EQUIPA DA ADF
Num esforço para reforçar o seu exército, que sofreu pesadas derrotas na Ucrânia, a Rússia está alegadamente a libertar prisioneiros de África e a recrutá-los para lutar na sua guerra.
Duas fontes militares seniores do exército, na República Centro-Africana (RCA), recentemente disseram ao jornalista independente nigeriano, Philip Obaji, que dezenas de rebeldes presos foram recrutados para o famoso grupo de mercenários da Rússia, Grupo Wagner.
“Fontes de segurança da República Centro-Africana disseram-me que o Grupo Wagner está actualmente a recrutar membros da etnia fulani, que podem ser enviados para a Ucrânia,” publicou Obaji no Twitter, no dia 10 de Novembro. “Centenas de combatentes fulani, conforme me informaram, têm estado a passar por uma formação orientada pelos russos, no famoso acampamento militar de Berongo.”
Uma das fontes de Obaji disse que os mercenários do Grupo Wagner disseram às autoridades do exército da RCA que os russos precisavam urgentemente de homens no Mali e na Ucrânia e os rebeldes que tiveram a liberdade trabalhariam para o grupo nas suas actividades naqueles países.
Muitos destes recrutas são rebeldes da União Para a Paz (UPC, na sigla francesa) que o exército da RCA considera terroristas, afirmou a fonte. Alguns foram presos por homicídio, estupro, violência política e intimidação de civis.
“Informaram-me que o Grupo Wagner está a trabalhar estreitamente ligado ao Ministro da Pecuária e Saúde dos Animais, Hassan Bouba, um antigo líder rebelde da UPC, no recrutamento destes combatentes,” publicou Obaji no Twitter. “A UPC é amplamente composta por combatentes fulani e muitos dos que foram recrutados pelo Grupo Wagner já combateram a favor da UPC.”
Em Janeiro, Obaji esteve entre os primeiros que reportaram que o Grupo Wagner estava a retirar algumas das suas forças da RCA para se juntarem à guerra na Ucrânia.
Num vídeo amplamente circulado em Setembro, o oligarca russo, Yevgeny Prigozhin, foi visto a recrutar prisioneiros na Rússia para lutarem a favor do Grupo Wagner na Ucrânia. Ele alegadamente recrutou mais de 6.000 prisioneiros.
Prigozhin, um conselheiro próximo do presidente Vladimir Putin, admitiu num vídeo e numa declaração pública pouco depois disso que ele criou o Grupo Wagner. Ele tinha anteriormente recusado tal associação.
O Grupo Wagner age como representante dos interesses políticos e estrangeiros da Rússia e ganhou um espaço significativo em alguns dos países mais instáveis do mundo.
O especialista em segurança russo, Mark Galeotti, disse que recrutar prisioneiros é uma forma de evitar recrutar cidadãos russos, que são, em termos gerais, mantidos sem informação pela imprensa que está sob a gestão do Estado e não informa sobre como a situação da guerra está a correr mal.
“É uma fonte alternativa para a obtenção de homens de combate, necessários precisamente porque esta é apenas uma ‘operação militar especial’ e, sendo assim, o Kremlin não pode simplesmente mobilizar os homens de que precisa.”
É também uma forma de esconder e de dar menor importância às perdas no campo de batalha, disse.
Galeotti disse que o facto de Prigozhin ter admitido que ele fundou o Grupo Wagner faz com que a organização seja menos representante e mais ferramenta oficial do Kremlin.
“O Grupo Wagner agora ficou tão público precisamente por causa da mudança no seu estatuto,” disse à Al-Jazeera. “Antes era um instrumento distanciado e refutável do Estado russo… agora é um pouco mais do que uma extensão do seu exército.”
Marat Gabidullin, um antigo combatente do Grupo Wagner, disse que os grupos certos deviam investigar Prigozhin por coagir prisioneiros para lutarem na Ucrânia.
“Este fenómeno … devia ser amplamente discutido, visto que ilustra o centro do poder da Rússia,” disse ele ao The Daily Beast. “Prigozhin possui autoridade ilimitada. Ele pode abrir a porta de qualquer colónia de prisão.
“É altura de olhar para este fenómeno agora, antes de eles começarem a recrutar em orfanatos.”
Muitos dos recrutas estrangeiros foram lançados para as linhas da frente com o mínimo de formação, equipamento inadequado e poucas munições. De acordo com relatórios de membros da família, alguns passam fome e recorrem a roubos de alimentos de residentes locais. Outros encontram-se desaparecidos.
“Aproximadamente 100 combatentes estrangeiros recrutados pelo exército privado de Vladimir Putin foram deixados para morrer na Ucrânia,” publicou Obaji no Twitter, no dia 29 de Novembro.
Entre eles encontrava-se Lemekhani Nyirenda, um estudante zambiano de 23 anos de idade, do Instituto de Engenharia Física de Moscovo, que cumpriu três anos numa prisão russa n uma pena de nove anos por um crime relacionado com drogas, antes de juntar-se ao Grupo Wagner.
Nyirenda foi morto na Ucrânia, em Setembro, mas as autoridades russas apenas confirmaram a sua morte dois meses depois de as autoridades zambianas terem questionado.
“Como é que ele se encontrou a combater para a Rússia, quando a Zâmbia como Estado não tem qualquer interesse naquilo que está a acontecer naquela guerra?” Político zambiano, Joseph Kalimbwe, disse numa entrevista para a CNN.