EQUIPA DA ADF
Desde o início da pandemia da COVID-19, os cientistas afirmaram que uma das formas para derrotar o vírus seria alcançar a imunidade comunitária.
Agora muitos estão a questionar se a imunidade comunitária da COVID é sequer possível.
O conceito de imunidade comunitária é simples: quando uma elevada percentagem da população é imune a uma doença contagiosa, quer através de tratamento médico ou depois de recuperação de uma infecção, isso garante a protecção indirecta para toda a população. Quando o vírus não pode saltar rapidamente de pessoa para pessoa, a propagação reduz e, eventualmente, o vírus deixa de ser uma ameaça.
Os epidemiologistas Gypsyamber D’Souza e David Dowdy, escrevendo para a Escola de Saúde Pública de Bloomberg, explicam a imunidade comunitária desta forma: eles observam que, em algumas partes do mundo, mais de 90% das crianças receberam tratamentos médicos para prevenir doenças como a pólio, o sarampo, a papeira e a rubéola na altura em que completaram os seus dois anos de idade. Este nível de imunidade garante a protecção para a população como um todo, mesmo para aqueles que não estão imunes, “reduzindo a circulação viral e as possibilidades de alguém que esteja vacinado apanhe o vírus.”
Se uma pessoa com sarampo tiver de chegar em tal sociedade, nove em cada 10 pessoas que esta pessoa pode infectar já estariam imunes, explicam eles. Isso faz com que seja extremamente difícil para que o sarampo se propague.
Agora, os cientistas afirmam que a imunidade comunitária para a COVID-19 provavelmente não venha a acontecer, porque não existem pessoas suficientes que estejam a receber tratamentos médicos. Existe um problema adicional de que o vírus esteja a sofrer mutações de forma muito rápida para ser facilmente controlado.
O especialista em doenças contagiosas, Dr. Christian Ramers, disse ao NBC News que acredita que a variante Delta “mudou tudo,” porque ela é muito mais contagiosa, parece ser um pouco mais severa e evadiu-se de tratamentos médicos preventivos.
Os cientistas da Escola de Saúde Pública Harvard T.H. Chan disseram que, diferentemente das doenças como a varicela e o sarampo, agora parece que a COVID não será erradicada através da imunidade comunitária. Ao invés disso, disseram eles, o vírus tornar-se-á endémico, significando que pessoas suficientes irão ganhar imunidade de tal forma que haverá menos transmissão e menos hospitalizações e mortes relacionadas com a COVID-19, mesmo que o vírus continue a circular.
O verdadeiro impacto da COVID-19 em África é difícil de avaliar com exactidão. Muitos países africanos possuem uma vigilância irregular, por isso, é difícil compilar as estatísticas.
Wafaa El-Sadr, presidente da saúde global na Universidade de Columbia, disse ao The Associated Press que, apesar de a África não possuir os recursos para lutar contra a COVID da forma como outras partes do mundo estão a fazer, de alguma forma, parece “estar a ter uma melhor prestação.” Durante meses, a Organização Mundial de Saúde descreveu África como sendo “uma das regiões menos afectadas do mundo” nos seus relatórios semanais sobre a pandemia.
Os cientistas afirmam que existem várias razões para o impacto relativamente baixo que a doença teve em África, em comparação com outras partes do mundo. Os africanos são mais resistentes à doença do que as pessoas de outras partes do mundo, porque eles são mais jovens. A idade média em África é de 20 anos, em comparação com 43 anos na Europa Ocidental. África também possui baixas taxas de urbanização — fazendo com que seja mais difícil para que a doença se propague — e as pessoas do continente tendem a passar mais tempo fora de casa.
Devi Sridhar, da Universidade de Edinburgh, disse ao The Associated Press que os líderes africanos ainda não tiveram o crédito que merecem por responderem de forma rápida à COVID. Ela observou especificamente a decisão do Mali de encerrar as suas fronteiras antes mesmo de a COVID-19 ter chegado.
“Penso que existe uma abordagem cultural diferente em África, onde estes países abordaram a COVID com um sentimento de humildade, porque eles já experimentaram coisas como Ébola, pólio e malária,” disse Sridhar.