EQUIPA DA ADF
Letta Nkabinde acorda antes do sol nascer e preocupa-se com o aumento do preço do minibus que a leva todas as manhãs para a fábrica onde trabalha, em Joanesburgo, África do Sul.
Uma mãe solteira de três filhos, Nkabinde encontra-se entre as dezenas de milhares de pessoas em África que sentem o impacto económico da invasão da Rússia na Ucrânia.
“É difícil cuidar de si próprio e dos seus filhos esses dias,” disse à Al Jazeera, em Outubro. “Estamos a limitar-nos ao básico e deve-se fazer escolhas difíceis.
“Pense na actual subida de preços dos alimentos. Esses dias é necessário escolher entre pão e coisas como dados móveis para o [telemóvel].”
O aumento dos custos dos produtos alimentares, combustíveis e fertilizantes, associado à inflação a nível global, está a tornar a vida mais difícil em muitas partes do continente.
África experimentou uma modesta recuperação económica em 2021, o que surpreendeu a muitos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projecta que o crescimento no continente venha a diminuir de 4,5% em 2021 para 3,8% em 2022.
“Este mais recente retrocesso não podia acontecer num pior momento, enquanto o crescimento estava a começar a recuperar e os decisores políticos estavam a começar a lidar com o legado socio-económico da pandemia da COVID-19 e outros desafios do desenvolvimento,” dois especialistas do FMI escreveram no início deste ano.
“Os efeitos da guerra serão profundamente impactantes, degradando os padrões de vida e agravando os desequilíbrios macroeconómicos.”
Os especialistas afirmam que o rácio da cadeia de fornecimento de alimentos de África, em comparação com a demanda pelos mesmos, era insustentável antes de a Rússia ter invadido a Ucrânia e bloqueado as exportações de cereais destinadas à África.
O continente importa cerca de 85% do seu fornecimento de trigo, maior parte do qual é proveniente da vasta região agrícola da Ucrânia e da Rússia, que é conhecida como “o celeiro do mundo.”
Os sectores de energia e fertilizantes experimentaram uma severa volatilidade dos preços, fazendo com que os preços dos alimentos a nível global atingissem o seu marco mais elevado em 40 anos.
Os preços mais elevados de combustíveis e fertilizantes afectam directamente a produção de alimentos em África. Os importadores de petróleo viram os preços aumentar de forma exponencial, numa altura em que o FMI estima um aumento de cerca de 19 bilhões de dólares em 2022, apenas nos países africanos.
Em todo o continente, as pessoas saíram para as ruas para protestar contra o aumento dos preços e contra o custo de vida.
Em Dezembro, uma petição, que circulou no Quénia, pedia que o novo presidente, William Ruto, fizesse uma intervenção quanto ao aumento dos preços de produtos alimentares.
Na África do Sul, um funcionário do sindicato falou perante manifestantes furiosos em Agosto.
“Não podemos respirar, camaradas,” disse Zwelinzima Vavi, de acordo com a BBC. “Não podemos respirar quando hoje custa mais de 4.700 rands (277 dólares) para comprar comida para uma família de apenas quatro pessoas. Não!”
A inflação no Gana atingiu um recorde máximo de 37,8% em Setembro e foi, em termos gerais, motivada pelo aumento dos preços dos produtos, de acordo com os Serviços Estatísticos do Gana.
Os preços de produtos alimentares do Gana, que aumentaram 122% desde Janeiro, são os mais elevados na África subsaariana, de acordo com um relatório do Banco Mundial divulgado em finais de Outubro.
O Director do Departamento Africano do FMI, Abebe Aemro Selassie, disse que a recuperação económica da pandemia em África perdeu o ritmo.
“Esperamos que os efeitos dos elevados custos de energia sejam ainda mais equilibrados em toda a região,” disse num vídeo do FMI. “Os elevados preços de petróleo irão agravar ainda mais os desequilíbrios do comércio e aumentar o custo de vida, assim como os custos de transporte.
“O panorama económico continua altamente incerto.”