EQUIPA DA ADF
Meses depois de ter sido assinado um acordo de paz na Etiópia, os prisioneiros de guerra continuam a definhar atrás das grades. Alguns dos que foram libertos dos centros de detenção dizem que estavam a ser mantidos em condições miseráveis.
Uma nova reportagem da Al Jazeera descobriu que combatentes e civis tigreanos ainda continuam presos. A complicar as coisas está uma política adoptada perto do início da guerra, em que o governo etíope reuniu milhares de soldados da etnia tigreana que serviam na Força de Defesa Nacional da Etiópia e os deteve. Alguns ainda não foram encontrados.
“Não conseguimos recolher informações sobre questões como a detenção sem acusação e condições de prisão abaixo dos padrões de direitos humanos, como alimentação, higiene, acesso à família ou advogados,” Fisseha Tekle, conselheiro jurídico da Amnistia Internacional e residente em Nairobi, disse à Al Jazeera. “De forma geral, consideramos este aspecto da guerra no norte da Etiópia como um buraco negro de informação.”
Um dos centros de detenção que está a ser alvo de grande atenção é Awash Arba, uma prisão na região de Afar, no nordeste do país. Os prisioneiros que deixaram as instalações descrevem condições de superlotação e falta de higiene.
“Não havia tratamento médico, havia problemas de nutrição, o tratamento do centro era terrível, tínhamos até 900 pessoas numa sala e algumas pessoas perderam a vida,” disse um ex-prisioneiro de Awash Arba ao serviço em Tigrinha da Voz da América.
Um acordo de paz assinado em Novembro de 2022 em Pretória, na África do Sul, deveria pôr fim às hostilidades e iniciar o processo de reconciliação. A Frente Popular de Libertação de Tigré (TPLF, na sigla inglesa), o partido político que controlava os combatentes no norte, entregou a maior parte das suas armas. Na sequência do acordo, o governo etíope retirou a TPLF de uma lista de grupos terroristas, reestabeleceu o serviço de telecomunicações na região e pôs termo ao bloqueio das estradas.
No entanto, o destino dos combatentes e civis detidos continua a ser uma questão espinhosa. Uma reportagem da Associated Press estimou que 17.000 pessoas de etnia tigreana estavam nas forças armadas federais quando iniciou a guerra, e a maioria foi detida. Os familiares dos soldados também sofreram represálias.
“Os familiares dos detidos são, por vezes, despedidos dos seus empregos, expulsos dos alojamentos militares e sujeitos ao congelamento das suas contas bancárias,” noticiou a Associated Press em Abril de 2021.
Durante a guerra e desde o fim das hostilidades, ambas as partes libertaram prisioneiros. Em Abril de 2022, as forças tigreanas libertaram mais de 4.200 detidos do exército etíope. Em 2023, o governo federal libertou cerca de 1.500 prisioneiros tigreanos de uma instalação em Mierab Abaya e 2.000 prisioneiros em Gorbasa.
Mas os familiares dos desaparecidos e os grupos de defesa dos direitos humanos dizem que não conseguem obter respostas sobre as pessoas que ainda não foram encontradas.
Kjetil Tronvoll, professor de estudos sobre paz e conflitos na Universidade de Oslo e investigador sobre o Corno de África, tentou recolher dados e citou a “falta de transparência e de acesso à informação.”
“Sabemos que cerca de 16.000 soldados [etíopes] vindos de Tigré foram imediatamente detidos no início das hostilidades,” acrescentou Tronvoll. “Mas não se sabe quantas dezenas de milhares de tigreanos civis em Addis e em outras partes das regiões foram detidos ilegalmente. Quantos foram torturados e mortos na detenção também não é sabido.”