ADF STAFF
Com mais de 600 milhões de pessoas online e outras milhares que em breve se juntarão a elas, os países africanos enfrentam uma crescente demanda para salvaguardar o ciberespaço contra hackers, golpistas e extremistas. O Gana fornece um modelo sobre como fazer isso.
Nos últimos anos, o Gana tornou-se um líder regional em matérias de cibersegurança. O país alcançou esta posição, criando uma rede de segurança dirigida por civis, baseada no Ministério de Comunicações daquele país, mas com agências fundamentais nos sectores de segurança e tecnologia.
Na linha da frente da luta contínua do Gana contra ameaças online, a Autoridade de Segurança Cibernética (CSA), criada em 2021, e a Equipa Nacional de Resposta a Incidentes de Segurança Informática (CERT-GH), fazem o rastreio de ameaças, em tempo real, e coordenam a resposta a grandes eventos.
A CSA exige que todas as firmas de cibersegurança sejam licenciadas e, desde 1 de Janeiro, começou a fazer a auditoria a proprietários de infra-estruturas de informação críticas (CII), para garantir que estejam a operar em linha com os ditames de segurança.
“Outros países do continente têm muito que aprender da abordagem do Gana, que trouxe um tremendo crescimento nas capacidades de cibersegurança e possibilitou que o Gana tomasse medidas para combater as crescentes ameaças e reforçar a confiança entre o governo e os cidadãos,” Kenneth Adu-Amanfoh, presidente da Organização de Cibersegurança e Direitos Digitais de África, e Nate Allen, um especialista de cibersegurança, escreveram num comentário para o Centro de Estudos Estratégicos de África.
Adu-Amanfoh e Allen observam que o Gana criou uma confiança pública nos seus sistemas, colocando-a nas mãos dos civis, em vez de encarregar a autoridade de segurança nacional, como o fizeram os outros países.
O Gana também se encontra entre o reduzido número de países africanos que aderiram às convenções de Budapeste e de Malabo, dois grandes tratados criados para abordar aspectos internacionais de cibersegurança.
“Os líderes devem reconhecer que a África deve fazer parte do conjunto de soluções globais de cibersegurança,” especialista nigeriano de cibersegurança, Abdul-Hakeem Ajijola, disse à ADF, num e-mail. Ajijola lidera o Comité do Plano de Acção do Roteiro Estratégico, do Gabinete de Protecção de Dados da Nigéria.
As Forças Armadas do Gana também estão a desempenhar um papel fundamental na estratégia daquele país. Durante o mês de sensibilização sobre cibersegurança, em Outubro último, o Vice-Almirante Seth Amoama, Chefe do Estado-Maior da Defesa do Gana, disse que esforços estão em curso para certificar que todo o pessoal compreenda as ameaças de cibersegurança, as possíveis vulnerabilidades e o seu impacto na prontidão missões. As GAF encontram-se numa transição para um ambiente de trabalho “sem papel,” fazendo com que a cibersegurança seja extremamente importante.
“Para nós, no exército, o ciberespaço emerge como um quinto domínio de guerra, juntamente com os domínios da terra, mar, ar e espaço,” disse Amoama, de acordo com Gana Peace Journal. “Não é surpreendente, por conseguinte, que os terroristas e os grupos extremistas violentos estejam a utilizar as plataformas da internet para apoiar as suas actividades.”
A abordagem do Gana está a servir de escudo para a sua comunidade online de ataques, numa altura em que o resto do continente está debaixo de ataques contínuos quer a partir de dentro de África como a partir de fora.
Especialistas de segurança afirmam que os crimes cibernéticos lesam as economias nacionais em África, em 4 bilhões de dólares por ano. A Interpol estima que 90% dos utilizadores da internet do continente possuem segurança insuficiente nos seus dispositivos, num ambiente que regista 700 milhões de ameaças de cibersegurança por ano.
Com um recente aumento de banca online e dinheiro digital, as instituições financeiras tornaram-se uma grande ameaça para os ataques cibernéticos.
A campanha do Gana para proteger a sua comunidade online ajudou a reduzir as fraudes cibernéticas no país, de 174 casos em 2018, para pouco menos de 30 dois anos depois, de acordo com o Banco do Gana. O Banco do Gana e a CSA emitiram uma declaração, em meados de 2022, destacando como eles iriam trabalhar juntos para identificar e acabar com ataques cibernéticos contra instituições financeiras daquele país.
O sucesso de cibersegurança do Gana impulsionou que saísse da 89ª para a 43ª posição, no Índice Global de Cibersegurança, da União Internacional de Telecomunicações. Encontra-se entre os apenas sete países africanos na lista de principais 50 países, a nível global, tendo-se juntado ao Egito, Ilhas Maurícias, Marrocos, Nigéria, Tanzânia e Tunísia.
A CSA do Gana anunciou, em Abril de 2022, que iria trabalhar com a Gâmbia, Moçambique e Serra Leoa para melhorar os seus sistemas de segurança.
A cibersegurança em África tem o potencial para ser uma indústria de 4,5 bilhões de dólares e um impulsionador económico para muitos países, de acordo com Ajijola. A abordagem do Gana segue de forma rigorosa as melhores práticas para a criação de um aparelho de segurança fiável para o público, acrescentou.
“Todas as relações devem estar enraizadas na confiança, edificadas sobre a estabilidade e ancoradas na segurança,” disse Ajijola à ADF. “Os utilizadores não irão patronizar quaisquer plataformas, organizações ou pessoas em que não confiem ou com quem não se sintam seguros.”