EQUIPA DA ADF
Quatro missões de manutenção da paz das Nações Unidas em África estão a trabalhar para desacreditar as campanhas de desinformação destinadas a minar a sua credibilidade.
As missões de manutenção da paz da MONUSCO, na República Democrática do Congo (RDC), da MINUSCA, na República Centro-Africana (RCA), da MINUSMA, no Mali, e da UNMISS, no Sudão do Sul, estão a trabalhar nas referidas campanhas. O fim da missão no Mali está previsto para o final de 2023.
A ONU salienta que as iniciativas são uma forma de lutar contra as falsidades que alimentam a raiva e a violência. A mesma está a monitorizar a forma como a informação falsa, a desinformação e o discurso de ódio podem prejudicar a saúde, a segurança e a estabilidade e impedir o progresso em direcção aos objectivos de desenvolvimento sustentável. A ONU categoriza a informação falsa como a informação incorrecta, tal como boatos sem fundamento que são transmitidos de pessoa para pessoa. A desinformação é deliberada e, normalmente, é difundida em grande escala por um agente maligno. Inclui conteúdos maliciosos, tais como fraudes, phishing e propaganda. Espalha o medo e a suspeita entre a população.
As missões de manutenção da paz estão conscientes do problema há já algum tempo. Num relatório de 2022 para o Instituto Internacional da Paz, o editor e investigador Albert Trithart referiu que “uma barragem crescente de desinformação” tem como alvo as missões de manutenção da paz da ONU. “Isso inclui falsas alegações de que as forças de manutenção da paz da ONU estão a traficar armas para grupos armados, a apoiar terroristas e a explorar recursos naturais,” escreveu Trithart. “Esta desinformação dificulta a execução dos mandatos das operações de manutenção da paz e põe em risco a segurança dos soldados de manutenção da paz.”
As autoridades dizem que os problemas da MONUSCO com a desinformação remontam a 2019, com campanhas nas redes sociais que visam o seu trabalho de manutenção da paz.
As missões estão a tentar educar o público sobre a informação falsa e as campanhas de desinformação. Em Junho, a MONUSCO organizou um dia de sensibilização para uma centena de estudantes da Universidade Cristã Bilingue do Congo em Beni, na província do Kivu do Norte. Esta sensibilização faz parte de uma série de actividades que a missão está a organizar em todo o país para combater a desinformação.
Trata-se de um problema que os funcionários da ONU dizem que deve ter uma resposta.
“É evidente que a manutenção da situação actual não constitui opção,” afirmou o Secretário-Geral, António Guterres, numa nota política de Junho, segundo a defenceWeb. “A capacidade de disseminar desinformação em larga escala para minar factos cientificamente estabelecidos representa um risco existencial para a humanidade e põe em perigo as instituições democráticas e os direitos humanos fundamentais.”
A ONU afirma que as missões estão a utilizar smartphones e aplicativos de edição, juntamente com abordagens inovadoras, para construir um “exército digital” destinado a combater a desinformação nas redes sociais e não só.
“Está a decorrer uma guerra através das redes sociais, da rádio e dos meios de comunicação tradicionais,” disse o chefe da MONUSCO, Bintou Keita, de acordo com a defenceWeb. “Combater a desinformação mortal tem sido uma curva dolorosa para aprender sobre este novo campo de batalha, mas a missão é agora proactiva nas plataformas sociais e noutros meios de comunicação social para ajudar a travar a sua propagação.”
As iniciativas da MONUSCO contra a desinformação incluem o recrutamento de especialistas digitais, a criação de produtos multimédia e o contacto, especialmente com jovens conhecedores das redes sociais, disse Keita.
Com estas ferramentas, a MONUSCO tenta “reforçar a capacidade de monitorizar e estar presente nas plataformas digitais, para não sermos sempre reactivos, mas sim antecipatórios,” disse.
No seu relatório, Trithart escreveu que as campanhas de desinformação cresceram rapidamente e que as missões de manutenção da paz ainda estão a tentar recuperar o atraso.
“Precisam de uma maior capacidade e coordenação para monitorizar e analisar a desinformação, tanto online como offline,” referiu. “Precisam de processos de aprovação mais simplificados que lhes permitam responder mais rapidamente à desinformação. A longo prazo, devem também adoptar abordagens preventivas, nomeadamente reformulando proactivamente as narrativas sobre a ONU e contribuindo para um ambiente de informação mais saudável através do apoio aos jornalistas locais.”
Saidath Swaleh, estudante de ciências da informação e da comunicação na RDC, defendeu a aplicação de sanções contra os comerciantes de desinformação. “Temos de punir aqueles que deliberadamente espalham informações falsas,” disse aos funcionários da ONU.