EQUIPA DA ADF
Os grupos armados do Níger têm cada vez mais como alvo as escolas para tentar recrutar novos membros e desestabilizar o país. Em 2023, mais de 920 escolas só na região de Tillabéri foram encerradas devido a preocupações de segurança.
No município de Abala, no sudoeste do país, as autoridades encerraram 41 escolas, 31 por razões de segurança e 10 por falta de professores, segundo Boubacar Oumarou, edil de Abala.
“Quando os professores saem, as escolas fecham inevitavelmente,” disse Oumarou à Global Voices. “Isso não é um bom presságio para nós, que temos milhares de alunos. Actualmente, cerca de 3.000 andam por aí.”
As escolas afectadas situavam-se sobretudo na zona da tríplice fronteira que o Níger partilha com o Burquina Faso e o Mali.
Por toda a região do Sahel, grupos extremistas ligados à al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico adoptaram uma estratégia anteriormente utilizada pelo Boko Haram: atacar escolas, matar professores e alunos e recrutar crianças.
Em 2014, o Boko Haram atacou uma escola em Chibok, na Nigéria, e raptou 276 raparigas, dando origem a uma vaga de ataques semelhantes. Actualmente, os professores e os alunos das zonas afectadas pelo extremismo vivem diariamente em pânico quando as escolas estão abertas.
“Para além desta perda de vidas, há também traumas físicos,” Souleymane Badienne, Secretário-Geral da Federação dos Sindicatos Nacionais de Professores e Investigadores do Burkina Faso, disse à Global Voices.. “Alguns foram perseguidos e por vezes até espancados em frente dos seus alunos. Há também o trauma psicológico.”
Os grupos terroristas armados mataram 17 profissionais da educação no Burkina Faso, em 2023. Desde que os ataques às escolas burquinabês foram registados pela primeira vez em 2017, o número e a gravidade desses ataques aumentaram.
“É a guerra deles contra a educação,” disse um professor à Human Rights Watch (HRW).
Até Setembro de 2023, um quarto das escolas burquinabês estavam encerradas, afectando 1 milhão de alunos, de acordo com um relatório do New Lines Institute, um grupo de reflexão.
A situação é pior nas cidades tomadas por grupos militantes. Na cidade cercada de Pama, apenas duas das oito escolas ainda estão abertas e há apenas seis professores a trabalhar para educar mais de mil alunos.
Boureima S. era um aluno de 14 anos na aldeia burquinabê de Béléhédé quando homens armados em motorizadas atacaram a sua escola em 2018.
“Estava na aula quando os terroristas chegaram… Dispararam um tiro e fugimos todos para escaparmos,” disse Boureima S., que falou à HRW usando um pseudónimo. “Depois, quando lá voltámos, vi que tinham queimado a mota do director… o gabinete [da escola]… e os cadernos dos alunos.”
Os atentados fazem parte de uma estratégia concertada para favorecer o recrutamento de terroristas. Um relatório de 2023 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento concluiu que a maioria dos novos recrutas para grupos armados provém de zonas rurais e tem baixos níveis de escolaridade.
Na região do Lago Chade, a taxa de analfabetismo dos jovens é de 70%, segundo o New Lines Institute. As taxas de alfabetização mais baixas limitam as oportunidades de os jovens aderirem à economia formal e encontrarem trabalho, levando alguns jovens a aderir a organizações extremistas.
“A queda das taxas de alfabetização tem desestabilizado cronicamente a região e complicado as vias de progresso a longo prazo para os jovens,” escreveram os investigadores do New Lines Institute. “À medida que cada vez mais alunos são afastados da escola e a população continua a crescer em África, o acesso à educação será vital para combater o extremismo.”
Há alguns indícios de que os grupos insurgentes da África Central estão agora a utilizar esta estratégia. Na República Democrática do Congo, a escalada da violência extremista afecta sobretudo os alunos das províncias de Kivu do Norte e Ituri. No ano lectivo de 2022-23, a violência dos grupos armados forçou o encerramento de mais de 2.100 escolas e privou 750.000 crianças da educação, informou o New Lines Institute.