EQUIPA DA ADF
O Grupo Wagner espalhou-se como um vírus e infectou os sectores governamental, militar e económico da República Centro-Africana (RCA), ao ponto de os especialistas afirmarem que o país é agora um laboratório da influência russa.
Os mercenários fizeram da captura do mercado de diamante do país uma prioridade, roubando e contrabandeando as pedras preciosas e matando todos os que se metem no seu caminho.
Um negociante de diamante, na capital da RCA, Bangui, disse que os combatentes do Grupo Wagner, que trabalham em conjunto com as Forças Armadas Centro-Africanas (FACA), se concentraram nas zonas mineiras, onde as operações aumentaram desde 2021.
“Houve uma fase de intimidação, durante a qual lhes fizeram ver [mineiros e comerciantes] que era perigoso trabalhar sem eles: ‘protegeremos o vosso negócio se trabalharem connosco e nos venderem as vossas pedras’,” disse o comerciante à revista The Africa Report.
“Estes são os métodos da máfia. São os únicos presentes no terreno, têm escritórios regionais, o apoio do Estado e ligações em Bangui.”
O diamante constitui uma das principais fontes de receitas da RCA. Os lucros podem ascender a dezenas de milhões de dólares, segundo os especialistas do mercado de diamantes.
Depois de chegar, no final de 2017, o Grupo Wagner criou várias empresas mineiras fantasmas na RCA, como Lobaye Invest, Midas Ressources e Diamville. Todas essas empresas receberam licenças de exploração mineira e autorizações de exportação isentas de impostos.
A maior parte de diamantes é transportada ilegalmente através do porto de Douala, nos Camarões, a oeste. Alguns são contrabandeados através dos vizinhos do norte, o Chade e o Sudão.
Segundo o jornalista de investigação, Mathieu Olivier, o Grupo Wagner uniu forças com um sistema de exportação existente na RCA. Duas famílias libanesas, os Nassour e os Ahmad, operam uma das maiores redes de contrabando de diamantes do continente, disse Olivier.
O Grupo Wagner está consolidado em todo o governo da RCA e utiliza as suas ligações para escapar ao controlo.
A pedido do Grupo Wagner, o governo proibiu fotografias e filmagens no aeroporto de M’Poko, onde tinham sido registadas actividades anteriores. A RCA também proibiu os drones de sobrevoarem zonas sensíveis, limitando a capacidade da missão de manutenção da paz das Nações Unidas.
“O grupo mercenário goza de total impunidade na RCA,” escreveu Olivier num artigo de 7 de Julho para a revista The Africa Report.
As consequências para os mineiros e outros civis da RCA têm sido mortíferas, com a ONU e grupos de defesa dos direitos humanos a acusarem o Grupo Wagner de massacres, torturas e pilhagens generalizadas.
Nos últimos dois anos, o Grupo Wagner expandiu o seu controlo sobre zonas mineiras ricas na RCA ocidental e oriental, incluindo Abba, Boda, Bria, Ndassima e Sam Ouandja.
Num relatório publicado a 27 de Junho, a organização de investigação e política, The Sentry, entrevistou fontes que confirmaram que os mercenários do Grupo Wagner e algumas unidades das FACA que comandam têm sistematicamente saqueado e matado mineiros artesanais e colectores.
“As minas são alvos prioritários,” um membro da guarda presidencial destacado para as operações militares sob o comando do Grupo Wagner disse à The Sentry. “Fazemos apenas a limpeza. Não há necessidade de falar, apenas matamos.”
Civis, mineiros e funcionários das FACA disseram à The Sentry que o Grupo Wagner tem usado o terror para reprimir os residentes locais e impor o seu monopólio mineiro.
“Temos de cercar a aldeia e recuperar os produtos [ouro e diamantes],” disse um antigo rebelde que se tornou miliciano e que foi enviado numa operação do Grupo Wagner. “Se encontrarmos pessoas com muito dinheiro, matamo-las e escondemos o corpo no mato ou nos remansos.”