EQUIPA DA ADF
Uma nova investigação revela que a situação de segurança do Burquina Faso piorou drasticamente, um ano após o primeiro dos seus dois golpes militares.
Desde os golpes de Estado que levaram o Capitão Ibrahim Traoré ao poder, em Outubro de 2022, as mortes causadas pelo terrorismo no Burquina Faso triplicaram, de acordo com uma análise do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).
“Esta violência, aliada à expansão geográfica das actividades extremistas em torno de Ouagadougou, coloca o Burquina Faso, mais do que nunca, à beira do colapso,” escreveram os analistas do ACSS num relatório.
A promessa de Traoré de controlar os extremistas em dois ou três meses estendeu-se para um ano durante o qual a junta perdeu efectivamente o controlo sobre o norte e o leste do país, segundo os analistas.
A junta de Traoré adiou as eleições prometidas para 2024. No final de Setembro, a junta anunciou que tinha reprimido uma nova tentativa de golpe de Estado contra o seu governo.
“É preciso reconhecer que o problema que justificou a aparição do Capitão Traoré na cena política nacional está longe de estar resolvido,” escrevem os editores do L’Observateur Paalga, um jornal privado burquinabê, no aniversário do segundo golpe de Estado.
Grupos terroristas, como o Katibat Hanifa, uma ramificação do Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin, sediado no Mali, controlam actualmente cerca de 7.000 quilómetros quadrados de território num arco que segue as fronteiras do Burquina Faso com o Mali e o Níger, a norte, e depois para sudeste, até às fronteiras com o Benim e o Togo. O território dos terroristas aumentou quase 50% desde os golpes de Estado de 2022, segundo o ACSS.
O terrorismo começou a aumentar depois de a junta, no final de 2022, ter alistado cerca de 90.000 pessoas nas milícias dos Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP). Mal equipadas e mal treinadas, as milícias foram rapidamente responsabilizadas pela morte de pelo menos 80 civis — a maioria de etnia Fulani — em resposta a um ataque extremista contra a polícia na comunidade de Nouna.
Em Abril de 2023, o Colectivo Contra a Impunidade e o Estigma Comunitário (CISC) denunciou que homens vestidos com uniformes do exército burquinabê mataram 136 pessoas na comunidade de Karma, no norte do país. Entre os mortos, havia mulheres e crianças, segundo o CISC.
Milícias voluntárias e soldados uniformizados estiveram envolvidos em mais de 760 mortes de civis, incluindo um número crescente de execuções, desde o início de 2022, de acordo com o ACSS. Essas mortes, por sua vez, ajudaram os extremistas, que as utilizam como justificação para novos ataques.
De acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED), é provável que o Burquina Faso registe quase 9.000 mortes ligadas a organizações terroristas em 2023 — mais do que o dobro do número registado em 2022. A violência contra civis seguiu a mesma trajectória durante esse período.
O aumento da violência relacionada com o terrorismo no Burquina Faso ajudou a fazer com que o Sahel fosse a região do mundo mais afectada pelo terrorismo, de acordo com o Índice Global de Terrorismo 2023, do Instituto para Economia e Paz. O Burquina Faso ocupa o segundo lugar, a seguir ao Afeganistão, em termos de actos de terrorismo.
A violência que inundou quase metade do Burquina Faso cercou lentamente o planalto central onde se situa a capital, Ouagadougou.
Embora a região central tenha evitado o derramamento de sangue que se verificou noutros locais, os terroristas estão a reivindicar território que inclui rotas de trânsito cruciais a partir dos portos do Benim, Costa do Marfim e Togo, bloqueando potencialmente o abastecimento de alimentos e outros bens em grande parte do país sem acesso ao mar, de acordo com o ACSS.
“Um bloqueio prolongado de Ouagadugu teria efeitos devastadores para todo o país,” escrevem os analistas do ACSS.