EQUIPA DA ADF
Fundado em 1925, Virunga é o parque nacional mais antigo de África. É uma das áreas de conservação biologicamente mais diversificadas do continente e alberga um terço dos gorilas selvagens da montanha, em vias de extinção, do planeta.
O parque está localizado na região leste da República Democrática do Congo (RDC), onde mais de 100 grupos armados lutam contra soldados congoleses e ugandeses, forças de manutenção da paz das Nações Unidas, milícias locais e uns contra os outros.
Virunga já registou uma série de ataques chocantes contra fiscais nos últimos anos, incluindo 19 mortos até agora, em 2022, de acordo com a Fundação Thin Green Line (TGL), uma instituição internacional de caridade que apoia os fiscais e os familiares de fiscais mortos.
“A intensidade do conflito no e ao redor do parque faz com que seja um enorme desafio,” o Director do Parque Nacional de Virunga, Emmanuel de Merode, disse num artigo, na página da internet da fundação.
A RDC é para onde vai a maior parte do Fundo para os Fiscais Tombados da fundação.
Os grupos armados geralmente utilizam Virunga como um abrigo, campo de batalha, rota de contrabando e fonte de matéria-prima.
A caça furtiva para a obtenção de carne de caça é uma fonte significativa de rendimento, visto que os insurgentes já mataram milhares de hipopótamos na década passada. Os gorilas também foram alvo de caça.
Uma outra fonte de rendimento é a venda e cobrança de taxas de “Makala,” ou carvão, produzido através da queima ilegal de árvores no parque.
Reconhecendo o aumento do perigo em 2010, o Instituto Congolês para a Conservação da Natureza (ICCN) criou a sua Força de Reacção Rápida (QRF), uma unidade paramilitar de 270 fiscais de elite que ocasionalmente são enviados para fazer ofensivas.
Uma vez que geralmente cooperam com soldados congoleses que operam no parque, os fiscais tornaram-se alvos de retaliação, de acordo com Christoph Vogel, um antigo membro do Grupo de Especialistas da ONU sobre a RDC.
“O parque acredita, correctamente, que os fiscais não são alvos legítimos, de acordo com as leis humanitárias internacionais,” disse à Kivu Security Tracker, uma ferramenta de monitoria de conflitos regionais. “Mas o estatuto específico da QRF e a natureza das suas operações coloca-os numa zona de penumbra.”
Linda Nunn, vice-presidente da Federação Internacional de Fiscais, trabalhou em estreita colaboração com os fiscais de Virunga para proteger os gorilas da montanha.
“Os fiscais do ICCN receberam muitos prémios pela sua coragem ao longo dos anos,” disse à TGL. A sua bravura e a sua dedicação no trabalho são lendárias.
“Em Virunga, o ICCN tradicionalmente nomeia os gorilas recém-nascidos em homenagem aos fiscais tombados.”
Virunga é um parque típico como vários outros do continente, onde grupos de militantes e organizações extremistas violentas têm como alvo os fiscais.
Dr. Niall McCann, director de conservação do National Park Rescue, no Zimbabwe, diz que a segurança do parque já teve de lidar com ameaças.
“O combate à caça furtiva não está a ficar mais ‘militarizado’ por causa dos grupos terroristas jihadistas,” escreveu para o site de notícias sobre a conservação, Mongabay, “está a tornar-se mais ‘profissionalizado’ porque as ameaças contra a vida selvagem e contra os fiscais aumentou e porque estamos a ficar sem tempo para salvar as espécies mais valiosas e as paisagens da terra contra estes criminosos determinados.”
Os fiscais originalmente treinados para o trabalho de conservação tradicional como pesquisas ecológicas agora precisam de um novo tipo de treinamento.
Enquanto muitos países enfrentam a falta de recursos para as suas responsabilidades orientadas ao combate dos fiscais, os Estados Unidos têm trabalhado directamente com os serviços de parques em países que incluem Chade, Gabão, Quénia, Tanzânia e Uganda para treiná-los.
Um outro exemplo da mudança de paradigma é a recente expansão da African Parks, uma organização sem fins lucrativos, da área de conservação, que faz a gestão de 16 parques nacionais, em 10 países, e procura acrescentar outros 30 parques no continente até 2030.
A African Parks utiliza antigos oficiais do exército da África do Sul e da Europa para treinar fiscais a fim de poderem lidar com as ameaças representadas por militantes com armamento pesado e caçadores furtivos.
Ao discutir a possibilidade de encontros de debate com grupos terroristas no Parque Nacional W, no norte do Benin, o Director de Operações, Charles Wells, observa que o mandato da African Parks é “garantir a integridade do parque e o combate de todas as ameaças contra ele.”
“Esta é uma situação extrema, onde a segurança nacional e o último sistema de conservação em grande escala em funcionamento, na África Ocidental, encontram-se em grave risco,” disse à Reuters.
Este é o segundo artigo de uma série de duas partes sobre os perigos enfrentados pelos fiscais em África.