EQUIPA DA ADF
A população jovem de África pode ser uma fonte de instabilidade ou um trampolim para a prosperidade. Especialistas afirmam ser responsabilidade dos líderes políticos e de segurança do continente potencializar esta explosão juvenil para criar um futuro melhor.
“Temos de perguntar a nós mesmos, ‘Será que África pode tirar maior proveito das oportunidades que lhe são apresentadas?’ Ou será que os jovens africanos constituem uma bomba-relógio demográfica prestes a explodir?,” disse o Dr. Joel Amegboh, professor assistente do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), que investiga a “paz e segurança dos jovens.”
O termo “explosão juvenil” refere-se a um padrão demográfico em que uma grande esfera da população é composta por crianças e jovens. Também inclui os elevados números de jovens desempregados.
África tem uma idade mediana de 19,7 anos, a população mais jovem do mundo. Até 2050, um em cada três jovens estará a viver na África Subsariana. Contudo, existe uma discrepância entre esta população jovem e as oportunidades disponíveis. Anualmente, cerca de 10 a 12 milhões de pessoas entram para o mercado de trabalho, enquanto apenas cerca de 3 milhões de empregos formais são criados.
Como é natural, isso pode ter consequências para a segurança. De acordo com o Banco Mundial, 40% da população que se junta aos movimentos rebeldes são motivados pelo desemprego.
Amegboh acredita que estes mesmos jovens podem ser uma força para o bem se lhes forem dadas as ferramentas certas. “Será que a energia dos jovens africanos pode ser preparada para impulsionar o crescimento económico e tirar a região da pobreza? Agora o continente africano encontra-se numa encruzilhada,” disse Amegboh.
Um país que procura responder a estas perguntas difíceis é a Nigéria. Quando adoptou o seu Plano Nacional de Acção para a Juventude, Paz e Segurança, no dia 1 de Novembro de 2021, tornou-se apenas o segundo país, depois da Finlândia, a ratificar a resolução das Nações Unidas para os desafios que os jovens enfrentam.
A resolução de 2015, do Conselho de Segurança da ONU para a Juventude, Paz e Segurança, reconhece que “os jovens desempenham um papel importante e positivo na manutenção e promoção da paz e segurança internacionais.”
A ONU identificou cinco pilares principais para a tomada de medidas: participação, protecção, prevenção, parcerias e desmobilização e reintegração. A resolução apela os Estados-membros a oferecerem aos jovens uma maior voz na tomada de decisões a níveis local, nacional, regional e internacional e para terem em conta a criação de mecanismos que os possibilitem participar significativamente nos processos de paz.
Um relatório do ACSS de 2021 observou que 16 países africanos estão envolvidos em grandes conflitos armados, enquanto outros enfrentam instabilidade política e várias formas de violência, incluindo o terrorismo.
Durante um webinário do dia 11 de Agosto, do ACSS, intitulado “Tendências: Explosões Juvenis, Segurança e Paz em África,” os oradores disseram que é um erro assumir que os jovens e os desempregados de África são os responsáveis pela violência que consome uma boa parte do continente.
O Dr. Olawale Ismail, professor do Kings College, em Londres, disse que os jovens africanos são as maiores vítimas da violência e os maiores promotores da paz. “Eles não são violentos, por isso, temos de parar de criar estereótipos contra eles,” disse. “Eles estão a mudar a África de formas menos violentas.”
Nas últimas duas décadas, disse Ismail, jovens participaram em protestos em massa a favor de eleições justas e direitos humanos, “assumindo a responsabilidade das mudanças da sociedade.”
Uma preocupação em particular é o número crescente da população jovem entre os refugiados e pessoas deslocadas de África. A ONU reportou que mais de 31 milhões de africanos vivem fora do seu país de nascimento, estando a maioria algures no continente. Muitos milhões de outras pessoas estão deslocadas internamente, o que significa que tiveram de fugir das suas residências enquanto permanecem nos seus países.
“Entre os números de imigrantes que se encontram em movimento em África, a maior parte são jovens,” concluiu a ONU num relatório de 2021.
As autoridades apelaram a União Africana a fazer mais para ajudar a dar uma voz aos jovens africanos. A UA já desenvolveu várias políticas de desenvolvimento para jovens, incluindo a Carta Africana da Juventude, o Plano de Acção Decenal da Juventude e a Decisão de Malabo sobre o Empoderamento da Juventude.
A Carta Africana da Juventude protege os jovens da discriminação e garante liberdade de movimento, expressão, associação, religião, posse de propriedades e outros direitos humanos, enquanto se compromete a promover a participação dos jovens na sociedade.
O Plano de Acção Decenal da Juventude centra-se na educação e no desenvolvimento de habilidades, emprego e empreendedorismo, governação e segurança, agricultura e mudanças climáticas e ainda saúde e direitos de saúde reprodutiva.
“A juventude africana da actualidade não é como qualquer outra geração anterior,” disse um membro da plateia, durante o webinário do ACSS. “Eles estão a promover o princípio de paz silenciosamente, através das redes sociais digitais, seguindo as normas e utilizando as suas energias criativas.”