EQUIPA DA ADF
A propagação da violência extremista na África Ocidental deu ao Exercício Flintlock deste ano um ar de urgência, numa altura em que os treinos sobre o combate ao terrorismo estiveram no centro das atenções.
O Coronel das Forças Armadas do Gana, Richard Mensah, Comandante do Quartel-General Conjunto do Flintlock 2023, fez a ligação da situação regional com o exercício.
“A ameaça global do terrorismo é real, e nós precisamos de estar prontos agora, porque as operações especiais não são criadas durante as emergências,” disse numa conferência de imprensa.
“O principal objectivo do exercício é criar parcerias, treinar e estar preparado para quaisquer ameaças. Também estamos a fortalecer as parcerias com as nossas contrapartes da África Ocidental.”
Organizado por Gana e Costa do Marfim, de 1 a 15 de Março, o Exercício Flintlock reuniu cerca de 1.300 participantes de 29 países, para melhorar as capacidades militares, as parcerias, a interoperabilidade e a comunicação.
O Flintlock, que iniciou em 2005, é o maior exercício anual das operações especiais do Comando dos Estados Unidos para África no continente.
Quinze países africanos participaram, incluindo vários que estão actualmente a enfrentar o terrorismo e outros tipos de violência extremista, nomeadamente Burquina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Gana, Líbia, Níger, Nigéria, Senegal e Togo.
No Sahel, os grupos extremistas ligados à al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico mataram milhares de pessoas e fizeram milhões de deslocados. Em 2022, a violência dos insurgentes alastrou-se cada vez mais do Burquina Faso para os territórios a norte dos países ao longo do Golfo da Guiné.
No Gana, a região norte registou um aumento de ataques de um em 2021 para 19 em 2022, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento. O governo não categorizou estes ataques como incidentes de terrorismo, mas alertou sobre a possibilidade de existir violência extremista no país.
Durante o Flintlock, o Comandante do Comando de Operações Especiais dos EUA em África, o Vice-Almirante Jamie Sands, elogiou o trabalho e o progresso que países como Gana e Costa do Marfim fizeram na preparação para enfrentar os ataques do extremismo violento.
“Os nossos parceiros na região costeira da África Ocidental são resilientes,” disse numa conferência de imprensa virtual, no dia 13 de Março. “Eles são capazes e estão absolutamente cientes da ameaça. Por isso, estou confiante na sua capacidade de resistirem a ameaças e de estarem preparados para abordá-las quando elas entrarem, possivelmente, a partir do norte.”
O pessoal do exército e da polícia utilizou o Exercício Flintlock, que durou duas semanas, para melhorar a sua capacidade de resposta de segurança, com formação táctica, exercícios sobre protecção do mar, salvamento de ataques de pirataria e ainda salvamento e protecção de tripulações.
De forma inédita para o Flintlock, houve um local de treinos marítimos especializados onde as forças militares praticaram a busca e captura e outras estratégias do combate à pirataria no Golfo da Guiné.
Os oficiais do exército do Gana, como o Coronel do Exército William Nortey, expressaram a preocupação sobre a possibilidade de grupos terroristas colaborarem com piratas.
“Já sabemos que eles pretendem criar ligações com a pirataria e melhorar as suas operações,” disse durante o Flintlock. “Isso seria um divisor de águas para os países costeiros do litoral, pelo que temos de impedir a todo o custo que isso aconteça.”
O Gana investiu muito na segurança fronteiriça, tendo adquirido mais de 100 blindados de transporte de pessoal e outro equipamento militar, disse o Presidente Nana Akufo-Addo.
“A realidade do estado das coisas na nossa vizinhança exige que o governo faça muito para garantir a segurança, o bem-estar e a estabilidade do nosso país,” disse ele, no seu discurso sobre o Estado da Nação, no dia 8 de Março.
“As ameaças do terrorismo e do extremismo violento que nos cercam exigem que prestemos a máxima atenção para proteger as nossas fronteiras e trabalhemos em colaboração com os nossos vizinhos para manter o nosso país e a região em segurança.”
Mensah e outros profissionais de segurança do Golfo da Guiné estavam determinados para utilizar o Exercício Flintlock e alguns dos seus fóruns académicos para também explorar abordagens não militares.
“Não podemos sempre utilizar meios cinéticos para derrotar actividades terroristas,” disse, “mas podemos envolver outros sectores que não são da segurança para ganhar os corações e as mentes das populações locais, para lutarem contra os desafios de segurança na região.”