duplicou,” referiu num comunicado. “Enquanto o vírus continua a circular amplamente, novas e mais perigosas variantes estão a emergir.”
A mais recente vaga da África do Sul atingiu o pico em meados de Maio e diminuiu em finais de Junho. Neste momento, 15 outros países africanos estão a lidar com as suas quintas vagas. Mauritânia e Maurícias estão a experimentar as suas sextas vagas.
“A imunidade que se obtém destas infecções da Ómicron, na verdade, protege-nos até certo ponto de outras subvariantes da Ómicron,” Alex Sigal, um virologista do Instituto de Pesquisa de Saúde de África, em Durban, África do Sul, disse à revista Nature.
Ao invés de atribuir a imunidade natural a uma estirpe em particular, Abu-Raddad disse que o objectivo do seu estudo era de determinar quem agora se encontra mais susceptível à reinfecção.
“Históricos diferentes equipam as pessoas com imunidades diferentes contra as próximas infecções,” disse à Nature.