EQUIPA DA ADF
A ira contra o prejuízo causado pelas fábricas de farinha de peixe na Gâmbia tornou-se violenta, em Março, quando protestantes incendiaram uma esquadra da polícia, em Sanyang, e lançaram fogo contra a fábrica de processamento de farinha de peixe, Nessim Fishing and Fish Processing Co., de proprietários chineses.
Os protestantes estavam chateados com o assassinato de um homem de nacionalidade gambiana, Gibril Ceesay, que foi esfaqueado por um trabalhador da fábrica de processamento de peixe, disse à polícia. Os protestantes direccionaram a sua frustração para a fábrica, a qual culpam de poluir o meio ambiente e de atrair arrastões industriais estrangeiros para pescar de forma ilegal nas águas locais, onde as unidades populacionais de peixe se encontram em rápido declínio.
A polícia acusou 22 jovens de crimes relacionados com os incêndios.
“Sofremos o suficiente com as actividades da fábrica e agora procuramos pacificamente por intervenção internacional imediata,” Yusupha Jobe, presidente do Comité da Força-tarefa de Desenvolvimento dos Jovens de Sanyang, disse numa reportagem do jornal gambiano The Standard. “As nossas vidas e os nossos meios de subsistência estão sob ameaça e, sendo assim, os conflitos relacionados com os recursos naturais irão persistir.”
O protestante Edward Jatta disse ao jornal gambiano The Voice que os residentes locais exigiram o encerramento imediato de todas as fábricas de processamento de farinha de peixe “porque estas são a causa fundamental de todos os recentes problemas que estamos a enfrenar em Sanyang.”
As fábricas de processamento de farinha de peixe são um assunto delicado em toda a África Ocidental, onde mais de 50 destas fábricas operam na Gâmbia, na Guiné-Bissau, na Mauritânia e no Senegal.
Muitas zonas ao redor das fábricas ficaram tão poluídas que o turismo chegou a ficar paralisado. E a espécie que alimenta a produção das fábricas já foi alvo de pesca excessiva, provocando desemprego e insegurança alimentar. Uma fábrica da Gâmbia processa mais de 7.500 toneladas de peixe por ano, principalmente bonga, um tipo de sável. Cerca de 200.000 gambianos dependem da pesca e actividades relacionadas para a obtenção de renda.
Duas décadas atrás, o bonga era muito abundante que, às vezes, era gratuitamente oferecido às pessoas. O trabalhador do mercado de peixe, Abdul Sisai, disse ao jornal queniano, Daily Nation, que o custo da espécie, que foi alvo de pesca excessiva, agora está acima da capacidade de compra dos residentes locais. Metade da população gambiana vive abaixo da linha da pobreza e o peixe representa metade das necessidades de proteína animal do país.
Preocupações Ambientais
A maior parte da produção de farinha de peixe na Gâmbia é exportada para a China, onde o produto em pó é utilizado para alimentar porcos e camarões.
O governo encerrou temporariamente a fábrica Nessim, em Sanyang, em 2018, depois de as autoridades descobrirem que estava a operar sem uma estação de tratamento de águas negras e estava a descarregar as águas de esgoto directamente para o oceano, de acordo com um relatório da thefishsite.com.
Em 2019, os residentes de Gunjur processaram a Golden Lead, uma das três fábricas de propriedade chinesa, que opera na cidade, devido a preocupações ambientais.
Depois de a fábrica ter sido aberta, em 2016, os residentes dizem que baleias, tartarugas, golfinhos, enguias e raias mortas apareceram na costa. Um ano depois, uma lagoa próxima mudou de cor e os pássaros e os peixes que lá existiam começaram a morrer, causando o desaparecimento de turistas. A Agência Nacional do Meio Ambiente da Gâmbia ordenou que o tubo de esgotos da fábrica fosse retirado, mas a fábrica mais tarde instalou um novo tubo no centro da Praia de Gunjur, noticiou a Quartz Africa.
A fábrica tinha prometido bons empregos e fez promoção de si própria como um benefício para a economia local. Os residentes dizem que isso não aconteceu.
Vidas Destruídas
Nas instalações da Golden Lead, apenas cerca de uma dezena de homens trabalha num piso por um determinado período. Eles correm da costa para as instalações, com cestos na cabeça, transportando o bonga e a sardinha. Dawda Jack Jabang observou os trabalhadores recentemente quando estes trabalhavam debaixo do sol.
“Este não é o emprego que queremos,” disse Jabang, num artigo que foi publicado pelo jornal queniano Daily Nation.
Jabang, de 57 anos de idade, é proprietário do Treehouse Lodge, um hotel e um restaurante abandonados, disse ele, por causa do odor nocivo que, por vezes, paira vindo da fábrica, fazendo com que os clientes dos restaurantes deixem as suas refeições sem as comer.
“Passei dois bons anos a trabalhar naquele lugar,” disse Jabang ao jornal. “E de um dia para o outro, a Golden Lead destruiu a minha vida.”