Em meados de Agosto, o exército somali lançou uma grande ofensiva contra o al-Shabaab no centro da Somália, numa altura em que as tropas da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS) se retiram gradualmente do país.
A operação inclui tropas das Forças Especiais de Danab e milícias de clãs aliados conhecidos como “Ma’awisley.” As forças foram destacadas para Elbur, Galhareeri, Wabho e Diri, na região de Galgadud, e para a parte norte da região administrativa de Mudug.
O al-Shabaab controla as zonas há 15 anos.
No final de Agosto, as Forças Especiais de Danab recuperaram o controlo da zona de Dac, em Galgadud. Pela mesma altura, as forças de Danab recapturaram duas outras localidades de Galgadud e lançaram um ataque a uma terceira, segundo o grupo de comunicação social somali GoogJoob News.
As forças etíopes ao serviço da ATMIS também fizeram progressos contra o al-Shabaab no sul da Somália.
“Uma ofensiva em curso impediu as acções do al-Shabaab e desimpediu muitas rotas de abastecimento, aumentando a segurança e a protecção da população local,” afirmou a ATMIS no X, anteriormente conhecido como Twitter.
As operações fazem parte da segunda fase das operações militares contra o al-Shabaab durante a retirada das tropas da ATMIS. Durante a primeira fase, foram retirados 2.000 soldados do Burundi, Etiópia, Djibouti, Quénia e Uganda e espera-se que mais 3.000 saiam até ao final de Setembro. A ATMIS tem até Dezembro de 2024 para transferir todas as responsabilidades de segurança para as forças somalis.
A primeira ofensiva recuperou cerca de um terço do território controlado pelo al-Shabaab. O governo da Somália informou também que 3.000 militantes foram mortos e mais de 3.700 ficaram feridos na operação.
O Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, prometeu travar uma “guerra total” contra o al-Shabaab e comprometeu-se a eliminar o grupo em meses. Ofereceu-se também para negociar um cessar-fogo.
Mas os líderes do al-Shabaab “não estão interessados no diálogo,” disse Mohamud, de acordo com uma reportagem do site de notícias somali, Garowe Online. “Como Presidente do Governo da Somália, ofereci repetidamente amnistia, declarando que estão perdoados, e esta oferta continua aberta.”
O grupo afiliado à al-Qaeda é conhecido por se esconder na savana pouco povoada da Somália para evitar ser detectado. Nos seus ataques, geralmente utiliza dispositivos explosivos improvisados, camiões-bomba, granadas de propulsão por foguete e bombistas suicidas.
“Quando se está numa luta, há perdas,” disse o Major Mohammed Aydarus, comandante das Forças de Danab, à revista Foreign Policy. “Mas estamos determinados a derrotar o inimigo e a continuar a operação. Todos os anos, continuamos a recrutar novas forças.”
Apesar de ter sofrido perdas militares, o al-Shabaab tem-se mostrado resiliente. No dia 23 de Agosto, matou três soldados e feriu vários outros durante dois ataques simultâneos num bairro a sul de Mogadíscio, a capital.
Os ataques visaram uma esquadra da polícia, a sede da administração local e dois postos de segurança, informou o Garowe Online. O ataque mais violento foi contra a esquadra da polícia, onde os militantes detonaram um carro armadilhado antes de se envolverem num tiroteio com a polícia, durante o qual dispararam bazucas, segundo testemunhas.
No dia anterior, um carro armadilhado do al-Shabaab matou pelo menos uma pessoa, um funcionário do departamento de transportes local, em Mogadíscio.
O al-Shabab pode ter cerca de 14.000 combatentes — quase o
do número que tinha há três anos — mas alguns deles são crianças-soldado forçadas e não combatentes experientes, segundo a revista Foreign Policy. Muitos militantes abandonaram o grupo à medida que as forças somalis recuperam vastas áreas do território.
“Nem todos vão querer morrer,” disse Hussein Sheikh Ali, conselheiro de segurança nacional da Somália, à revista. “A deserção vai aumentar.”
No entanto, um ataque de dois dias do al-Shabaab contra as tropas do exército somali deixou dezenas de soldados feridos e um número desconhecido de mortos. O ataque de finais de Agosto ocorreu na cidade de Cowsweyne, em Galgadud.
Um soldado somali que deu o seu nome como Isse disse à Reuters que pelo menos 17 soldados foram mortos. Um soldado chamado Dahir disse ter a certeza de que “muitos” soldados e militantes foram mortos na batalha, mas não soube dizer quantos.
“Por volta das seis da manhã, um carro-bomba explodiu e seguiu-se uma batalha infernal,” disse Dahir. “Quando recebemos reforços, os combates intensificaram-se e demos cabo dos terroristas.”