EQUIPA DA ADF
As autoridades do Gabão prenderam dois arrastões de pesca que transportavam 5 toneladas de peixe-gato marinho, de cabeça-dura, e mais de uma tonelada de raias. A captura de espécies de peixe-gato e a remoção de barbatanas de raias e tubarões foram banidas nas águas gabonesas.
A Sea Shepherd Global, que ajuda vários governos da Africa Ocidental a ter as suas águas livres da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), ajudou a fazer a apreensão, durante o dia, numa das inspecções de rotina. A pesca INN leva à pesca excessiva, destrói ecossistemas locais e priva os residentes locais de alimentos e rendimentos.
As autoridades inspeccionaram os arrastões várias vezes antes, e o seu capitão chinês dizia que não sabia que a captura era ilegal, Peter Hammarstedt, director de campanhas da Sea Shepherd, disse à ADF. Duas das raias eram de uma espécie proibida e as barbatanas de uma tinham sido retiradas. As barbatanas de raias são geralmente exportadas para China para venda uma vez que a sopa de barbatana de tubarão é considerada uma iguaria.
“Em muitos arrastões locais, a tripulação é autorizada [pelo proprietário do navio] a ficar com — e vender — as barbatanas como parte de um sistema de bónus para a tripulação, uma vez que os pagamentos a bordo são tão baixos,” disse Hammarstedt.
Desde 2016, a Sea Shepherd e as autoridades gabonesas trabalharam em parceria em centenas de inspecções de navios de pesca no mar e realizaram 12 apreensões. Durante esse período, a Sea Shepherd ajudou a apreender outros 42 arrastões ilegais no Benin, Tanzânia, Libéria e São Tomé e Príncipe. Muitos arrastões ilegais das águas da África Ocidental são chinesas.
De acordo com o Financial Times, até 40% do peixe capturado nas águas da região Oeste e Centro-Oeste de África são retirados de forma ilegal.
A prática não parou com a COVID-19.
“Estes crimes apenas puderam ser detectados, graças a diligências das autoridades gabonesas de aplicação da lei … que continuaram a cumprir com as suas actividades no mar com grande coragem, apesar da COVID-19,” Byron Carter, capitão da Sea Shepherd, que liderou a operação do Gabão, disse na página da Internet da organização.
Até 26 milhões de toneladas de peixe — equivalentes a cerca de 23,5 bilhões de dólares— são capturados a nível global através da pesca INN a cada ano, de acordo com as Nações Unidas. Os arrastões ilícitos, muitas vezes, têm como alvo países menos desenvolvidos e com riquezas em populações de peixes porque não possuem recursos para patrulhar de forma adequada as suas águas.
O peixe é uma parte considerável da dieta das pessoas no Gabão, onde cada pessoa consome em média 40 quilogramas de peixe por ano, mais do que o dobro da média global, de acordo com a Wildlife Conservation Society. A maior parte dospescadores artesanais do Gabão são originários do Benin, Gana e Nigéria.
Os pescadores estrangeiros pescam dois terços do peixe ao longo da costa do Gabão, reportou a Agência France-Presse (AFP).
“São os nossos irmãos pescadores da África Ocidental que são a maior parte da força de trabalho aqui, a sua integração é essencial para nós aqui,” Georges Mba-Asseko, director-geral da Agência Nacional de Pesca Artesanal do Gabão, disse à AFP.
Para além de combater a pesca INN no Gabão, a Sea Shepherd está a ajudar o país a estabelecer a primeira unidade de conservação de tubarão de África, que visa conservar 60 espécies de tubarões e raias. Anualmente, aproximadamente 100 milhões de tubarões são mortos no mundo inteiro, e muitas populações de tubarão reduziram em 90% desde que a pesca em grande escala começou, de acordo com o Instituto Smithsoniano (Smithsonian Institution).
A barbatana de tubarão, que perfaz cerca de 5% do peso do tubarão, é a parte com maior valor no peixe.
Nos arrastões industriais, uma carcaça de tubarão “ocupa espaço valioso que ocupariam as barbatanas e por conseguinte é descartada no mar, às vezes, enquanto o tubarão ainda se encontra vivo,” disse Hammarstedt. “Isso significa que uma embarcação que se dedica a remoção de barbatanas de tubarão poderia acabar por levar 20 vezes mais tubarões numa expedição de pesca do que fariam se descarregassem os remanescentes 95% das carcaças na costa.
“Na essência, a capacidade de matar tubarões da embarcação aumenta por um factor de 20. Este é o principal motivo que faz com que um terço das espécies de tubarão esteja em extinção.”