EQUIPA DA ADF
A pesca foi um meio de subsistência fiável nas comunidades costeiras ganesas como Apam, Cape Coast e Elmina durante séculos.
Nas águas, ainda existe um alvoroço de actividades de pesca, mas durante muitos anos, os pescadores têm regressado à costa com capturas cada vez menores.
Os residentes locais culpam os grandes arrastões industriais, essencialmente os chineses, pela falta de peixe. Durante muitos anos, as embarcações praticaram a “saiko,” o transbordo ilegal de peixe no mar. Um arrastão industrial transfere o seu pescado para uma canoa grande capaz de transportar cerca de 450 vezes mais peixe do que uma canoa artesanal de pesca. As transferências no mar ajudam os arrastões a evitar os limites de captura.
“A minha família e eu estamos a sofrer por causa de recursos marinhos que se vão esgotando,” Kwabena Taiwa, um pescador da região de Cape Coast, de 17 anos de idade, disse ao The Guardian. “Eu não posso utilizar luzes ou qualquer destas práticas más. A minha consciência não me permitiria.”
Em 2017, a Fundação para a Justiça Ambiental (EJF) concluiu que a saiko retirou 100.000 toneladas de peixe das águas ganesas, lesando aquele país em milhares de dólares em receitas e colocando em risco a segurança alimentar e os empregos.
De acordo com o fundador e PCA da EJF, Steve Trent, a prática da saiko deixou de existir em Apam e Elmina, os anteriores centros de descarregamento da saiko, desde que o governo ganês impôs um período de defeso para a pesca industrial, em Julho e Agosto de 2021.
Embora a situação da saiko tenha melhorado naquelas regiões, recentemente a fundação concluiu que 90% do subproduto da pesca dos arrastões industriais descarregado em Tema esteve abaixo do tamanho mínimo de descarregamento especificado pelo governo, Trent disse à ADF num e-mail. Capturar peixe juvenil, de tamanho inferior, prejudica o ecossistema marinho.
“Estas capturas ilegais são descarregadas abertamente, em caixas catalogadas e à vista das autoridades,” disse Trent, acrescentando que a captura de peixe juvenil está ligada ao uso de equipamento ilegal.
Os arrastões chineses têm a fama de utilizar outras práticas de pesca ilegais como o arrasto de fundo, a subnotificação das suas capturas e o uso de luzes enormes para atrair o peixe à noite.
Uma pesquisa levada a cabo pela EJF concluiu que 90% das embarcações de pesca industrial que operam no Gana pertencem a empresas chinesas, muitas vezes, através de empresas fantasmas. O Gana perde 50 milhões de dólares por ano, através de acordos obscuros com empresas estrangeiras, concluiu a fundação.
Os resultados da pesca excessiva no Gana são catastróficos.
Mais de 100.000 pescadores e 11.000 canoas operam naquele país, mas o rendimento médio anual baixou em cerca de 40% por canoa artesanal nos últimos 15 anos, de acordo com a EJF.
As unidades populacionais de pequenos peixes pelágicos do Gana, como a sardinela, sofreram um decréscimo de 80% nas últimas duas décadas. Uma espécie, a sardinela aurita, já entrou em colapso total. As unidades populacionais de peixe que se vão esgotando provocaram a subida dos preços e a insegurança alimentar.
Cerca de 20% a 40% da população do Gana encontra-se em situação de insegurança alimentar, Richmond Aryeetey, um professor associado da Escola de Saúde Pública, da Universidade do Gana, disse ao Ghana Web.
No Gana, o peixe garante 60% da proteína animal consumida anualmente, de acordo com o The Maritime Executive.
Mais de 200 aldeias das regiões costeiras do Gana dependem da pesca como a sua principal fonte de rendimento. Os locais de pesca daquele país servem de suporte para mais de 2,7 milhões de pessoas — cerca de 10% da população.
“Os nossos meios de subsistência enfrentam problemas,” Ama Mensima, uma vendedora de peixe da praia de Cape Coast, disse ao The Guardian. “As nossas vidas dependem da pesca e está a ser cada vez mais difícil.”
Patrick, um pescador de 17 anos de idade, com pouca escolaridade, prevê um futuro sombrio.
“Eu poderia ter ido à escola,” disse Patrick ao The Guardian. “Poderia ter seguido os meus sonhos. Quem sabe? Agora pode ser que eu tenha de tentar chegar à Europa.”