EQUIPA DA ADF
Dias depois de as Forças de Apoio Rápido (RSF) terem tomado o controlo da segunda maior cidade do Sudão, o líder da milícia lançou uma digressão diplomática pelos países da África Oriental, numa tentativa, segundo os observadores, de se apresentar como um líder viável.
O General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo visitou Djibouti, Etiópia, Quénia, Ruanda e Uganda, numa jornada que fez eco de uma viagem semelhante que o seu rival, o General Abdel Fattah al-Burhan, tinha feito algumas semanas antes, enquanto ambos tentavam reunir os intervenientes regionais do seu lado do conflito. Hemedti também visitou Gana e África do Sul.
“Hemedti precisa desesperadamente que as pessoas sintam que as RSF são uma força governamental. Penso que foi por isso que Hemedti se encontrou com chefes de Estado,” Kholood Khair, especialista sobre o Sudão e director fundador do grupo de reflexão Confluence Advisory, disse à Al-Jazeera. “Hemedti vai tentar, tanto quanto possível, moldar-se a esta ideia de ser um líder.”
Hemedti fez várias paragens durante a sua viagem a bordo de um avião operado pelos Emirados Árabes Unidos — um facto que os observadores disseram estar de acordo com o apoio contínuo dos EAU às RSF sob a forma de serviços bancários, alojamento de redes sociais e armas.
O analista político Mohamed El Asbat disse à Rádio Dabanga, do Sudão, que a digressão de Hemedti, durante a qual, por vezes, se vestia à civil e lançava insultos a al-Burhan, tinha como objectivo apresentar-se como um líder político e não como um líder militar.
“Penso que se trata de uma campanha de relações públicas muito elaborada para conferir alguma legitimidade política ao líder das Forças de Apoio Rápido,” o analista Suliman Baldo disse ao “Africa Daily,” da BBC.
Andreas Krieg, PCA da MENA analytica, uma empresa de consultoria de riscos sediada em Londres, adoptou um tom mais forte. Descreveu a digressão de Hemedti no X, anteriormente conhecido como Twitter, como uma campanha dirigida pelos EAU para “branquear a sua imagem para parecer mais estadista.”
A visita surge após uma série de vitórias das RSF que levaram o grupo paramilitar a controlar a maior parte de Darfur, grande parte da região da capital e, mais recentemente, a cidade de Wad Madani e o Estado de Gezira, que é o centro agrícola do Sudão. Em Wad Madani, como em Darfur, as RSF encontraram pouca resistência por parte das Forças Armadas do Sudão (SAF).
Al-Burhan protestou contra a recepção que Hemedti tem tido noutros países, afirmando que as reuniões de alto nível legitimam Hemedti e as RSF, que al-Burhan classificou como um grupo rebelde.
Enquanto Hemedti aperta a mão aos líderes africanos, os seus combatentes das RSF continuam a agredir civis, a pilhar edifícios e a saquear casas nas zonas que controlam. Mais de 7 milhões de sudaneses fugiram das suas casas para escapar às hostilidades e ao derramamento de sangue.
As RSF estão a ganhar no campo de batalha, mas a perder politicamente, uma vez que os seus combatentes saqueiam as comunidades, disse Baldo.
“O mundo inteiro testemunhou estas forças rebeldes cometerem crimes de guerra e crimes contra a humanidade no Darfur Ocidental e no resto do Sudão,” al-Burhan disse num discurso recente às tropas em Port Sudan. “Ele está a humilhar o povo sudanês, está a matá-lo, a insultá-lo, e algumas pessoas estão a aplaudi-lo e a rir-se com ele.”
Al-Burhan recusou-se a aderir a um cessar-fogo que Hemedti assinou em Adis Abeba, na Etiópia, durante a sua visita no final de Dezembro de 2023. Recusou também um convite para se encontrar com Hemedti em Djibouti, sob os auspícios da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento. O Sudão anunciou entretanto a sua saída do bloco regional.
“Não temos nenhuma reconciliação com eles,” al-Burhan disse no seu discurso em Port Sudan. “Não temos qualquer acordo com eles.”