EQUIPA DA ADF
Uma organização terrorista conhecida como Lukarawas está a semear o medo nos Estados de Kebbi e Sokoto, no noroeste da Nigéria, uma área onde o Boko Haram, a Província da África Ocidental do Estado Islâmico e gangues de bandidos causam continuamente estragos.
No dia 9 de Novembro, o Lukarawas, que está ligado ao grupo Estado Islâmico (EI), é acusado de ter matado 15 pessoas em Mera, uma cidade do Estado de Kebbi, e de ter roubado um grande número de cabeças de gado.
“Até ao momento, ainda não conseguimos determinar a identidade dos atacantes,” o superintendente Nafiu Abubakar, porta-voz da polícia do Estado de Kebbi, disse à Sahara Reporters. “Ainda é muito cedo para confirmar se os atacantes eram ou não do grupo Lakurawa.”
Em resposta, as forças de segurança nigerianas lançaram ataques aéreos e terrestres a campos pertencentes ao grupo, o que resultou na apreensão de gado roubado e na retirada forçada do grupo em direcção a Borgu, uma “área estratégica perto da fronteira entre a Nigéria e o Benin,” de acordo com um relatório da Zagazola Makama, uma rede independente de contraterrorismo e prevenção do crime sediada na região do Lago Chade.
O Major-General Edward Buba, director das operações de defesa da Nigéria, disse que o golpe no Níger levou a uma quebra da cooperação de segurança entre as forças nigerianas e nigerinas, permitindo que o grupo terrorista explorasse as fraquezas da fronteira. Lukarawas também tem raízes no Mali.
“Os terroristas aproveitaram as lacunas na cooperação entre os dois países e exploraram terrenos difíceis para fazer incursões em áreas remotas em alguns Estados do noroeste para espalhar a sua ideologia,” Buba disse numa reportagem do jornal online nigeriano, Nairametrics.
O exército nigeriano classificou o Lukarawas como um novo grupo, mas Murtala Ahmed Rufa’i, professor associado de estudos sobre paz e conflitos na Universidade Usmanu Danfodiyo de Sokoto, escreveu que o grupo tem estado a operar em várias comunidades ao longo da fronteira entre a Nigéria e o Níger desde 1999. Rufa’i acredita que o exército classifica o grupo como novo para desviar a culpa dos ataques recentes.
Inicialmente pastores, os Lukarawas promovem agora a sua própria versão do Islão, procurando formar um califado. É conhecido por se deslocar de comunidade em comunidade, pregando contra a civilização ocidental e a governação participativa. Trata-se de um procedimento semelhante ao utilizado pelo Boko Haram, que também está ligado ao EI.
Membros do Mali também se instalaram em comunidades do noroeste da Nigéria, onde casaram com habitantes locais e recrutaram jovens para o jihadismo. Muitos deles falam Fulfulde, que é comummente falado pelo grupo étnico Fulani.
De acordo com Rufa’i, o grupo foi inicialmente recrutado pelos governos locais para proteger as comunidades dos bandidos armados do Estado de Zamfara. Os Lakurawaoram pagos pelos seus serviços e conseguiram interromper a ameaça dos bandidos entre 2016 e 2017, mas imediatamente começaram a sua própria campanha de violência.
Estas acções ameaçaram os líderes que os convidaram a formar um grupo armado, levando a uma disputa que culminou no assassinato de um chefe de distrito local.
Buba parece acreditar que os Lukarawas não serão capazes de resistir à força militar da Nigéria.
“As opções que se lhes oferecem são renderem-se ou serem mortos no campo de batalha,” Buba disse numa reportagem do jornal nigeriano, Leadership. “Assim, alguns líderes, comandantes e combatentes terroristas indicaram (que estão prontos a) render-se. Estamos a abrir um corredor de rendição para esse efeito.”
Escrevendo para o The Conversation, os investigadores John Sunday Ojo, do Instituto de Segurança e Assuntos Globais da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, e Ezenwa E. Olumba, do Centro de Investigação sobre Conflitos, Violência e Terrorismo da Universidade Royal Holloway de Londres, argumentam que tais operações não detiveram o Boko Haram ou os seus afiliados no passado.
Segundo eles, a falta de operações preventivas de informação para impedir a infiltração de grupos terroristas nas comunidades constitui um grande desafio.
“A confiança das comunidades em grupos como os Lakurawa para protecção tornou possível que um bando de pastores armados no Mali se tornasse um poderoso grupo terrorista na Nigéria,” escreveram Ojo e Olumba. “Esta situação mostra como as agências de segurança na Nigéria falharam com estas comunidades.”