EQUIPA DA ADF
A hostilidade da junta no poder no Mali para com as Nações Unidas está a dificultar o cumprimento do mandato da missão de manutenção da paz naquele país.
Os líderes militares do Mali expulsaram o porta-voz da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA) pelos comentários que ele fez no Twitter sobre a detenção de 49 soldados costa-marfinenses naquele país, no dia 10 de Julho.
A publicação do porta-voz, Olivier Salgado, no Twitter, afirmava que o governo do Mali teve conhecimento da chegada dos 49 soldados da Costa do Marfim com antecedência. Ele disse que eles faziam parte de uma equipa de apoio logístico e o seu envio é uma prática comum para apoiar contingentes nacionais na missão da ONU.
O governo acusou os soldados de serem mercenários enviados para derrubar a junta. Eles continuam detidos, aguardando julgamento. As autoridades malianas consideram a publicação de Salgado de “tendenciosa e inaceitável.”
A ONU prorrogou o mandato da manutenção de paz da MINUSMA por mais 12 meses, no final de Junho.
Na altura, o embaixador do Mali na ONU, Issa Konfourou, disse que o seu governo não podia garantir a livre movimentação dos soldados de manutenção da paz, viajando pelo país e investigando violações de direitos humanos. O Mali não permitiria que a missão renovada cumpra o seu mandato, disse Konfourou.
A MINUSMA opera no Mali desde 2013, quando foi criada para ajudar o então governo a lidar com a insurgência extremista no norte do país.
Trata-se de uma das maiores missões de manutenção de paz da ONU, com mais de 17.600 membros que operam no Mali desde Abril. É também uma das missões mais mortais. Desde o seu lançamento em 2013, a MINUSMA já registou 275 mortes, mais de metade delas em actividades hostis.
No dia 14 de Julho, quatro dias depois da apreensão dos soldados costa-marfinenses, a junta anunciou que estava a proibir a rotatividade de tropas da MINUSMA. No dia seguinte, o Egipto anunciou que iria retirar as suas forças da MINUSMA no dia 15 de Agosto.
“A rotatividade dos contingentes da missão é de extrema importância para a eficácia das suas operações e para o moral dos soldados,” disse Salgado, na altura. “Tudo deve ser feito para a sua resolução urgente, especialmente pelo facto de que alguns dos soldados em causa deviam ter sido substituídos vários meses atrás.”
As autoridades egípcias afirmaram que a retirada era temporária e feita em resposta aos ataques que causaram a morte de sete dos seus soldados que acompanhavam as colunas da MINUSMA no país. Dois soldados egípcios morreram nos ataques do dia 5 de Julho, em Gao. Uma dezena de soldados de manutenção da paz da MINUSMA morreram, no Mali, desde Janeiro, de acordo com o mais recente relatório da MINUSMA.
O mesmo relatório, emitido no dia 1 de Julho, menciona 213 ataques com recurso a dispositivos explosivos improvisados — mais 43% em comparação com os anteriores 12 meses.
A MINUSMA instigou a ira da junta pelas suas investigações de violações de direitos humanos, que aumentaram drasticamente desde a chegada, em Dezembro último, de mercenários do Grupo Wagner da Rússia.
A MINUSMA registou 684 violações de direitos humanos na primeira metade deste ano, incluindo 155 execuções sumárias e 58 desaparecimentos. Mais de 7,5 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária naquele país, um aumento de 25% num ano, afirma o relatório.
O caso mais dramático de violação de direitos humanos deste ano ocorreu na comunidade de Moura, no centro de Mali. Tropas malianas e mercenários do Grupo Wagner cercaram a comunidade no dia 27 de Março e passaram os quatro dias seguintes a executar 300 homens.
A Humans Rights Watch descreveu o massacre como sendo “a pior atrocidade ocorrida numa só vez registada no conflito armado do Mali, que já dura há uma década.”
Konfourou disse que é responsabilidade do Mali investigar as violações de direitos humanos no seu território.
O embaixador francês na ONU, Nicolas de Riviere, disse que o Mali deve permitir que a MINUSMA realize as suas tarefas de manutenção da paz e monitoria de violação de direitos humanos.
“Os perpetradores de violações devem ser trazidos à justiça,” disse de Riviere.