EQUIPA DA ADF
No meio da violência e do caos da guerra civil do Sudão, Hadeer, de 13 anos, a mãe e os três irmãos mais novos fugiram da sua casa em Omdurman para um campo de deslocados em Atbara, cerca de 320 quilómetros a nordeste.
A tia e o tio de Hadeer foram mortos, os primos fugiram do país e a família perdeu o contacto com o pai.
Com a guerra em curso, a educação tornou-se uma preocupação distante. Hadeer nunca pensou que poderia voltar a estudar. Usando um pseudónimo para a sua segurança, Hadeer contou à Save the Children, uma instituição de caridade internacional que construiu uma escola no seu campo, como sonhava ser arquitecta quando crescesse.
“Em casa tínhamos recursos e electricidade, e eu podia ir a pé [para a escola] e estudar em segurança,” contou. “Mas aqui sinto medo quando ando na rua, não é como lá [em casa].”
Após mais de um ano de combates entre as milícias paramilitares das Forças de Apoio Rápido e as Forças Armadas do Sudão, cerca de 25 milhões de pessoas, ou seja, metade da população do país, necessitam de ajuda humanitária, segundo as Nações Unidas.
Em Abril de 2024, a ONU estimou que 4 milhões de crianças tinham sido forçadas a abandonar as suas casas desde o início dos combates em Abril de 2023, incluindo quase 1 milhão de crianças que atravessaram para os países vizinhos de Chade, Egipto e Sudão do Sul, entre outros.
O Sudão encontra-se entre as piores crises de educação do mundo, uma vez que a maioria das escolas está encerrada e mais de 90% dos 19 milhões de crianças em idade escolar não têm acesso à educação formal há mais de um ano.
O director-executivo adjunto do UNICEF, Ted Chaiban, chamou-lhe uma “catástrofe geracional.”
“A escala das necessidades é tão impressionante que é difícil de perspectivar,” disse num comunicado de 14 de Abril. “Estes números representam milhões de crianças com nomes, histórias, esperanças e sonhos.
“No entanto, sem um aumento significativo dos serviços essenciais que salvam vidas, sem a reabertura das escolas e, sobretudo, sem o fim da guerra, estas esperanças e sonhos perder-se-ão para uma geração e para o futuro do Sudão.”
Os ataques violentos a escolas no Sudão quadruplicaram desde o início do conflito, tendo a organização Save the Children registado 88 incidentes violentos numa análise publicada no dia 28 de Maio. Entre eles contam-se ataques aéreos a escolas que resultaram em mortes e ferimentos de estudantes e professores, tortura de professores, assassinatos e raptos de professores e violência sexual contra estudantes dentro de estabelecimentos de ensino.
Outros incidentes registados incluem a ocupação de escolas por grupos armados, a utilização de escolas como locais de armazenamento de armas e batalhas travadas no recinto escolar.
“Não são apenas as vidas das crianças que estão em risco, mas também o seu futuro,” o Director da Save the Children no Sudão, Dr. Arif Noor, disse num comunicado. “Milhões de crianças continuam a enfrentar interrupções na sua educação, com as suas escolas destruídas por bombas, transformadas em abrigos para famílias deslocadas ou com a aprendizagem interrompida devido à fuga das crianças.”
A refugiada sudanesa Fatima Abdallah Abusikin Idriss, de 19 anos, estudou na Universidade Internacional de África em Cartum, na faculdade de línguas e estudos islâmicos, departamento de árabe, antes de fugir para um centro de trânsito para refugiados em Renk, no Sul do Sudão.
Numa entrevista em vídeo concedida a 21 de Maio ao Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, pediu para transmitir uma mensagem às partes em conflito.
“Parem a guerra o mais rapidamente possível, porque estão a ser destruídas vidas,” disse. “As pessoas não estão a ir à escola, algumas morreram e outras foram deslocadas. As famílias foram destroçadas.”