EQUIPA DA ADF
Nas comunidades agrárias do Estado de Borno, no nordeste da Nigéria, os extremistas do Boko Haram passaram anos a invadir as machambas, a roubar o gado e a expulsar os agricultores das suas terras. Agora, esses mesmos agricultores podem regressar ao seu trabalho sem medo: o Esquadrão dos Fiscais Agrários protege-os.
No ano passado, o Corpo de Segurança Nacional e de Defesa Civil (NSCDC), da Nigéria, fez o lançamento do programa que coloca escoltas armadas e bem treinadas nas machambas, para protegerem os agricultores enquanto estes fazem o seu trabalho. Os fiscais também fazem o patrulhamento duma região mais ampla, próximo de Bama, e outras comunidades que são alvo dos insurgentes do Boko Haram. O grupo viaja pela zona entre as fortalezas, na Floresta do Sambisa, a sul de Maiduguri, e nas ilhas do Lago Chade, na fronteira entre o Chade e os Camarões.
“Bama é uma das zonas mais perigosas,” Isa Ahmed Michika, oficial da Defesa Civil, que faz a supervisão dos Fiscais Agrários na região, disse à televisão France 24. “Esta é a rota que os insurgentes do Boko Haram usam diariamente. Eles têm o seu cemitério perto daqui, onde enterram os seus mortos.”
Desde que o Boko Haram começou a sua campanha de violência, em 2009, os insurgentes já mataram dezenas de milhares de pessoas na Nigéria, fizeram 2 milhões de desabrigados e criaram insegurança alimentar a 5 milhões de pessoas.
O governo treinou cerca de 5.000 fiscais e destacou-os para algumas zonas de governos locais de Borno. Dado o sucesso do programa, existem planos de alistar mais alguns milhares de fiscais nos próximos anos, para combater o Boko Haram e outros grupos extremistas.
Os fiscais são oriundos de diferentes sectores de actividades. Alguns são antigos membros de milícias e outros são operários que procuram por um novo trabalho. Todos foram treinados para fazer patrulha, resolver conflitos e manejar uma arma.
“Alguns fazem perfuração. Outros são mecânicos, enquanto outros são comerciantes,” o Fiscal Agrário, Mussa Bukar, disse à France 24. “Mas desde que começaram as incursões dos insurgentes, todos nós reunimos e decidimos apoiar o governador e a nós mesmos, protegendo os agricultores. É por isso que arriscamos as nossas vidas para expulsar o Boko Haram desta vila — para que possamos ter paz, e que as pessoas possam regressar às suas casas pela graça de Deus.”
Em Agosto, os Fiscais Agrários alistaram a sua primeira celebridade quando o famoso artista de hip-hop, Daniel Oyebanjo, vulgo D’banj, se inscreveu.
“Sendo eu próprio um agricultor há mais de 15 anos, compreendo muito bem os desafios dos agricultores enquanto ataques incessantes e recorrentes dão cabo da produção e da produtividade,” disse Oyebanjo numa declaração durante a cerimónia do seu juramento perante o Comandante General Abdulay Mohammadu. “Vejo esta iniciativa levada a cabo pelo Corpo de Segurança Nacional e Defesa Civil da Nigéria como sendo uma oportunidade maravilhosa para que eu possa servir o meu país.”
A agricultura continua a ser uma componente fundamental para a economia nigeriana. Somente no Estado de Borno, ela perfaz 65% da produção económica. Os ataques do Boko Haram reduziram a produção agrícola, causando o aumento dos preços de produtos alimentares, o que destrói toda a economia do país e cria insegurança alimentar.
Ao passar os dias a proteger os agricultores, os Fiscais Agrários garantem a estabilidade nos lugares onde trabalham. Em Março, Abdullahi disse que os Fiscais Agrários tinham ajudado mais de 1.800 agricultores a voltarem para as suas machambas em todo o Estado de Borno.
“As actividades agrícolas também foram retomadas em alguns governos locais, e algumas comunidades voltaram para as suas terras natais,” Ibrahim Abdullah, comandante do NSCDC, no Estado de Borno, disse numa recente celebração do primeiro ano de serviço dos Fiscais Agrários. “Este ano pretendemos melhorar os nossos êxitos e fechar lacunas operacionais identificadas de modo a aumentar a nossa eficiência e eficácia.”
Para os agricultores, a presença dos Fiscais Agrários é sinónimo de que eles podem voltar a ganhar o seu pão através da colheita do arroz, feijão, gergelim, milho e outras culturas de rendimento.
“Eles ficam aqui para se certificarem de que todos estejam em segurança e só saem no fim do dia. É por isso que a maior parte das pessoas está a regressar para as suas machambas,” disse o agricultor Sodangi Mohammed à France 24. “Sem a protecção deles, é impossível cultivar.”